Na sua vida, você prefere escalar pirâmide ou viajar de veleiro?
Uma nova abordagem sobre a Hierarquia das Necessidades Humanas.
Este é um espaço para especular e depois esmiuçar estudos que tratam de assuntos presentes em nosso cotidiano de vida e, por certo, no dia a dia das empresas. E se há um conceito presente há décadas é o que ficou conhecido como “a pirâmide das necessidades humanas”, conforme ideia proposta por Abraham Maslow. A premissa central é a de que cada ser humano se esforça para satisfazer suas necessidades pessoais e profissionais, seguindo uma hierarquia em que as necessidades consideradas de nível mais baixo devem ser satisfeitas antes das necessidades de nível mais alto.
E eu já lanço uma provocação: essa teoria está defasada em tempos de mundo VUCA, Revolução 4.0 e uma sociedade com incríveis mudanças de paradigmas?
Em 1943, Maslow teve seu principal trabalho publicado na revista Psychological Review, com o título “A Theory of Human Motivation” (Teoria da Motivação Humana, em tradução livre). Desde então, diferentes cursos, treinamentos, postagens e programas motivacionais exploram esses conceitos como ainda válidos e são, ainda, insistentemente adotados em programas de coaching, mentoria e terapia. Na temática do marketing e das vendas, há uma corrente que defende a adoção da proposta de Maslow para melhor entender o comportamento do cliente e/ou consumidor.
A seguir, para efeito de ilustração, está reproduzida uma entre as centenas de exemplos existentes na internet. A escolha (www.jovemadministrador.com.br) orientou-se por uma ilustração que conseguiu conjugar o conceito de Maslow, sua influência na perspectiva do trabalho e na perspectiva fora do trabalho, o que não invalida e nem diminui qualquer outro exemplo acessível na internet.
Pirâmide das Necessidades de Maslow
Como podemos constatar, resumidamente, a hierarquia de necessidades começa pela mais básica (FISIOLÓGICA) e continua pela SEGURANÇA, SOCIAL, ESTIMA e chega à mais alta, que é a de AUTOREALIZAÇÃO. Para cada um dos níveis a ilustração especifica algumas das necessidades correlacionadas. Recomendo que cada leitor faça uma rápida avaliação segundo seu caso particular, apenas para efeito de se familiarizar com o tema. Aliás, meu amigo e também colaborador da plataforma Cloud Coaching, Iússef Zaiden Filho, escreveu artigo interessante sobre a hierarquia das necessidades humanas e recomendo a leitura (clique aqui para acessar). Ali ele compara a teoria de Maslow às teorias outros estudiosos.
Voltando à nossa prometida polêmica, o psicólogo americano Scott Barry Kaufman lançou o livro Transcend: The New Science of Self-Actualization, em 2020. Resumidamente, ele tem por objetivo apresentar uma nova hierarquia de necessidades humanas para o século XXI, o que se mostra grande desafio. Pesquisador e acadêmico experiente, lecionando nas universidades de Columbia, de Nova York e na da Pensilvânia, Kaufman publicou vários trabalhos sobre criatividade, inteligência e potencial humano. A questão que fica é qual a contribuição de seu livro para as teorias sobre necessidades humanas.
Entre os assuntos tratados no livro, uma afirmação é muito provocante. Kaufman garante que a “pirâmide das necessidades humanas de Maslow” não é de fato “de Maslow”. E cita fontes que provariam a pirâmide ter se popularizado devido a um consultor de gestão que a criou para fins comerciais, pois Maslow nunca desenhou uma ilustração para representar suas ideias. Kaufman argumenta que a representação gráfica da hierarquia de necessidades é uma interpretação grosseira da teoria e da visão geral de Maslow.
Resumindo os comentários de alguns estudiosos e acadêmicos, que abordaram a obra de Kaufman, para este a pirâmide das necessidades humanas (aquela identificada como de Maslow) deixa de representar o aspecto do crescimento humano e cria a falsa impressão de que a vida é apenas um constante escalar níveis, como se fosse um jogo de videogame. Kaufman não nega que haja certa hierarquia nas necessidades humanas, mas quando uma em particular é satisfeita ela não desaparece, mas deve ser harmoniosamente integrada no processo de crescimento posterior.
Além disso, a regressão às necessidades mais baixas é sempre possível, e até obrigatória. Isso porque o desenvolvimento humano não é um movimento ascendente constante e de sentido único. Por outro lado, os humanos são capazes de crescer mesmo suportando privações, e não apenas pela gratificação harmoniosa de cada necessidade na ordem “correta”, conforme a pirâmide das necessidades humanas de Maslow aponta. E para não ficar apenas na crítica à pirâmide das necessidades humanas de Maslow, em seu livro Kaufmann propõe nova metáfora, argumentando ser uma substituta mais adequada para a antiga.
Para resumir a metáfora criada por Kaufman, esta postagem passa a se apropriar de um conteúdo da plataforma www.sloww.co, iniciativa de relacionamentos criada por um ex-executivo americano, a qual se propõe ser referência (sentido filosófico) para a “síntese da sabedoria do mundo sobre a arte de viver para estudantes da vida”. No site há um resumo bem estratificado do livro de Kaufman e o leitor pode acessar clicando aqui (texto em inglês). E agora, vamos voltar a entender o que propõe essa metáfora de Kaufman.
Em seu livro, o autor afirma:
“Eu apresentarei nova hierarquia das necessidades humanas para o século XXI, alinhada com o espírito da psicologia humanista, mas também fundamentada na ciência mais recente da personalidade, autorrealização, desenvolvimento humano e bem-estar. Acredito que a nova hierarquia de necessidades pode servir como estrutura organizadora útil para o campo da psicologia, bem como um guia útil para a própria jornada pessoal de saúde, crescimento e transcendência”.
A metáfora criada por Kaufman é a de um veleiro.
Veja a ilustração acima para melhor conhecer o ponto de vista do autor, sendo que foi mantida a terminologia original para maior fidelidade e entendimento. Sobre a metáfora, o autor cita que:
“Para usar a metáfora do veleiro, enquanto cada um de nós viaja em sua própria direção, estamos todos navegando no vasto desconhecido do mar.”
Observe que uma pessoa não escala o veleiro como escalaria uma montanha ou uma pirâmide. Em vez disso, ela abre sua vela, assim como baixa as defesas, quando se sente segura o suficiente. Esta é uma dinâmica contínua: uma pessoa pode estar aberta e espontânea em um minuto, mas pode se sentir ameaçada e, então, preparar-se para enfrentar a tempestade, fechando-se para o mundo no minuto seguinte. Passado o risco, quanto mais ela se abrir continuamente para o mundo, mais longe seu barco irá. E mais poderá se beneficiar das pessoas e das oportunidades ao seu redor.
E se essa pessoa tiver sorte, pode até entrar em momentos de êxtase com experiência máxima – onde está realmente pegando o vento “a favor”. Nesses momentos, a pessoa não apenas esqueceu temporariamente suas inseguranças, mas está crescendo tanto que está ajudando a aumentar a maré de todos os outros veleiros, simplesmente abrindo caminho pelo oceano. Dessa forma, o veleiro não é um pináculo. Mas um veículo completo, ajudando-nos a explorar o mundo. E as pessoas ao nosso redor, crescendo e transcendendo à medida que viajamos.
O barco (necessidades de segurança)
À medida que navegamos pela aventura da vida, raramente a navegação é tranquila. E embora segurança seja essencial, adicionar fortes conexões com os outros e sentimentos de respeito e dignidade, com autoestima, tudo isso ajudará a enfrentarmos tempestades.
A Vela (necessidades de Crescimento)
Ter veleiro seguro não é suficiente para o movimento real, pois também é preciso ter a vela. Sem ela, podemos estar protegidos da água, mas a estrutura não vai a lugar algum. Cada nível da vela permite capturar mais vento e representa o crescimento. Embora o crescimento esteja no centro da autorrealização, Kaufman o dividiu em três necessidades específicas. Para as quais há forte apoio científico contemporâneo: exploração, amor e propósito. Na base do crescimento está o espírito de exploração, o impulso biológico fundamental que todo crescimento precisa ter. As outras necessidades que compreendem o crescimento – amor e propósito – voltam-se a alcançarmos níveis mais altos de integração dentro de nós mesmos, contribuindo com algo significativo para o mundo.
A Ave Marinha (Transcendência)
Com base em segurança, conexão e autoestima saudável, bem como motivada pela exploração e pelo amor, cada pessoa estará pronta para lutar por um propósito mais elevado, que beneficie simultaneamente a si mesma e ao mundo. Da perspectiva dos estudos existentes, cada um de nós é capaz de olhar para todas as necessidades humanas – com amor e sem julgamento – do ponto de vista mais alto possível, vendo-as não como separadas umas das outras, mas como integradas e harmoniosas. Funciona como o ponto de observação de uma ave marinha, livre para voar acima ou mergulhar na paisagem da experiência humana, visualizando-a de qualquer ângulo. Daí então nasce a “transcendência”, que vai além do crescimento individual (e mesmo da saúde e felicidade) e permite os mais altos níveis de unidade e harmonia dentro de si e com o mundo.
Finalmente: Onde você vai navegar?
Os textos pesquisados mostram que a “boa vida” não é algo que alguém jamais alcançará. É uma forma de viver. A boa vida é um processo, não um estado de ser. É uma direção, não um destino. Esse processo nem sempre traz sentimentos de felicidade, contentamento e bem-aventurança, pois às vezes causa dor e mágoa. A “boa vida” exige que a pessoa se estique continuamente para fora de sua zona de conforto, à medida que perceba suas reais potencialidades. Então, a pessoa deve abrir a vela de seu veleiro e analisar para onde os ventos vão levá-la, com a coragem de se tornar uma melhor versão de si mesmo.
No site da Amazon, um dos locais onde o livro de Kaufman está à venda, a sinopse afirma que Kaufman continua de onde Maslow parou, desvendando os mistérios de uma teoria inacabada. Integrando-os com as mais recentes pesquisas sobre apego, conexão, criatividade, amor, propósito e outros aspectos na construção da vida bem vivida. Nessa busca, Kaufman não vê o ser humano lutando por dinheiro, sucesso ou felicidade. Mas tornando-se a melhor versão de si mesmo, ou o que Maslow chamou de autorrealização.
Esta postagem é resultado de uma compilação de várias fontes (todas citadas). E acima apresentamos a proposta de Kaufman e suas justificativas para a metáfora do veleiro. No entanto, como tudo na vida, há controvérsias e boas críticas de outros acadêmicos e estudiosos. Desde ser ou não válida a motivação por nova teoria das necessidades humanas até aspectos vinculados à metáfora do veleiro. Não é nosso objetivo explorar esses contrapontos, mas sugerir que cada leitor tenha a sua própria conclusão. Na sua vida, você prefere escalar pirâmide ou viajar de veleiro? Eu sou Mario Divo e você me encontra pelo site www.mariodivo.com.br.
Gostou do artigo?
Quer saber mais sobre a pirâmide das necessidades humanas de Maslow, a metáfora do Veleiro de Kaufman ou outros estudos e pesquisas? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em conversar a respeito.
Até o mês que vem!
Mario Divo
https://www.mariodivo.com.br
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