Saber lidar com dinheiro não é uma tarefa fácil para a maioria das pessoas. O controle orçamentário adequado exige uma porção de complexas habilidades, como organização, responsabilidade, resiliência, visão de futuro e conhecimento matemático, apenas para citar algumas das principais. Se para nós, adultos, é difícil aliar todas essas competências, para jovens e crianças a atividade, claro, não é menos intrincada. Isso não significa, porém, que devemos afastar este assunto da rotina dos nossos filhos, ao contrário.
A educação financeira familiar pode fazer toda diferença no futuro das crianças, determinando inclusive a postura que eles assumirão diante de adversidades. Conversar com os filhos sobre a situação financeira da casa (independentemente da fase estar boa ou ruim), ensiná-los a dar valor para as conquistas e evitar condicioná-los a crer que sempre terão tudo o que gostariam devem ser atitudes incorporadas pelos pais na criação, desde a infância.
Nessa árdua e gratificante missão de educar filhos, para que eles venham a ser protagonistas da sua própria história, não são poucas as vezes em que os pais se veem diante de dúvidas sobre qual caminho seguir. Uma das mais comuns é dar ou não mesada às crianças. Nessa questão, posso citar educadores, psicólogos e pais, pelos quais eu nutro enorme respeito e admiração, que defendem a prática da mesada. Afinal, a entrega daquele dinheiro no fim do mês ajuda a passar noções interessantes de organização, controle e disciplina.
Entretanto, com o perdão do trocadilho, o problema da mesada está no outro lado da moeda. Todos os benefícios que ela pode trazer inicialmente não justificam os problemas futuros que poderá causar. A mesada passa uma sensação equivocada de segurança. Transmite a impressão de que a pessoa sempre terá um dinheiro fixo garantido. É aí que pode ser criada uma verdadeira armadilha para os filhos.
O mundo vem mudando aceleradamente. Dentro desse processo de disrupção, nota-se uma considerável diminuição no número de empregos formais, tanto no setor público, como na iniciativa privada. Até pouco tempo, era compreensível que os filhos fossem orientados desde cedo a buscarem um bom emprego, garantindo um salário fixo, uma segurança corporativa. Porém a realidade de hoje não é mais essa.
Devemos acostumar nossos filhos à necessidade de trabalhar buscando alternativas, e não mais a esperar por um volume de dinheiro fixo no fim do mês, como condiciona a pueril mesada. Uma boa alternativa é oferecer a eles o dinheiro exato para que comprem aquilo que precisam no dia a dia, como, por exemplo, o lanche. Caso surjam novas vontades ou necessidades, é importante que os filhos sejam treinados a negociar diretamente com o pai e com a mãe. Somente assim eles compreenderão que não há nada garantido.
Infelizmente, nem mesmo as escolas e as universidades parecem estar formando os jovens para este novo estilo de vida. O modelo tradicional de educação no Brasil e na maior parte do mundo é o mesmo desde o século XVIII, quando as crianças deixaram de ser alfabetizadas individualmente nas residências e passaram a ser reunidas em grupos. Os mesmos uniformes escolares, as mesmas regras hierárquicas, as mesmas avaliações da capacidade de decorar um determinado assunto.
O empreendedorismo passa longe de ser estimulado fora das residências. Por isso, é interessante que os pais ensinem esses princípios dento do ambiente familiar, valorizando a criatividade, a curiosidade e a postura empreendedora diante da vida. Com uma boa orientação, os filhos podem se tornar autênticos empreendedores, fazendo suas próprias escolhas e calculando os prós e contras do que irão escolher.
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