– Chefe, quero a minha demissão!
– Logo agora? Você melhorou muito nos últimos meses.
– Sim, percebi que nestes últimos meses estou me tornando um profissional igual a você.
– Bem, sou seu superior, isso deveria ser a meta de muita gente.
– O motivo da minha demissão não é ter me tornado um profissional igual a você. O que me revolta é perceber que para ser um profissional igual a você, precisei me tornar uma pessoa igual a você e isto eu não posso aceitar.
Olá!
O diálogo acima foi retirado de um seriado de televisão e foi protagonizado por dois médicos durante, obviamente, uma situação limite que levou um dos cirurgiões a sair do hospital fictício e da série de televisão. Separei este diálogo para comentar com você, meu querido leitor, os efeitos que a pluralidade dos relacionamentos pode causar na forma como nos vemos e como nos valorizamos.
Quando desenvolvi o método CARMA no início do século, eu ainda não tinha uma ideia clara de onde o programa com sua forma diferenciada de fazer Coaching, me levariam e principalmente à mudança que poderia causar em pessoas de diferentes crenças, regiões e culturas. O raciocínio era elementar e simples, como é hoje: Somos plurais, o sentido de valor cabe ao nosso observador e para conseguir progredir na carreira, precisamos ter nosso valor reconhecido pelos observadores. Até aí, tudo ok.
Contudo, não podemos simplesmente ignorar o fato que nossos personagens profissionais são criações nossas que somente existem no meio físico fazendo uso das características, pensamentos, verdades e crenças do Eu verdadeiro, ou seja, daquela porção da nossa identidade que é imutável. Somos quem somos e com o passar do tempo, simplesmente, confirmamos esta identidade de maneira mais e mais contundente.
É impossível para qualquer um de nós, exercer um protocolo de comportamentos profissional que seja radicalmente diferente da forma como pensamos, somos e acreditamos, por um tempo demasiadamente prolongado. O efeito sobre nossa estrutura psicológica é devastador e corremos o risco de passar, na vida pessoal, sem o personagem que desenvolvemos ou ainda, desenvolver um conjunto de patologias próprios do acúmulo de frustrações, como por exemplo, o isolamento e a depressão. Não. Não sou psicólogo e nem tampouco terapeuta. O diagnóstico de depressão é algo sério e só pode ser realizado por profissionais capacitados. A depressão a que me refiro é a depressão profissional, configurada pela apatia, irritabilidade, falta de interesse e foco demasiado no ganho financeiro.
Gosto muito de metáforas para ilustrar situações complexas, então eu recorro a algo que nós brasileiros conhecemos bem: O carnaval. Mais precisamente os desfiles de escolas com suas alas e enredos. Vamos focar por um minuto em uma das alas mais respeitadas e merecedoras de nosso carinho que é a ala das baianas. Pense naquelas senhoras, muitas delas com o peso dos anos nas costas, recebendo o peso dos adereços, da fantasia e das alegorias de cabeça. Naquele curto espaço de tempo, cada pessoa daquela, independente da profissão, escolaridade, religião, histórico familiar ou qualquer outra característica de unicidade, torna-se uma baiana. Desfila e evolui alegremente ao som do samba enredo e, ao final, passando pelo portão da dispersão, livra-se da fantasia e conclui sua passagem.
Agora pense que por um momento, o portão e a dispersão não existissem. Pense por um momento que estas belas senhoras tivessem que usar esta fantasia por horas e mais horas, sem saber exatamente quando poderiam deixar de ser baianas para voltar a serem elas mesmas? Como ficariam? Como o peso da fantasia poderia incomodar e incomodar e incomodar até que a alegria desaparecesse, o samba não mais fosse ouvido e a evolução tornar-se-ia uma marcha cruel, cadenciada e vazia.
Este é o ponto principal de nossa reflexão, ao trabalharmos nossas carreiras e, principalmente, quando trabalhamos os mapas mentais de nossos clientes para o sucesso na carreira.
O personagem é aderente aos valores, crenças e ao propósito do ator que o interpreta?
Se sim, maravilha! Como faremos disso nossa ferramenta de construção de momentos felizes, que na somatória, serão nossas lembranças da felicidade. Mas, e se não?
E se hoje, estamos aprisionados em uma fantasia pesada, vagando pela avenida viciados nos aplausos que recebemos das arquibancadas disfarçados de regalias como:
- Reconhecimentos materiais e intangíveis;
- Benefícios diferenciados;
- Vaga privativa no estacionamento;
- Sala e mesa maiores;
- Viagens internacionais em classe executiva;
- Milhares de amigos reais e virtuais que são mais amigos do cargo que da pessoa.
Se isto estiver acontecendo, meu querido leitor, a hora é de parar. Não. Não quero que você se desligue da sua empresa e nem tampouco faça nada radical. É hora de parar de ouvir somente as arquibancadas e passar a ouvir o seu coração. É hora de criar em sua mente o portão que leva para a área de dispersão da escola de samba. É hora de estabelecer um limite de tempo para o uso da fantasia.
É hora de usar a inteligência.
O gerenciamento de sua carreira na busca do sucesso e da realização passa pela completa compreensão do cenário onde seu personagem está inserido. Cada passo, cada movimento e cada comportamento devem ter única e exclusivamente o propósito de tornar a vida do Eu verdadeiro mais feliz e realizada. Quando criei o Método CARMA, este era o meu sonho:
Tornar melhor todas as pessoas que cruzarem o meu caminho.
Sigo confiante que esta missão está sendo realizada e a cada contato que faço com as pessoas que praticam o método ao redor do mundo ou mesmo aqueles que ainda não deram o passo decisivo, mas que leem os livros e deixam seus recados nas mídias sociais. Sinto que é possível ser bem-sucedido, conquistar seus sonhos e ainda assim, não abrir mão de nossa essência.
Semanas atrás quando treinava um grupo de profissionais para receberem a certificação de Master Coaches, relembrei uma frase que compartilho com você agora. Repita para você mesmo:
Eu sou bom. Sou muito bom. Sou tão bom que posso ser quem eu quiser, sem deixar de ser quem eu sou!
Pense nisso!
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