“A imitação é, até nova ordem, a única escola da originalidade.” (Georges Duhamel)
Sala de aula, congresso, programa de TV. Em qualquer destes cenários, não é preciso olhos e ouvidos muito atentos para notar como o uso de clichês está disseminado no discurso de professores, palestrantes e especialistas.
Há uma profusão de ideias prontas, previsíveis, quando não arcaicas e retrógradas. Uma repetição de mais do mesmo – às vezes, menos do mesmo – proferidas como se fossem pérolas contemporâneas do conhecimento. Vamos a alguns exemplos.
No Marketing, são os 4Ps (product, price, promotion, place), cunhados em 1960 por Jerome McCarthy, versando sobre produto, preço, propaganda e ponto de venda. Para sintetizar o anacronismo do conceito, trabalho atualmente com uma matriz ampliada de 15Ps, fundamentada nos escritos de Francisco Alberto Madia de Souza.
Em RH, é o CHA (conhecimento, habilidade, atitude), proposto em 1996 por Scott B. Parry, que já associava tais aspectos à performance, o que foi esquecido pela maioria dos divulgadores. A este respeito, leia minha sugestão de “Neocompetência”, formulada em 2011.
No Direito, frases como “O processo é uma relação jurídica trilateral: Estado, autor e réu”, ou “Deve-se analisar a verdade por todos os lados, porque ela tem inúmeras faces” e a máxima “Todos são inocentes até que se prove o contrário”. Acredite, há quem use deste jargão em petições e mesmo em sustentação oral.
A lista é imensa. Na TV, especialistas em finanças pessoais “revelam” que “deve-se comprar à vista e evitar o cheque especial”. A sustentabilidade continua sendo declamada a partir do “triple bottom line” (aspectos econômicos, sociais e ambientais), uma criação de John Elkington em 1990, que desconsidera fatores como dimensão cultural e governança. A imagem de um iceberg é utilizada para demonstrar que “o visível é muito inferior ao que está oculto”. E o clássico da motivação: a foto de Ayrton Senna, uma de suas belas frases e o “tema da vitória” entoado ao fundo.
O problema do clichê é que ele não contesta, não provoca reflexão, não transforma, não evolui, pois lhe falta originalidade. E o mais preocupante é que há pessoas – e não são poucas – que aplaudem, possivelmente devido a um repertório restrito, decorrência direta de nosso processo educacional e do hábito não cultivado da leitura. Não é arrogância ou prepotência, mas constatação. Falta-nos o básico, o estrutural, o fundamental.
É por isso que defendo “um passo atrás na educação”. Explico-me. De que adianta tentar ensinar trigonometria, e depois derivadas e integrais, se o indivíduo sequer domina as quatro operações básicas? Qual o propósito de diferenciar orações subordinadas entre substantivas, adjetivas ou adverbiais, se o estudante mal sabe ler, pouco compreende do que lê, e não consegue reunir o mínimo de coesão e coerência ao redigir um texto?
Isso nos remete à simplicidade. É imperativo difundir ideias e conceitos que possam ser entendidos, compreendidos e apreendidos pelos interlocutores. Mas fundamentalmente, que sejam úteis e aplicáveis, porque só assim poderão ser incorporados – in corpore, ou seja, poderão tornar-se parte de quem vivencia.
Há muito para ser dito, mas os tempos atuais clamam por textos mais objetivos. Por isso, embora eu desejasse agradar a gregos e troianos, espero que este artigo seja uma luz no fim do túnel para você, lembrando sempre que devagar se vai ao longe e que a esperança é a última que morre. Ops, também caí na armadilha do clichê!
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