O Autoengano e a Autoestima: Um Convite à Passividade e ao Vitimismo
Uma das maiores atrações de workshops, seminários, aulas online e todo tipo de derivação do mercado que se formou em torno das metodologias que se apropriam de conceitos da psicologia tem a ver com o culto à autoestima como o caminho para a paz interior e a realização.
Pois a minha experiência prática com seres humanos, há mais ou menos 40 anos, indica que justamente aí reside uma armadilha das mais sutis e enganosas, que rende muitos benefícios financeiros para palestrantes e gurus.
O que nós mais apreciamos é a consciência de que somos úteis e que nossa presença e nossa ação traz benefícios para alguém. Quem é útil e faz o bem não se torna dependente de tapinhas nas costas, mensagens de incentivo ou medalhas de honra ao mérito. Em casa, desde a infância, aprendemos a dar conta de algumas tarefas domésticas.
Minha irmã e eu, com idades mais próximas, dividíamos as saudáveis atividades de lavar quintal, moer carne, comprar café torrado na hora, picar cebola ou amassar o trigo e a carne para fazer um bom quibe. Sempre soubemos que tínhamos o que fazer além das tarefas escolares e de manter nosso quarto e nossos brinquedos em ordem.
Claro que tivemos abraços, declarações de amor, belas festas de aniversário com brigadeiro e maria mole, mas nem tanto assim. Brinquedo novo era um por ano, e não havia abraços todos os dias o dia todo nem 12 “Eu te amo” por dia.
Aliás, não me lembro de meu pai dizer a frase tão exigida pelos manuais de autoajuda, o popular e às vezes superficial “Eu te amo, meu filho”.
Ele nos dava o que comer, nos dava abrigo, nos levava para nadar, nos ensinou a trabalhar no comércio que ele manteve funcionando e do qual tirou nosso sustento. De fato, ele dizia que nos amava de muitas maneiras.
Claro que, de vez em quando, ouvimos um “muito bem, muito bom, parabéns!, mas às vezes o “Eu te amo” vinha na forma de “lava direito atrás da orelha”, “faz de novo essa lição, caprichando mais na letra, e outras maneiras de nos sentirmos cuidados, corrigidos e acompanhados.
Ouvi de um mestre que se ao final de cada dia tivermos consciência de que fomos uma bênção na vida de alguém, o dia valeu, a vida está valendo.
Recomendo frequentemente a meus clientes que chegam com queixas de baixa autoestima: procure alguém que te pareça necessitado e deseje um bom dia. Ou: ligue para alguém que você sabe que pode estar precisando de alguma palavra de conforto ou esperança. Dê algo de si pelas pessoas que te rodeiam. Muitas vezes, pelo que tenho visto, ser útil e fazer o bem tem até mesmo efeito antidepressivo.
Esperar que a vida lhe dê aquilo que você gostaria de ter recebido de seus pais é um dos mais nefastos autoenganos. Um convite à passividade e ao vitimismo. E como aprendi com esse mesmo mestre, a vítima não tem solução.
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Almir J. Nahas
https://olharsistemico.com.br/
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