No artigo inaugural, comentei do interesse em trazer ao debate uma eventual “verdade absoluta” sobre o Coaching. São muitos a escrever e ditar regras, a impor receitas e métodos, a operacionalizar essa importante forma de intervenção humana. Será que tudo acontece com a simples repetição de receitas e métodos? Ou será que, com base na ciência, existe de fato essa “verdade” estruturada em receitas e métodos? E um dos primeiros desafios que fiz foi provocar com a pergunta: Qual a base teórica ou científica que nos leva a acreditar que o Coaching consegue cumprir o que promete?
Fico aqui a imaginar como seria a reação de muitos coaches profissionais perante essa pergunta do cliente. Aliás, pergunta óbvia, dado que a sessão inicial de esclarecimentos tem por abordagem fundamental alinhar objetivos e metas, o que será realizado ao longo do processo, o cronograma de encontros e a remuneração associada. Pois bem, dividida em duas partes, a partir de agora todos os leitores desta coluna – sejam coaches ou coachees – terão a possibilidade de responder a pergunta acima e até mesmo irem além, com mais explicações, quando considerarem oportuno.
Em resumo, a perspectiva que todos nós conhecemos é a de o Coaching contribuir, com ética e metodologia, para o coachee alcançar objetivos próprios bem determinados. No caso de organizações, a expectativa é a de o Coaching ser um processo facilitador para que o cliente, normalmente alguém em posição de poder e liderança, adquira habilidades, amplie competências e conquiste metas e resultados esperados pela empresa. Para o processo ser eficaz, o coachee tem que adotar uma mentalidade aberta à aprendizagem e à mudança de hábitos.
Atualmente, há o reconhecimento de que a aplicação do Coaching abrange várias áreas de estudo e, cada vez mais, também é multimetodológica. Envolve conhecimentos de diversas disciplinas como a Psicologia, a Educação, a Teoria Cognitiva e a Neurociência, a Gestão de Negócios e, em alguns casos, até mesmo conceitos afins ao espírito e à religião. A discussão sobre a qualificação do coach, os caminhos para explorar opções possíveis que atendam as expectativas do coachee e, também, o que se espera do relacionamento entre ambos, tudo isso ainda permanecerá como tema de futuros artigos que publicaremos. Agora, vamos tratar especialmente dos enquadramentos teóricos que explicam o processo de Coaching.
Segundo estudos publicados pela comunidade internacional, e indo além das disciplinas antes citadas, o Coaching integra conceitos amplamente conhecidos como a Aprendizagem Vivencial (ação, reflexão, feedback), o Desenvolvimento de Adultos, as Intervenções em Sistemas Sociais, a Psicodinâmica, a Inteligência Emocional a a Modelagem de Competência. Parece complicado? Na prática, o Coaching quer libertar o potencial do coachee para maximizar sua performance. Não é ensinar, mas (sim) é contribuir com o aprendizado. Portanto, construir a consciência e a responsabilidade forma a essência do Coaching.
A tomada de consciência, pelo coachee, é que leva à habilidade. Especificamente sobre o Coaching Executivo, pesquisa com profissionais de recursos humanos, nos EUA, apontou os seguintes benefícios (do mais para o menos representativo): (a) compreensão mais clara do próprio estilo; (b) melhor comunicação e engajamento; (c) saber lidar com o estresse; (d) compreensão mais clara do desempenho profissional; (e) compreensão mais clara das questões organizacionais e como superá-las; (f) mais competência para feedback; (g) melhores relações profissionais com superiores e com subordinados; (h) mais habilidades na tomada de decisão; (i) mais assertividade, liderança e autoconfiança; (j) melhor equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal; (k) melhor rendimento no trabalho.
Em outra linha de pesquisa, estudiosos voltaram-se com prioridade ao que chamaram de Coaching Ontológico. Esta linha quer desenvolver, no cliente, atitudes e aptidões para gerar ideias, repensar caminhos, ampliar possibilidades, descobrir outros significados e criar novas conexões em todos os domínios do ser e da vida humana. É fundamental a capacidade de observar como o cliente usa a linguagem, expressa a a emoção e de que forma isso se reflete na postura corporal. Para esses cientistas, a disciplina da Ontologia promove a integração da biologia da cognição, a filosofia existencial e a filosofia da linguagem, fornecendo a base sólida e teórica substantiva para o desenvolvimento profissional, o que permite apoiar clientes de Coaching para desenvolver novas perspectivas e com comportamentos mais eficazes.
A ideia-chave no Coaching Ontológico é a de que o coachee é limitado pela forma como observa seu mundo. O papel essencial do coach é fornecer um contexto seguro que permita ao cliente tornar-se observador com a capacidade de agir de forma eficaz, respeitando a trilogia de linguagem, emoções e reações do corpo. Na próxima edição da coluna haverá o complemento do artigo que explicará como um coach justifica, teoricamente, que o Coaching cumpre o que promete!
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