Qual é a forma como você se vê? Você tem gratidão por quem você é? A forma como a gente se vê afeta tudo o que vivenciamos: nossas escolhas, amizades, trabalho, como tratamos as pessoas e geralmente as percepções que temos sobre nós mesmos são um pouco duras. O que define você?
Nossas deficiências sejam elas físicas ou não, não devem limitar e nos definir. Nossas vidas são colocadas em nossas mãos e você é a pessoa que dirige o seu carro, você decide que caminho vai tomar. Somos donos das nossas escolhas, decisões e ações. Você quem decide o que lhe define. Você pode escolher ser feliz ou infeliz. Escolha fazer o que pode para se tornar alguém melhor. Utilize as dificuldades como um degrau para subir e alcançar seus objetivos. Utilize a negatividade que existe em sua vida como motivação para fazer você melhor.
Considerando o cenário de um Brasil Paralímpico, hoje trago a fala de Aimee Mullins, ela participou da cerimônia de abertura dos jogos aqui no Rio, foi recordista nos Jogos Paralímpicos em 1996 que construiu uma carreira como modelo, atriz e advogada. O que significa ter uma deficiência? A poesia é o que eleva um objeto banal, negligenciado para o reino da arte. Pode transformar algo que poderia assustar algumas pessoas em algo que as convida a olhar, a demorar o olhar, e talvez, até, a entender, diz Aimee em sua palestra observando que suas pernas poderiam ser uma escultura de vestir, e começou a perceber que não precisava ter a necessidade de replicar a estética humana como sendo o único ideal. Uma prótese não representa a necessidade de substituição, é algo muito maior, que pode ser criado e pode representar sua autenticidade. Por isso, pessoas que a sociedade uma vez encarou como deficientes podem agora tornar-se arquitetos da sua própria identidade.
Se você procurar o significado de deficiente, sem dúvidas encontrará adjetivos com impacto fortemente negativo. Aimee quando procurou, levou um choque emocional muito grande, como se não tivesse absolutamente nada a seu favor, quando na realidade, hoje é conhecida pelas oportunidades e aventuras que conseguiu realizar na vida. Sua visão de futuro trouxe uma nova perspectiva para um acontecimento terrível, transformando-o numa experiência promissora. A possibilidade de um indivíduo vê a si próprio como capaz ajuda a adaptarem-se melhor às suas condições, e a ultrapassar os limites que a Natureza lhes impôs. Todos têm algo raro e poderoso para oferecer à sociedade, e a capacidade humana para se adaptar é o nosso maior recurso.
E como ultrapassar a adversidade? A adversidade não é um obstáculo que precisamos contornar para poder continuar a viver nossa vida. É parte da nossa vida. A vida tem desafios e adversidades, e isto é muito real e cada pessoa tem as suas. A questão não é se vamos ou não enfrentar a adversidade, mas como vamos enfrentar. Temos um modelo de só reparar no que está mal em nós e não vemos a pessoa, ou nós mesmos, como um todo. Não reconhecendo todo o seu potencial, estamos a criar mais um obstáculo numa luta natural que cada pessoa possa ter. Existe uma ligação entre essas aparentes deficiências e as nossas maiores capacidades criativas. Não se trata de desvalorizar, ou negar, como algo que queremos evitar ou varrer para debaixo do tapete. Mas sim encontrar as oportunidades escondidas na adversidade. Se conseguirmos ver a adversidade como natural, consistente e útil iremos conseguir sentir menos o peso da sua presença. A adversidade é a mudança à qual ainda não nos adaptamos. “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”. (Charles Darwin)
Deficiência é ter uma mente limitada. Nenhum prognóstico é considerado como determinante para a qualidade de vida de cada um de nós. Existe uma grande diferença entre a condição médica e o que se pode fazer com ela. Uma mente limitada não consegue ver beleza. Deixa de ter a curiosidade natural, infantil e a nossa capacidade inata para imaginar. Se em vez disso, conseguirmos convencer a nossa mente a manter a esperança, a ver a beleza em nós próprios e nos outros, a ser curiosa e imaginativa, então estamos a usar nosso potencial da melhor forma. Quando uma mente tem estas qualidades somos capazes de conceber novas realidades e novas maneiras de ser.
Aimee termina sua palestra com um poema de Hafiz que deixo também para sua reflexão: “Todas as crianças conheceram Deus, não o Deus dos nomes, não o Deus das negações, mas o Deus que só sabe apenas três palavras e as repete incessantemente dizendo: Venham dançar comigo. Venham dançar comigo.”
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