Gestão de Pessoas na Área da Saúde
Na semana passada, a convite, falei sobre Gestão de Pessoas na Área da Saúde para os alunos da 10ª fase do curso de Medicina. Acredito que o professor tenha me convidado por conta da minha experiência de mais de uma década atuando na gestão de serviços médicos e do meu trabalho com o Eneagrama.
Por óbvio eu poderia falar sobre como o Eneagrama é uma ferramenta poderosa para a Gestão de Pessoas e também um framework para o desenvolvimento pessoal. Mas no momento em que recebi o convite, senti que o propósito era maior que esse.
Minha intenção, ao falar para estes futuros médicos, que trabalham diariamente em prol da continuidade da vida, era ampliar o olhar, instigando alguns questionamentos para que pudessem iniciar um processo de observação e questionamento de determinadas “verdades”.
Quando se fala em Gestão de Pessoas, logo imaginamos que o profissional chegará com uma caixinha com várias ferramentas, técnicas e estratégias para resolução de conflitos, aumentar o engajamento ou despertar a automotivação.
Mas se fosse assim, seria como tratar a hipertensão sem investigar a causa.
Acreditar que é assim que se faz Gestão de Pessoas, é começar o livro pela página 85.
No meu entendimento para gerir pessoas, em primeiro lugar, precisamos gerir a nós mesmos. É preciso gerir nossos próprios sentimentos e emoções.
Não há como fazer uma Gestão de Pessoas adequada, sem fazer uma anamnese cuidadosa. Precisamos entender de qual cenário essa pessoa vem. Que persona ela usa nas suas relações, que estratégias ela usa para se relacionar com os outros e com o mundo e para salvar a si mesma.
Somando a isso, outro ponto a considerar é o entendimento do tempo em que estamos vivendo. Na verdade, quando nos referimos ao tempo em que vivemos e dizemos “hoje” … Este ainda é um conceito abstrato, mas abrange experiências que são comuns a todos.
Há cerca de cinco mil anos atrás, o patriarcado, como sistema de vida coletiva, se instalou em quase todo o mundo. É muito difícil para nós nos imaginarmos fora deste sistema de vida, portanto, quase tudo que “vemos”, olhamos pelas lentes da lógica do patriarcado.
A cultura patriarcal ocidental a que pertencemos assume um sistema de dominação que a regula pelo poder de uns sobre os outros. Ouvimos muito falar sobre a dominação do homem sobre a mulher, bandeira hasteada pelas feministas. Mas pior que isso é a dominação do adulto sobre a criança. E é isso que faz perpetuar esse sistema.
Para impor certo poder uns sobre os outros, a guerra é necessária, pois logicamente o lugar do dominador é mais confortável do que o lugar do dominado. Os resultados das guerras definem os vencedores e os perdedores, ou seja, definem quem vai assumir o lugar de poder. Até ser derrotado. Porque todo lugar de poder carrega o perigo de ser destituído, pela própria lógica de uma ondulação de mudança. Portanto, a luta para manter um lugar de privilégio ou a luta para obter esse lugar de privilégio será permanente.
Temos então, como espinha dorsal, a guerra. Por meio dessas lutas é possível assumir autoridade, hierarquia ou poder. O valor da autoridade, entendida como o território onde quem exerce o poder aproveita as vantagens a seu favor em detrimento dos outros, atravessa-nos mais do que pensamos.
De fato, costumamos dizer que a vida é uma luta. Lutamos contra a pobreza, lutamos contra a ignorância, contra a doença, contra a fome e até lutamos contra a natureza, acreditando que precisamos dominá-la.
Mesmo as relações humanas se organizam em torno do poder e da razão, da evidência científica… a ponto de convencer de que este é o jeito “natural” das coisas. Se estamos sempre pendentes de tirar do outro qualquer coisa, para nos apropriarmos disso, esta atitude implica que alteridade, humildade, humanidade e respeito não são – dentro do patriarcado – valores ou práticas comuns.
Essas habilidades são mais importantes na Gestão de Pessoas (em qualquer área!), do que qualquer ferramenta, método ou framework. Gerir pessoas não é ter acesso a uma caixa de truques. É, antes de mais nada, SER humano. E ser capaz de acessar essa humanidade em você, para, a partir desse espaço sensível, poder vincular-se ao outro e colocar a necessidade dele como prioridade. Isso é liderar. Isso é amar. E o amor está no centro de tudo o que há.
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Liz Cunha
https://www.lizcunha.com.br/
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