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O conflito entre quem somos e quem precisamos ser!

Enfrentamos diariamente uma batalha em termos de sentimentos e expectativas. Buscamos o Sucesso e para isso precisamos mudar, buscamos aceitação e precisamos ser o que somos. Como resolver este conflito?

Olá,

Ultimamente ando namorando muito com os conceitos de autoajuda. Fico impressionado como este segmento da cultura ocidental em suas mais variadas formas como, por exemplo, livros, vídeos, palestras, cursos e demais coisas do mesmo gênero possuem o poder de atrair as pessoas. Quanto mais desesperadas, parece que mais as pessoas procuram fórmulas mirabolantes e atalhos.

O fato que mais me chamou a atenção acabou servindo de inspiração para este artigo. A maioria de nós enfrenta diariamente uma batalha em termos de sentimentos, expectativas e vontades. Por um lado, todos buscam o sucesso, independente do que isto signifique e, para tanto, precisam constantemente efetuar mudanças. Por outro lado, existe um grande número de pessoas que busca aceitação e reconhecimento, exatamente por aquilo que são, ou seja, tendem a não efetuar mudanças de comportamento ou atitudes.

O conceito da autoajuda não autoajuda neste sentido, pois enquanto diz para as pessoas coisas como “seja você mesmo”, também diz as “dez coisas que você precisa fazer” para conquistar, seja lá o que for.

Pobre de nós. Vivemos um eterno conflito entre o que somos e o que precisamos ser.

Para compreender um pouco melhor o que acontece, vamos pegar uma competência padrão em qualquer processo de avaliação de perfil ou de desempenho, o famoso, idealizado e proclamado como fundamental “trabalho de equipe”.

As empresas de maneira geral representadas por seus departamentos de recursos humanos defendem que o trabalho em equipe é uma das competências obrigatórias para a organização visto que do ponto de vista da empresa, o conhecimento coletivo e o compartilhamento de experiências é, sem dúvida nenhuma, uma expectativa importante.

Agora voltemos ao tema principal entre o que somos e o que temos que ser.

Certamente, você que está lendo este artigo deve conhecer pessoas que têm perfil mais analítico e crítico assim como conhece outras tantas que são integradoras e possuem grande facilidade de interação pessoal. Dificilmente você conhecerá uma pessoa que seja boa nas duas coisas simultaneamente. É exatamente neste ponto que o conflito vai se instalar gerando stress pela diferença entre o que somos e o que precisamos ser.

Para que não tenhamos o risco de julgamentos quanto à capacidade, tomemos como base que em todos os casos trata-se de profissionais capazes, cultos e treinados.

Agora, baseado no dogma corporativo que compara profissionais a abelhas, todos devem trabalhar em equipe em busca do benefício corporativo e assim, temos quatro situações possíveis:

1 – O profissional não trabalha bem em equipe e sua função é analítica não demandando que interaja com outras pessoas, ou seja, que ele é exatamente igual a quem precisa ser. Isto é positivo.

2 – O profissional trabalha bem em equipe, é extrovertido, integrador, gosta de ensinar e aprender compartilhando cada passo do seu trabalho sem se importar em, eventualmente, mudar a direção de um trabalho em função da contribuição de um colega e sua função é ligada à criação coletiva, co-criação e atividades de efeito motivacional. Novamente, o que o profissional é equivale ao que precisa ser. Perfeito.

3 – O profissional é analítico, de perfil especialista e prefere conduzir seu trabalho de maneira tecnicamente segura, apostando em suas hipóteses, com um mínimo de intervenção externa, contudo, sua função exige compartilhamento de informações busca de consenso e decisões colegiadas. Que se é difere profundamente do que se deve ser. Isto é ruim.

A adequação do profissional com sua função passa por um processo de desenvolvimento de um novo conjunto de habilidades para as quais ele não foi preparado. Não raramente, encontraremos conflitos de modelos de crenças cujas bases estão nos sistemas sociais primários (família e escola). Sem dúvida um caminho longo, mas que pode ser desenvolvido com processos adequados.

4 – O profissional é colaborativo, integrador, gosta de interagir e compartilhar informações podendo mudar de opinião ou mesmo alterar o andamento de um trabalho para acomodar a opinião de terceiros, mas sua função é estrita, com cumprimento de prazos, seguimento de premissas e foco na busca do menor prazo e do menor custo. O que ele é difere conceitualmente do que precisa ser. Isto é ruim.

Aqui temos uma visão mais ampla do problema. Pois não se trata de desenvolver uma habilidade. Ele tem a habilidade de sobra, trata-se de suprimir esta habilidade. Deixar de ser aquilo que se é para ser o que se precisa ser. Naturalmente isto causa uma zona de sofrimento e stress. No curto prazo, todos somos capazes de suportar estas cargas, mas se a situação perdurar por um tempo maior (superior a dez meses) os sinais de depressão e insatisfação serão claros.

Para os últimos dois casos, a solução envolve a prática do distanciamento. Na metodologia CARMA – Career And Relationship Management utilizamos o distanciamento para a construção de um personagem, ou como chamamos aqui, a construção do Eu Profissional. Este Eu profissional é um personagem que atende a demanda do se precisa ser, sem alterar a estrutura do ator (Eu verdadeiro) que é o que realmente somos. Uma vez distanciados o ator e o personagem, a vida passa a ser tratada como ela realmente é: um grande teatro onde podemos ser quem quisermos ou necessitamos ser.

Minha dica final é: Conheça-se profundamente. Quando estiver consciente de quem você é, você poderá ser o que quiser e precisar na hora que quiser. Isto meus amigos, é liberdade.

Edson Carli Author
Edson Carli é especialista em comportamento humano, com extensa formação em diferentes áreas que abrangem ciências econômicas, marketing, finanças internacionais, antropologia e teologia. Com mais de quarenta anos de vida profissional, atuou como diretor executivo em grandes empresas do Brasil e do mundo, como IBM, KPMG e Grupo Cemex. Desde 2003 está à frente do Grupo Domo Participações onde comanda diferentes negócios nas áreas de consultoria, mídia e educação. Edson ainda atua como conselheiro na gestão de capital humano para diferentes fundos de investimentos em suas investidas. Autor de sete livros, sendo dois deles best sellers internacionais: “Autogestão de Carreira – Você no comando da sua vida”, “Coaching de Carreira – Criando o melhor profissional que se pode ser”, “CARMA – Career And Relationship Management”, “Nut’s Camp – Profissão, caminhos e outras escolhas”, “Inteligência comportamental – A nova fronteira da inteligência emocional”, “Gestão de mudanças aplicada a projetos” (principal literatura sobre o tema nos MBAs do Brasil) e “Shé-Su – Para não esquecer”. Atual CEO da Academia Brasileira de Inteligência comportamental e membro do conselho de administração do Grupo DOMOPAR. No mundo acadêmico coordenou programas de pós-graduação na Universidade Mackenzie, desenvolveu metodologias de behaviorismo junto ao MIT e atuou como professor convidado nas pós-graduações da PUC-RS, FGV, Descomplica e SENAC. Atual patrono do programa de desenvolvimento de carreiras da UNG.
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