Viktor Frankl: Num Campo de Concentração, em Busca de Sentido (parte III)
Dando sequência à parte II, hoje então voltamos a relatar os detalhes como era a vida dos Prisioneiros de um Campo de Concentração, e do Viktor Frankl e a sua busca de sentido.
AUSÊNCIA DE SENTIMENTOS
Na grande maioria dos prisioneiros, a preponderância dos instintos primitivos e a necessidade de se concentrar sobre a pura e simples preservação da vida constantemente ameaçada, suscitam uma depreciação radical de tudo aquilo que não serve a esse interesse exclusivo. Assim se explica a ausência absoluta de sentimentos por parte do prisioneiro quando avalia os acontecimentos.
Ao ser transferido de Auschwitz para um campo filial em Dachau, tomei consciência dessa frieza de forma drástica.
Agora, se por um lado a sexualidade era rebaixada, o interesse em política e religião era muito comum…
RELIGIÃO
A falta de sentimentos do prisioneiro de muitos anos no campo de concentração é precisamente um dos reflexos da desvalorização de tudo aquilo que não serve ao interesse mais primitivo da preservação da vida. O interesse religioso dos prisioneiros, quando surgia, era o mais ardente que se possa imaginar.
Não era sem um certo abalo que os prisioneiros recém chegados se surpreendiam pela vitalidade e profundidade do sentimento religioso.
O mais impressionante neste sentido deve ter sido as preces e os cultos improvisados, no canto de algum barracão o num vagão de gado escuro e fechado, no qual éramos trazidos de volta após o trabalho em uma obra mais distante, cansados, famintos e passando frio em nossos trapos molhados.
LIDANDO COM O TIFO
Alguns dos sintomas dessa doença eram muitíssimo desagradáveis: uma repugnância quase que insuperável por qualquer bocado de comida e ainda os terríveis delírios.
Para escapar deles, fiz o mesmo que muitos outros: procurei manter-me acordado a maior parte da noite. Por horas a fio, fazia discursos mentalmente. Por fim, passei a reconstruir com rabiscos estenográficos, em minúsculos pedaços de papel, aquele manuscrito que tive que jogar fora antes da desinfecção em Auschwitz. O caso mais angustiante de delírio, entretanto, foi-me relatado a respeito de um companheiro que, sabendo-se próximo da morte, quis orar, mas não conseguiu articular palavras, transtornado pela febre…
RECURSOS DE SOBREVIVÊNCIA
- Apatia;
- Fuga para dentro de Si;
- Força do Amor;
- Meditação;
- Monólogo.
FUGA PARA DENTRO DE SI
Pessoas sensíveis, originalmente habituadas a uma vida intelectual e culturalmente ativa, dependendo das circunstâncias e a despeito de sua delicada sensibilidade emocional, experimentarão a difícil situação externa no campo de concentração de forma, sem dúvida, dolorosa; essa, não obstante, terá para elas efeitos menos destrutivos em sua existência espiritual. Para essas pessoas permanece aberta a possibilidade de se retirar daquele ambiente terrível para se refugiar num domínio de liberdade espiritual e riqueza interior.
Essa é a única explicação para o paradoxo de, às vezes, justamente aquelas pessoas de constituição mais delicada conseguirem suportar melhor a vida num campo de concentração, do que as pessoas de natureza mais robusta.
FORÇA DO AMOR
Nenhum de nós pronuncia uma palavra mais, mas sabemos neste momento que cada um ainda só pensa em sua mulher.
Converso com a minha esposa. Ouço-a responder, vejo-a sorrindo, vejo seu olhar como que a exigir e a animar ao mesmo tempo; e -tanto faz se é real ou não a sua presença – seu olhar agora brilha com mais intensidade que o sol que está nascendo.
Compreendo agora o sentido das coisas últimas e extremas que podem ser expressas em pensamento, poesia – e em fé humana: a redenção pelo amor e no amor!
FORÇA DO AMOR E OS VALORES DE ATITUDE
Na pior situação exterior que se possa imaginar, numa situação em que a pessoa não pode realizar-se através de alguma conquista, numa situação em que sua conquista pode consistir unicamente num sofrimento reto, num sofrimento de cabeça erguida, nesta situação a pessoa pode realizar-se na contemplação amorosa da imagem espiritual que ela porta dentro de si da pessoa amada. Em outras palavras, sempre é possível, mesmo na pior condição a gente tentar se conectar com algo positivo.
MEDITAÇÃO E CONTEMPLAÇÃO
Certa vez, no transporte de prisioneiros de Auschwitz para o campo de concentração na Baviera, estávamos de novo olhando por entre as grades da abertura de um vagão. Quem estivesse visto nossos semblantes arrebatados, a contemplar as montanhas de Salzburgo, cujos picos resplandeciam as cores rubras do sol poente, jamais acreditaria tratar-se de rostos de pessoas que nada mais esperavam da vida.
Sol se pondo entre os pinheiros na Bavária. E alguém exclamou após alguns minutos de silêncio arrebatado:
“O mundo poderia ser tão belo!”
Ao conversar mentalmente com um ente querido: “Eis cá aquilo: no mesmo instante – o que é aquilo? – sem que tenhas notado, acaba de pousar um passarinho bem à tua frente, sobre o torrão que recém cavaste, parte fitar atento e sereno …” Frankl, usava muito esses recursos para ajudá-lo a tirar daquele lugar, pelo menos mentalmente, porque fisicamente ele era um prisioneiro. Mas mentalmente através desses recursos ele era livre.
E assim continuamos relatando em detalhes como era a vida dos Prisioneiros de um Campo de Concentração…
Gostou do artigo? Quer saber mais sobre a história de Viktor Frankl? Então entre em contato comigo. Terei o maior prazer em informar.
Até próximo encontro!
Elizabeth Kassis
Coluna Tudo Azul
Referências: Wikipédia, Página Oficial: www.univie.ac.at/logotherapy/, Em Busca de Sentido (Viktor E, Frankl -1984), Professor Dr. Alberto Nery.
Confira também:
Num Campo de Concentração, em Busca de Sentido (parte I)
Num Campo de Concentração, em Busca de Sentido (parte II)
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