No seu livro O Foco define a sorte, Dulce Magalhães relata num texto leve e profundo o desafio de fazer uma escolha. Segundo ela, o desafio não está na escolha em si e sim em ser capaz de abrir mão de tudo que não foi escolhido. Não seria bom se pudéssemos escolher e manter também o não escolhido? É claro que seria bem mais fácil, mas escolhas implicam em fazer renúncias.
No texto ela comenta que temos um desejo mágico de simultaneidade ao querermos tudo ao mesmo tempo. Queremos viajar e reformar a casa e muitas vezes temos que escolher entre um e outro. Ficamos com a sensação de perda, pois se escolho pela casa reformada não terei os prazeres e experiência da viagem, se escolho a viagem não terei a renovação necessária da casa.
A escolha nos angustia justamente porque exige uma decisão. Quando somos obrigados a escolher, nos obrigamos também a repensar valores, prioridades e responsabilidades. Na escolha precisamos sair da conhecida zona de conforto, um espaço já conhecido e bem estruturado. Precisamos nos aventurar a olhar um cenário mais amplo da vida. Fazer escolhas também implica em correr riscos.
E quem não sente um “friozinho na barriga” ao ter que decidir por um novo caminho? As coisas talvez não corram do jeito que imaginamos e até podemos concluir que o caminho escolhido foi um equívoco, porém todo o caminho nos leva a um novo aprendizado e a novas possibilidades de crescimento. A velha frase que diz que “crescer dói”, faz todo o sentido quando nos deparamos com as delícias e desafios de uma tomada de decisão. Cada decisão nos leva a novos conceitos sobre quem somos e o que queremos, mesmo que nossa escolha seja manter tudo como está. Eleger algo é definir que tipo de vida queremos naquele momento.
Dulce comenta que o tema da tomada de decisão não é uma angústia nova. Desde o começo da filosofia humana muitos pensadores já debruçaram sobre o tema. O filósofo Sócrates, em seu último dia de vida, ao aconselhar Platão sobre decisões futuras disse: “Faça o que achar melhor, desde que venha a se arrepender um dia”. Um belo conselho de mestre que nos diz que tudo é transitório, assim como nossas decisões.
Podemos e devemos mudar de opinião, como nos aconselha o filósofo grego. A mudança é o tempero da vida. Ela nos convida a fazer diferente, a expandir nossa própria capacidade de compreender a nós mesmos e ao mundo. A ver o mesmo cenário com olhos diferentes, enxergando assim novas oportunidades de escolha. Redescobrindo a beleza de estar vivo. Já dizia o velho sábio:
“Nos momentos de escolha é que traçamos o nosso destino”.
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