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Gentilezas

Uma famosa frase de para-choque de caminhão tem se tornado muito popular no Brasil: “gentileza gera gentileza”. Mas é muito comum ver pessoas estupidas, em cargos de gerência, sendo tratadas gentilmente pelos seus subordinados.

Uma famosa frase de para-choque de caminhão tem se tornado muito popular no Brasil: “gentileza gera gentileza”. Essa máxima, apesar de bonita, não tem respaldo ético ou empírico. Toda semana eu vejo pessoas muito gentis sendo atormentados por pessoas brutas, e também vejo pessoas estupidas, em cargos de gerência, sendo tratadas gentilmente pelos seus subordinados coagidos.

A palavra gentileza tem origem no latim, gentilis, que significa pertencer a um clã, tribo ou família. Remete a um tipo de conduta de boa convivência com os mais próximos. Com o tempo, os padrões gentis de respeito foram estendidos para todo o convívio social. Em latim também se evidencia que o comportamento gentil vem de berço, é ensinado e polido nas relações parentais. Os grossos e estúpidos tiveram uma má educação familiar. Porém, isso não justifica esse tipo de comportamento.

A gentileza é uma pequena virtude, classificada pelos gregos como etiqueta (pequena ética). Por que pequena? Ela é uma boa virtude para vivermos harmonicamente em sociedade, mas seu pleno exercício não está relacionado com uma orientação moral plena. Os membros do partido nazista e da Klu Klux Klan eram reconhecidos publicamente pela gentileza. A psicologia forense estadunidense afirma que os dez sociopatas mais perigosos do século XX eram socialmente classificados como gentlemans.

Ser gentil não nos faz moralmente virtuosos, mas revela nossa preocupação em reconhecer o outro e tratá-lo com respeito. A gentileza é o vestíbulo da ética. Um exercício cotidiano de cidadania. Um lapidar da própria ignorância e brutalidade. Sem ela, fica difícil a convivência.

Arthur Meucci possui bacharelado, licenciatura e mestrado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, Doutorado em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie, com especialização em Diálogos entre Filosofia, Cinema e Humanidades pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e formação em Psicanálise pelo Instituto Brasileiro de Ciência e Psicanálise. Trabalhou por dez anos com ensino e consultoria na empresa Espaço Ética e escreveu em coautoria livros best-sellers como A vida que vale a pena ser vivida (Ed. Vozes), O Executivo e o Martelo (Ed. HSM) e a coleção Miniensaios de Filosofia (Vozes). Atualmente é Professor Adjunto da Universidade Federal de Viçosa.
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