Quero deixar, absolutamente claro, que o objetivo nada tem de oportunista, mas que o estado emocional criado pelo fato permite a avaliação mais impactante dos pontos que eu quero abordar. Até porque, devo confessar, em outubro do ano passado eu fiz uma viagem em um avião exatamente igual ao que caiu, pelo interior de Angola, e tenho bem clara a sensação de segurança que o passageiro tem na decolagem e pouso em pistas limitadas, o que cria um estado de surpresa ainda maior para o acidente ocorrido.
O Eduardo Campos, ainda que fosse promessa política evidente, não tinha uma projeção nacional e internacional de porte. Ele estava em um caminho bastante consistente e promissor, sendo que sua morte é comentada como de uma liderança precocemente perdida. Não importando se você, leitor, tinha ou não apreço pela candidatura ou pela coligação partidária, aqui trata-se de olhar o homem público. Segundo vários analistas de diferentes correntes, ele deixa um legado coerente com a sua visão social de mundo.
Seguindo a experiência e a história do avô, um dos mais famosos políticos da velha guarda, mostrou determinação e investiu em sua carreira, montando tijolo a tijolo uma construção que se mostrava sólida. Manteve sempre o laço familiar com prioridade e criou relacionamentos que ampliavam o potencial dessa construção, daí partindo em busca de seu sonho. Qualquer que fosse o resultado dessa próxima eleição presidencial, o Eduardo Campos teria aberto um espaço próprio de influência, poder e sucesso.
E agora eu faço uma pergunta para a reflexão de cada um: na sua busca pessoal, como você está harmonizando o jogo do poder à sua volta e o que, na sua opinião, será considerado o sucesso? Como isso se orienta para a construção do seu sonho? Você está buscando o poder como forma de levar ao sucesso? Ou espera que seu sucesso lhe traga um poder crescente?
A questão que não se pode esquecer é a da nossa condição humana, a de ter a vida modificada radicalmente por um imponderável sobre o que não se tem poder. E que pode ceifar o nosso esforço de construção do que se assume por sucesso. Seja qual for o momento em que o destino determine o momento de sua partida definitiva, a sabedoria está em deixar um legado de valor e de trabalho que seja parte de uma construção maior para aqueles que estão à sua volta. Na linha de “um exemplo de vida”.
Em qualquer nível de análise, o sucesso e o poder; o poder e o sucesso, podem ou não ser gloriosos para quem os detém, e enquanto os detém, pois haverá um momento em que você sairá de cena e eles serão exercidos por outros. Pense então em qual legado que você quer deixar associado ao seu nome, à sua marca pessoal, e que poderão ser exemplos para o futuro daqueles que estavam à sua volta. A morte de Eduardo Campos mostrou que, além do poder e do sucesso que agora ele não mais terá como exercitar, o seu legado ficou valorizado como a forma sadia de ter determinação e voltar-se a trabalhar por uma causa pública que era seu sonho. Como tudo na vida, isso não será opinião unânime, mas valerá a opinião da maioria que o amava e o apoiava.
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