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Ignorância é uma benção?!

Por que não saber e(ou) não viver os problemas de convívio e expectativas humanas é tão prazeroso ao ponto de se comparar com uma benção?

Como primeiro texto do ano não posso deixar de dizer algo sobre as férias de uma universitária. Não quero que isso seja um texto nos moldes daquelas redações escolares onde a professora pedia para que contasse como foram as férias. O que quero é discorrer brevemente sobre uma reflexão que só se pode ter ou ser iniciada enquanto universitário de férias.

Tenho certeza que você já ouviu essa frase em tom de afirmação e até mesmo de lamentação por seus avós ou pais. Porém você já pensou porque eles dizem isso? Essa ignorância a que se referem é o desconhecimento das dificuldades do mundo. Dificuldades e angústias como as quais os donos de negócios, funcionários de empresa, cientistas políticos, filósofos e tantos outros profissionais e estudiosos que lidam diretamente com pessoas e/ou estudam sobre o futuro incerto e decepções certeiras da humanidade, lidam.

Primeiro devemos nos questionar porque não saber e/ou não viver os problemas de convívio e expectativas humanas é tão prazeroso ao ponto de se comparar com uma benção. Uma resposta possível é que, caso não se tenha essas ciências, seriam menos os problemas para se preocupar, gastar tempo e energia resolvendo-os ou ao menos lidando com os mesmos de um modo mais confortável. Porém eu não concordo com esta afirmação.

Não acho que a ignorância seja uma benção, muito menos que seja prazeroso não ter consciência ou vivência dessas pequenas grandes dificuldades. Creio que a ignorância doa tanto quanto lidar com os problemas e com a própria sociedade. Isso ocorre, pois, a pessoa ignorante pode não saber sobre as angústias filosofais da vida como o que é verdade ou felicidade; pode não viver situações delicadas em relação ao convívio humano e sociedades.

Porém, o ignorante tem plena consciência do seu potencial racional, potencial de conhecer muito por todos os campos de ciências e pesquisas, isso por ser um ser humano em plenas condições mentais, cuja uma das características identificadoras é a própria e mesma Razão, exposta neste argumento. Ou seja, ignorância não é uma benção pois com ela vem a dor de saber e sentir o potencial racional em seu íntimo e por algum motivo, idade, condição socioeconômica, não poder exercer e desenvolver o mesmo. A dor vem de não poder ser inteiramente humano, não viver todas as suas faculdades, potenciais e características em plenitude e, com isso, ficar sempre com um vazio existencial causado pela falta de uma capacidade plenamente exercida, a capacidade de conhecer, questionar e pensar criticamente, a Razão.

Beatriz Alves Ensinas é Estudante de Direito na PUC-SP, estagiando na área e em São Caetano do Sul, São Paulo. Depois de três anos contribuindo na coluna “De adolescente para adolescente”, iniciada por ela e depois tendo a parceria de Bruno Sales, a partir de agora ela é responsável pela coluna “De Universitário para Universitário”.
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