Algo fascinante nesta profissão que abraçamos e que nos desafia a cada instante, na tentativa de entendermos os seres humanos, e sermos facilitadores no entendimento da misteriosa arte de viver, é a quantidade de demandas subjacentes escondidas atrás de diversas camadas de apresentações que cada qual disponibiliza. Como um jogo de “caça palavras”, é preciso garimpar as informações até encontrar o alvo definitivo, ou a verdadeira demanda que incomoda e que precisará ser trabalhada.
Na relação com os Coachees precisamos identificar, desenvolver e aplicar um sem número de ferramentas e observações, no sentido de tentar desconstruir palavras, signos, crenças, gestuais, e até mesmos comportamentos padrão, que servirão como atalhos para que possamos identificar a competência faltante ou aquela encoberta, nem sempre apresentada prontamente.
Neste “mundo” de oportunidades que nos oferecem, gostaria de me deter, mais especificamente, nos faladores compulsivos. Coachees que, desde a pré-entrevista, e durante boa parte do processo, desandam a falar, praticamente ignorando o interlocutor. Que apresentam uma sequência de depoimentos sobre sua visão da vida, normalmente cheios de sinais e verdades, aparentemente justificadas, rotuladas e imutáveis.
Logicamente que, nesta enxurrada de declarações, se apresenta também um material muito rico a ser explorado no processo de Coaching, exigindo do Coach uma atuação de garimpeiro, na seleção de conteúdos, até encontrar a pedra preciosa.
Antes de explorar o conteúdo, precisamos verificar a forma e as motivações de cada um. Quais são as verdadeiras demandas que nosso cliente apresenta?
Elencarei a seguir algumas possibilidades que podem facilitar o entendimento das dificuldades que mascaram a forma de racionalizar o pensamento na busca de alternativas ás questões colocadas. Vejamos então:
– Intensa necessidade de ser ouvido
Pessoas “represadas” que encontram no Coaching, uma forma de compensar suas carências, normalmente afetivas, e que precisam ser ouvidas, sem “pré-conceitos”, julgamentos e/ou penalizações.
– A negação às suas necessidades de aceitação
Neste caso, a baixa estima, fala mais alto, existindo a necessidade de “autoflagelo”, para se perceber carente, pouco atendido em suas necessidades pessoais, com ênfase na explanação constante da sua condição de vítima.
– A dificuldade com a assertividade
Falta de freio na verbalização pode ser um reflexo da baixa capacidade em ir direto ao ponto, do uso indiscriminado de palavras “grávidas”, muito grandes, pouco explicativas e com dificuldades de encerramento dos assuntos. Ignoram a máxima de que “das palavras, as mais simples, das mais simples, as menores”. Muitas vezes, a falta de assertividade pode levar a um comportamento agressivo e ou manipulativo expressando-se de forma implícita ou indireta.
– O hábito da procrastinação
Muitas vezes, a necessidade de decidir, que implica em escolhas, em tomada de partido, de possibilidade de contrariar pessoas, decepcionar, a necessidade de se posicionar, de ser político, de ser definitivo e etc…, levam as pessoas a sempre que possível adiar, postergar, não decidir.
– A necessidade de autoafirmação
O falatório desmedido, repleto de autorreferências, com declarações nem sempre verdadeiras, mas sempre necessárias para o atendimento ao ego, leva as pessoas a ocuparem seu tempo, criando um ambiente de pensamento desejoso, pouco efetivo e produtivo.
– A não confiança/entendimento do processo de Coaching
A desconfiança e o não conhecimento sobre a finalidade do processo de Coaching, em que se torna necessário um mergulho e comprometimento profundo, vivenciando o processo plenamente, pode levar o Coachee a uma insegurança inicial, fazendo que o mesmo marque posição, ressalte sua identidade e declare um processo de autoafirmação, como se demarcasse o terreno.
Cabe, no primeiro momento, deixar seu cliente à vontade, para perceber qual “estratégia” ou “modus operandi” empregado, e qual das formas citadas acima são mais predominantes, buscando observar o modelo mental do Coachee. No entanto, é preciso ter ciência que o poder de operar o “bottom line” é do Coach e que este o empregará toda a vez em que o assunto extrapolar limites, mudando o foco, através de novas perguntas.
O comportamento em discussão, não é estranho, improvável ou em extinção, mas uma forma real que os humanos encontram para facilitar a sua sobrevivência. Caberá ao Coach manejar este conteúdo da melhor maneira, de forma que a pedra preciosa perceba seu valor e brilhe!!! Vamos a eles!!!
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