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Mediação Empresarial e Mudança Cultural da Empresa

A cultura construída no mundo corporativo é de que a competição é essencial à sobrevivência da empresa. Então como falar em mudança neste contexto? Entenda por que é preciso mudar a cultura e passar a desenvolver o diálogo e a colaboração.

Mediação Empresarial e Mudança Cultural da Empresa: Da Competição à Colaboração!

Mediação Empresarial e Mudança Cultural da Empresa: Da Competição à Colaboração!

Desde a 1Revolução Industrial, ocorrida entre 1760 e 1840, o setor industrial está constantemente em mutação. A cada descoberta tecnológica otimiza-se a produção e impulsionam-se as possibilidades de negócios. Porém, a partir da década de 1990 foi que o mundo viu (e continua vendo) o surgimento da era digital, a aplicação da internet para os mais diversos fins e a expansão da automatização de variados processos.

É nesse contexto de inovação e mudança que aparece a expressão “Indústria 4.0”, também chamada de 4.ª Revolução Industrial. A indústria 4.0 teve sua primeira menção pública em 2011, em Hanover. Baseada em um complexo tecnológico com o objetivo de automatizar os métodos industriais por meio de conceitos de transformação digital. Por exemplo: a computação em nuvem ou a internet das coisas. Em outras palavras, o enfoque são as fábricas inteligentes que tornam os processos produtivos autônomos, eficientes e customizáveis.

Determinadas tecnologias, como a inteligência artificial e o big data, estão na base da criação de dispositivos e processos produtivos que são implementados no setor industrial. A aplicação dessas inovações tecnológicas proporciona novas configurações aos sistemas produtivos industriais. E que, por sua vez, passam a exigir mão de obra cada vez mais qualificada para atender às suas necessidades específicas de funcionamento.

Nesse novo paradigma industrial, há o esforço para que ocorra a automatização total dos processos de produção. Isso é possível em razão de ferramentas como a computação em nuvem e a internet das coisas. Elas são essenciais para o funcionamento de sistemas ciberfísicos. A partir da convergência de processos digitais e máquinas, os sistemas ciberfísicos podem tomar decisões de forma descentralizada. Além disso, podem cooperar entre os seus pares e com os humanos.

Esse conceito, então, surgiu para transformar a vida das pessoas, por meio do crescimento econômico, da geração de empregos qualificados e da elevação da qualidade de vida. No entanto, é preciso analisar quais são os impactos da indústria 4.0 e como ela pode mudar as relações, tanto comerciais como pessoais, no mundo globalizado. Ela promete revolucionar o modo como os processos industriais são desenvolvidos.

Se, por um lado, as indústrias necessitam ampliar a eficiência para ter competitividade perante os negócios globais, por outro, precisam cuidar da experiência relacional com seus stakeholders, uma vez que as possibilidades de conexões em rede são diferenciais para esse novo contexto.

E é diante desse novo contexto global que o mundo, em especial o corporativo, tem buscado por inovação tecnológica. E, ao que parece, investir e pensar em inovação tecnológica remete ao processo de produção de bens e serviços de uma forma mais evidente do que pensar na inovação tecnológica de resolução de conflitos.

Existem hoje diversas tecnologias inovadoras ligadas à gestão de conflitos e melhor convivência entre as pessoas. Metodologias dialógicas e colaborativas, que se aplicadas no cotidiano das corporações, podem promover maior eficiência nos processos produtivos inclusive.

No Brasil, em eventos e reuniões de mediadores como seminários e congressos, por exemplo, fala-se que “existem mais cursos de mediação do que mediações em curso”, sendo comuns as pautas de “como as empresas escolhem os mediadores”, que denotam os poucos casos de mediação empresarial [segundo dados levantados no ano de 2017 foram realizadas nas 3 maiores Câmaras do país reunidas 45 mediações. A experiência experimentada nas conversas com empresários e nas mesas de mediação empresarial realizadas por esta autora, tem despertado um olhar para a cultura empresarial e para o processo de resolução de disputas das organizações, Esperar que as empresas mudem o paradigma de resolução de conflitos buscando a mediação quando o conflito está instalado parece ser um caminho deveras longo e pouco produtivo.

Pretende-se aqui oferecer outras possibilidades para que a mudança cultural comece a ser implantada. Assim os casos de mediação empresarial acontecerão de forma mais potente e mais rapidamente como os mediadores e Câmaras anseiam.

Cultura Organizacional: Do Paradigma da Competição ao Paradigma da Colaboração 

A cultura construída no mundo corporativo é de que a competição é essencial à sobrevivência de uma empresa. As empresas competem por mercados, por consumidores, fornecedores, investidores, tudo na vida da empresa é competição.

Como falar em mudança de paradigma neste contexto? Aqueles que prestam serviços às empresas, querendo falar a linguagem de seus clientes, reproduzem esse paradigma trabalhando em torno da força da um empresa e seu potencial competitivo. Todos em torno do paradigma da competição construíram e continuam a construir uma “verdade”. Afinal, os paradigmas são construídos assim, com o sentido de alguma coisa sendo altamente compartilhado até que todos compreendam daquela forma, sem questionar outras possibilidades. E assim, aqueles que pretendessem mostrar que existiam outras forma de atuar para as empresas foram ignorados e até taxados como “loucos”.  E não foi assim na história do desenvolvimento humano?

Pois bem. A história foi se desenrolando e as transformações do mundo tem convidado as empresas a pensarem em outras possibilidades para seus negócios. A pensar quando, como e onde a competição é bem-vinda [e quando não é].

A revolução tecnológica tem mostrado que as tarefas repetitivas podem ser realizadas por máquinas, cada vez mais rápidas, mais autônomas, mais eficientes. Com essas inovações a competição passa a tomar outros aspectos. 

É importante ressaltar que ao falar de mudança de paradigma não se está a defender o fim do paradigma anterior, mas a consciência de que ele existe e que podem também existir outras formas de pensar e agir no mundo, num determinado contexto e momento histórico.

Com a tecnologia a avançar, as relações têm recebido maior destaque. É como se, no raciocínio do paradigma da competição, a “vantagem” de uma marca se dê não mais pelo produto em si, mas pela experiência oferecida aos stakeholders. A partir dessa tomada de consciência, muitas mudanças vêm ocorrendo no mundo corporativo. A preocupação com habilidades socioemocionais, conhecidas como soft skills tem sido hoje pauta significativa das empresas.

Segundo a pesquisa global Capgemini Digital Transformations Institute de 2017, 60% das empresas estão em uma crise de soft skills entre seus funcionários. A pesquisa revelou os anseios dos executivos entrevistados:  foco no cliente (65%); colaboração (64%); paixão por aprender (64%) e habilidade organizacional (61%). Note-se no resultado da pesquisa que a comunicação e a colaboração estão em primeiro plano e esse é um importante revelador daquilo que se está a desenvolver neste trabalho.

Ampliou-se o acesso ao conhecimento técnico e a tecnologia possibilitou o maior desenvolvimento possível até determinado momento histórico, fazendo com que as necessidades do mundo corporativo se modificassem. Assim justifica-se a necessidade de mudança de paradigma cultural, passando-se a desenvolver o diálogo e a colaboração.

Diálogo na antiga sociedade grega referia-se a dia “através” e logos “palavra”, referindo-se a uma troca social e geração de significado e entendimento através dele.

Num diálogo as pessoas se engajam numa investigação mútua, buscando conhecer os significados trazidos pelo outro, o que geralmente propicia a ampliação dos significados de uma determinada coisa ou situação.

Segundo Anderson o verdadeiro diálogo não pode ser outra coisa senão generativo. A transformação é inerente ao diálogo.

O diálogo é uma atividade relacional e colaborativa. O diálogo convida e requer de seus participantes um senso de mutualidade, incluindo respeito genuíno e interesse sincero em relação ao outro.

Parafraseando Wittgenstein, o diálogo permite achar maneiras de seguir adiante. Então, talvez seja isto o que é útil no diálogo: encontramos maneiras de seguir adiante. Ou, no mínimo, nós temos um senso ou esperança de que é possível que seremos capazes de seguir adiante.

Há, a partir do diálogo, uma conexão colaborativa na busca de sentidos compartilhados e não de vencedores. A competição entre concorrentes do mercado não pode ser a lógica predominante nas relações da corporação. Essa competição é útil em seu contexto específico de mercado apenas. Quando esse paradigma é levado para outros contextos, perde o efeito de busca de melhorias e inovação, para gerar disputas e desgastes. (Anderson, 1997)

É esse um ponto importante para a mudança cultural nas empresas. Separar a competição mercadológica, própria e útil a cada seguimento, da cultura com a qual as empresas desenvolvem os relacionamentos com seus stakeholders.

A oportunidade de resolução de algum conflito com seus stakeholders deve ser aproveitada da melhor forma possível. Demonstrar a inovação da empresa para além da tecnologia empregada no desenvolvimento de seu produto.

Contudo, como a empresa atuará dessa forma, se não tem essa cultura implementada?

A mudança de paradigma deve ser implementada dentro da organização em todos os departamentos. Pesquisa sobre os soft skills citada anteriormente demonstra a expectativa dos executivos em funcionários que atendam bem os clientes. Se a empresa não trabalha internamente a forma de comunicação entre seus funcionários, se não há espaço para o desenvolvimento de diálogo e de colaboração, será quase impossível alcançar esse objetivo. Da mesma forma apareceu a expectativa de que os funcionários colaborem entre si e todos com a empresa. Se a empresa não constrói essa forma de agir em toda sua atuação, certamente não atingirá essa expectativa.

A cultura do litígio e da heterocomposição precisa ser ultrapassada para que a cultura inovadora do diálogo permita as melhores soluções. A mediação é uma via válida ainda que o conflito não se resolva por ela. Esta é a grande oportunidade de conhecer um pouco além dos interesses do outro lado da mesa e levar em conta todas possibilidades que envolvem determinada questão.

As relações pautadas no diálogo e na colaboração poderão levar a um grande crescimento da produtividade, do engajamento da equipe, que passará a proporcionar melhores experiências para seus consumidores e fornecedores, os funcionários sentirão prazer em trabalhar nesta empresa e será mais fácil a retenção de talentos, cuja produção fica evidenciada no desenvolvimento dos produtos e negócios, que por sua vez gerarão mais lucros e propiciará a empresa maiores investimentos em inovação tecnológica de processos e pessoas, será mais fácil manter os melhores fornecedores pois todos quererão se relacionar com a empresa.

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Um abraço,

Juliana Polloni
https://www.linkedin.com/in/juliana-polloni

Confira também: Comunicação é uma Competência Individual ou Coletiva?

Palavras-chave: Mudança Cultural, Mudança Cultural nas Empresas, Cultura da Colaboração, Mediação Empresarial

Juliana Polloni é mediadora de conflitos em organizações e famílias, com experiência de mais de 15 anos de atuação. É facilitadora de conversações colaborativo-dialógicas com Certificado Internacional de Práticas Colaborativo-Dialógicas pelo Houston Galveston Institute, Taos Institute e Interfaci e especialista em Comunicação Não-Violenta. Advogada, Mestre e Doutora, coautora de livros, treinadora e palestrante com foco em comunicação, relações interpessoais e gestão de conflitos. Por meio da Plural Desenvolvimento Humano tem aperfeiçoado equipes de trabalho para uma melhor convivência e maior bem-estar relacional e emocional dentro das organizações.
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