Um dos exercícios mais prazerosos das pessoas inquietas e observadoras é que, atentas às movimentações que se apresentam a cada instante da vida, nos permitem analogias, similitudes e comparações entre as diversas ocorrências diárias e a nossa forma de realizarmos e lidarmos com nossos compromissos profissionais e especial nos processos de liderança.
Nestes momentos em que vivemos de comunicações superficiais, rápidas, muito centradas nas manchetes e frequentemente contaminadas com as “Fake News”, alimentadas pelas redes sociais e suas tecnologias de disseminação, grande parte das vezes nos fazem passar batidos pelos acontecimentos sutis, mas engrandecedores e ricos, não nos permitindo, por vezes, perceber o quanto podemos aprender com a verificação de ensinamentos que estão disponíveis, prontos para serem colhidos.
Em recente visita a audições de orquestras “clássicas”, tive a oportunidade de vivenciar experiências maravilhosas. Nas belíssimas: Sala São Paulo, na capital paulista, na Estação da Luz, com apresentações da OSESP e na histórica sala de tantos acontecimentos importantes, principalmente, de música popular e teatral, do Teatro Castro Alves, em Salvador, Bahia, no centro da cidade, com a orquestra composta por músicos da mais alta categoria, vindos dos bairros populares da cidade, a Orquestra Juvenil da Bahia, a Neojibá. Uma conduzida pela Regente Marim Alshop e a segunda no comando do Maestro Ricardo Castro.
E na observação destes artistas da Regência é que gostaria de me estender e fazer as analogias necessárias para aumentar nosso conhecimento e comparações com a vida profissional, em especial o da delicada posição de Gestor.
Fora o encanto das execuções musicais, belíssimas, com geração de emoções e encantamento durante e após as apresentações, algo muito me mobilizou: a força, controle e a transmissão de energia transmitida pela fundamental importância e presença dos Maestros à frente de suas orquestras. Tornou-se quase que impossível não focar atenções a estes elementos, tão contagiantes.
A origem da regência está na antiguidade, nos teatros grego e romano, quando se marcava o tempo dos coros, batendo palmas ou os pés no chão. Na sequência a batuta foi incluída. A mão direita define o compasso e a velocidade e a mão esquerda o sentimento que a música deve demonstrar, mais vibrante ou mais austera, por exemplo.
Se traçarmos um comparativo, entre o trabalho de um Maestro, à frente da sua orquestra, percebemos muitas similaridades com o papel de um Gestor à frente de sua equipe, conforme podemos perceber:
- O Maestro é responsável por identificar, recrutar, treinar, desenvolver e alocar os recursos. Esta atuação é totalmente compatível com as atribuições de um Gestor que forma equipe afinada com o fit cultural, necessidades organizacionais e comprometida com os objetivos;
- A clareza que cada membro deve ter na orquestra, assemelha-se, na sua partitura, às descrições de cargos/atividades, que identificam o porquê e o para quê. O que faz e suas responsabilidades;
- O Maestro segue a partitura daquela apresentação, que é seguida pelo conjunto, como se fosse um Plano de Negócios ou um Planejamento Estratégico, que indica caminhos, em que todos são comprometidos, sabedores de seus papeis e responsáveis por seus compromissos. Digamos que a partitura é o mapa;
- E existem nas orquestras, a necessidade premente de repetição, treino, correção, processo de aprendizado, educação diária, dedicação, exatamente como nas empresas que não inventam, com um mínimo de organização;
- A orquestra busca a harmonia e o equilíbrio, mas também tem os momentos dos solos, destaques, sobretudo do Spalla, o primeiro violino de uma orquestra, o mais gabaritado, e que atua como substituto do regente, repassando, quando necessário, as orientações do Maestro. Nas empresas a necessidade de estabelecimento de uma política de “segundos” é fundamental, para a continuidade dos processos, diante do determinado e para a referência de um condutor e seus colaboradores;
- Por mais virtuosos que os elementos individualmente sejam, o que interessa é o resultado do conjunto através de pessoas e instrumentos. Por mais que tenhamos, nas empresas, bons equipamentos e tecnologias, pessoas altamente preparadas, de nada adiantará, se a “entrega”, não for o contratado e senão houver compartilhamento e crescimento do time;
- Na Regência, existe o papel de quem conhece, porque é músico. O bom gestor precisa do domínio do processo e para isto, sensibilidade, relacionamentos interpessoais positivos, processo de confiança, alianças e técnicas, são fundamentais;
- A Competência Emocional para dirigir um grupo é essencial, porém o acompanhamento individualizado também com estas competências de forma próxima, construtiva, de feedback constante, respeitando os dons pessoais garantem o resultado do todo;
- Tanto um Maestro quanto um Gestor, que buscam o melhor resultado do seu conjunto, precisam estimular o bom ambiente, “flow” para que a criatividade aconteça, criar condições para que a motivação seja uma escolha, que a energia seja contagiante, e que exista cadência, ritmo e constância;
- O Regente de uma orquestra e o Líder organizacional, certamente, por estarem lidando com seres humanos, maravilhosos, falíveis, criativos, inconstantes, devem estar preparados para as intempéries geradas na convivência de um grupo, principalmente em times de alta performance, onde crises, conflitos e a necessidade de administrar questões de ego, tão comuns, também nas organizações.
Tanto Regente, Maestro, Líder, Chefe, seja o nome que queiramos determinar para aquele responsável por pessoas, processos e resultados, é preciso saber que este é o comandante pelo andamento, pelo tempo da obra, pela entrada de “instrumentos”, para que o resultado, sempre que possível, seja a perfeição. E que no final as pessoas gritem: Bravo! Bravo! Bravo!
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