O papel da meditação no processo do pensar
Nossa mente está o tempo todo ativa e trabalhando. Se estamos desempenhando algo que exija de nossa capacidade de pensar e raciocinar, a mente está ativa e trabalhando. Se estamos quietos, fazendo absolutamente nada, ela está o tempo todo em um discurso interior que não tem fim. Esse diálogo é conhecido como diálogo interno.
Nessas dinâmicas descritas acima observamos que basicamente temos dois tipos principais de pensamentos: os conscientes e voluntários e os inconscientes e involuntários.
Enquanto no primeiro temos um nível de pensamento com baixo ou pouco envolvimento emocional, e com a característica de não grudar um pensamento ao outro em um continuum sem fim, o segundo é justamente o contrário. Nessa classe de pensamentos costumamos nos identificar com eles, como se não houvesse separação entre o que é pensamento e quem nós somos, o que tende a nos impactar emocionalmente. E além disso, o desencadeamento de pensamentos acontece de forma automática e constante.
Vamos aos exemplos:
Amanhã tenho uma apresentação para fazer. Então sento e me dedico a escrever e formatar o conteúdo dessa apresentação. Estou escolhendo pensar a respeito para produzir o material necessário. Tenho uma ideia, escrevo aquela ideia, às vezes aprimoro um pouco essa ideia e é isso. Não permaneço ali. Não me envolvo.
Mais tarde, estou almoçando. Como rapidamente sem nem me dar conta. Pensamentos que geram tensão e ansiedade começam a surgir sobre a apresentação. Mas eu não me dou conta deles. Emocionalmente envolvida me deixo levar por um mar de pensamentos sem fim. Um processo de ruminação e diálogo interno contraproducente e muitas vezes nocivo.
Tanto no primeiro exemplo como no segundo, a prática de meditação atencional pode ser abordada como um fator essencial, de aprimoramento e percepção. No primeiro, para ajudar a manter a mente focada e alerta, no segundo, para quebrar ciclos de pensamentos destrutivos e desnecessários, por meio da habilidade de meta cognição, que basicamente é notar os pensamentos e fazer escolhas a partir dessa percepção.
A prática de meditação atencional consiste basicamente em quatro fases:
1) Ancoragem: a mente identifica o objeto de meditação e então se mantém nele (ex. respiração);
2) Divagação mental: começam a surgir pensamentos que roubam a nossa atenção para longe e nos distanciam do objeto de meditação;
3) Tomada de consciência: ocorre quando percebemos que nos perdemos da âncora. Esse processo pode ser imediato, ou então levar algum tempo. A experiência do praticante tem influência sobre o tempo até termos essa percepção;
4) O retorno: ao tomar consciência, escolho voltar ao ponto de ancoragem. Volto de maneira fluida e natural. Sem forçar ou me irritar. E, então, o processo começa outra vez.
É um equívoco pensar que quando nos distraímos perdemos a meditação.
Na verdade, o momento mais importante da meditação é quando nos damos conta de que nos distraímos, e fazemos a escolha de retornar ao ponto de atenção inicial.
Existe um mito sobre meditação que nos conta que ao meditar, devemos deixar a mente limpa, sem pensar.
Em mindfulness temos dois indicadores para analisarmos a consistência na nossa prática:
- O tempo que levamos para tomar consciência de que nos distraímos;
- Sustentar uma atitude de aceitação para nós mesmos e fazer o retorno para a ancoragem de forma natural e gentil.
Não é preciso tomar isso como uma regra e nos prendermos a ela a fim de avaliarmos nossos processos meditativos.
Esses indicadores servem para nos dar um norte e para não nos apegarmos a ideia de que meditar é deixar a mente vazia. Um conceito bastante equivocado e que leva boa parte das pessoas a desistirem de meditar.
Silvia Cavalaro
https://www.silviacavalaro.com.br/
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