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Inclusão ou Sucesso a Qualquer Preço? O Paradoxo nas Empresas

Descubra como as empresas enfrentam o dilema entre valorizar a inclusão ou manter o sucesso a qualquer custo. Entenda as contradições e por que a idolatria a líderes polêmicos persiste, mesmo em um contexto que pede mais ética e respeito.

Inclusão ou Sucesso a Qualquer Preço? O Paradoxo nas Empresas

Inclusão ou Sucesso a Qualquer Preço? O Paradoxo nas Empresas

Se você perguntar para profissionais do mundo corporativo se eles são a favor das mudanças no meio, com o objetivo de deixar para trás conceitos machistas, racistas ou misóginos, com certeza a grande maioria vai responder que sim, que eles querem essas mudanças.

Mas existe uma grande chance de uma maioria dessa maioria ter apoiado a eleição de alguém, digamos, como Tallis Gomes, como o empreendedor mais inovador do mundo em 2017.

Como resolvemos esse paradoxo nas empresas?

Antes, uma explicação para quem não acompanhou as últimas notícias: Tallis Gomes é um bilionário que fez fortuna antes dos 30 anos. Uma de suas criações, o Easy Taxi, foi vendida para a Cabify em 2019 e outra, a Singu, uma plataforma de serviços de beleza, foi comprada pela Natura. Cinco anos atrás, ele criou a G4 Educação, por onde já passaram mais de 30 mil alunos. E como a métrica atual de realização passa pelas redes sociais, ele tem (enquanto escrevo) 808 mil seguidores no Instagram.

Um perfil de sucesso que rendeu títulos e posições em conselhos de empresa e o tornou um modelo para diversas pessoas. E por que isso é um problema?

Aí é onde entram as posições dele em relação a alguns temas. Ele é totalmente contra o modelo de home office, mesmo híbrido, o que é um direito dele, obviamente. A Amazon acaba de anunciar a volta aos escritórios, cinco dias por semana, medida que Tallis Gomes comemorou.

O problema aparece quando cruzamos esse posicionamento com declarações polêmicas do passado, como quando ele disse que considera uma carga horária de trabalho ideal algo como 70 horas semanais, que é o que ele parece esperar de seus colaboradores.

Ele também viralizou ao comparar a esquerda com o nazismo e fazer a seguinte declaração em um podcast: “Eu não contrato esquerdista, isso é a base da nossa cultura. Esquerdista é mimizento (sic), não trabalha duro e fica com essa coisa de que o mundo deve alguma coisa para ele.” E, na semana passada, virou notícia com a frase “Deus me livre de mulher CEO”.

Ok, precisamos reconhecer que vivemos em um mundo onde essas declarações têm reações imediatas. Por exemplo, sobre o fato de que ele considera aceitável uma jornada de trabalho de 70 horas semanais, o Ministério Público do Trabalho (MPT) determinou a instauração de inquérito para investigar possíveis irregularidades trabalhistas na G4 Educação.

Sobre a declaração sobre mulheres CEOs, a repercussão foi enorme e imediata: ele se desculpou pela declaração e se afastou da direção executiva da G4, dando lugar a Maria Isabel Antonini, que assumiu a posição; a Hope anunciou a sua saída do Conselho da empresa; e o Instituto Caldeira, um hub de inovação formado por mais de 40 empresas, como Renner, Gerdau e Grupo RBS, cancelou a palestra que ele realizaria.

Parece bom e, de fato, é. Mudamos alguma coisa. Mas o quanto e qual a profundidade dessas mudanças?

Existe a cobrança por um ambiente corporativo mais inclusivo e livre de preconceitos, mas ao mesmo tempo, a idolatria de líderes que perpetuam visões como as de Tallis Gomes ainda continua. Afinal, são 808 mil seguidores…

Uma cultura corporativa tóxica, que valoriza a produtividade a qualquer custo, mesmo levando a um ambiente em que a saúde mental dos colaboradores é negligenciada, ainda é vista não só como viável, mas também desejável por uma porcentagem enorme de profissionais.

A fala e o posicionamento de Tallis não são fatos isolados. Esse dilema se aprofunda quando observamos que muitos que apoiam mudanças positivas no ambiente corporativo, em essência, ainda reverenciam um Elon Musk, por exemplo.

Isso nos leva a questionar: o que realmente importa para a cultura de uma empresa? O sucesso financeiro ou a ética e a inclusão? É possível tolerar lideranças e figuras públicas que apresentam posicionamentos prejudiciais e incompatíveis com esses ideais?

Essas dicotomias revelam a necessidade de uma reflexão mais aprofundada sobre quais valores estamos dispostos a aceitar em troca de reconhecimento e status. As vozes em favor de um ambiente inclusivo precisam se unir não apenas em palavras, mas também em ações. Rejeitar figuras que perpetuam visões ultrapassadas e que, em última análise, contradizem os princípios de igualdade e respeito que deveriam ser, sem dúvida, defendidos no mundo corporativo.

Precisamos lembrar que quando falamos das atuais maiores empresas do mundo, que empregam milhões de pessoas e influenciam outras tantas, elas são geridas por líderes com perfis que enfatizam o sucesso a qualquer preço. As acusações contra eles se acumulam, assim como os bilhões em suas contas. Esse último dado atenua o primeiro, por isso, os escândalos acontecem, alguma punição (ou não) é dada ao responsável e tudo continua igual.

Eu acredito que não deveria ser assim. E mais, acredito que não precisa ser assim. Acredito que é possível ter sucesso fazendo diferente, oferecendo um ambiente mais humano, o que pode refletir em produtividade para os empresários e competitividade para as empresas.

Tallis Gomes não concordaria comigo, mas acho que não basta apenas endossar os discursos da moda, pois é preciso ter coerência entre o que se diz e o que se faz na prática. Será que a Amazon, a Meta ou a Tesla teriam o mesmo sucesso se fossem, de fato, geridas por líderes realmente comprometidos com mudanças reais de paradigmas? Eu acredito que sim. Acho até que o sucesso seria maior, retirando da equação todas as ações trabalhistas e os problemas com a saúde mental de seus colaboradores.

Será que, em algum momento, vamos ter essa virada de chave?

Será que ainda veremos essas mudanças acontecerem?

Eu espero que sim.

Gostou do artigo?

Quer discutir mais sobre esse paradoxo nas empresas e a relação entre liderança tóxica, inclusão e o sucesso a qualquer preço? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.

Marco Ornellas
https://www.ornellas.com.br/

Confira também: Os Crimes da Cultura de Resultado: Vale Tudo pelo Sucesso?

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Marco Ornellas é Psicólogo, Master of Science in Behavior pela California American University e Mestre em Biologia-Cultural pela Universidad Mayor do Chile e Escuela Matrizstica. Pós em Neurociência e o Futuro Sustentado de Pessoas e Organizações.Consultor, Coach, Designer Organizacional, Palestrante e Facilitador de Grupos e Workshops em temas como Liderança, Complexidade, Gestão, Desenvolvimento de Equipes, Inovação e Consultor em Design da Cultura Organizacional.Autor dos Livros: DesigneRHs para um Novo Mundo, Uma nova (des)ordem organizacional e Ensaios por uma Organização Consciente.CEO da Ornellas Consulting e Ornellas Academy.
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