Esta semana Rafaela Silva chegou ao tão sonhado Ouro Olímpico. Desclassificada dos Jogos de Londres, em 2012, Rafaela Silva deu a volta por cima no Rio de Janeiro e conquistou nesta segunda-feira a primeira medalha de ouro do país na Olimpíada de 2016.
Nem tudo são flores e certamente o caminho para chegar a esta conquista foi árduo.
A história de Rafaela, hoje com 24 anos, teve início na carente comunidade da Cidade de Deus, uma região como tantas outras regiões menos favorecidas que são uma porta de entrada para o tráfico de drogas e o descaminho de jovens.
Começou a praticar judô aos 5 anos de idade, na associação de moradores da região. Aos 8 anos chegou ao Instituto Reação, comandado por Flávio Canto, bronze nos Jogos de 2004, em Atenas, onde treina até hoje.
Aos 16 anos, foi Campeão Mundial Junior na Tailândia. Em 2009 ficou em 5º lugar no mundial de Roterdã, na Holanda. Dois anos depois, foi Vice-Campeã do Pan-Americano de Guadalajara, no México e Vice-Campeã mundial adulta em Paris.
Trajetória de sucesso que ainda é exceção no Brasil. Rafaela declarou amor ao judô e disse que, se não fosse o esporte, não sabe o que estaria fazendo da sua vida.
A oportunidade de ser acolhida num instituto que se propôs a desenvolvê-la aliada ao seu talento e determinação de treinar exaustivamente fez toda diferença.
A conquista do ouro fez com que Rafaela fosse ovacionada, mas na Olimpíada de 2012 vivenciou o preconceito quando sofreu injúria racial por parte de alguns internautas após ser chamada de “macaca” e ler que “era uma vergonha para a família” tendo tomado a decisão de parar de lutar.
Emerge, assim, o fantasma do racismo num país que se debate para deixar para trás seu passado colonial.
O Brasil teve 46.881 casos de assassinatos em 2014, segundo dados do Ministério da Justiça à época, ou seja, 28 para cada 1.000 habitantes, negros e pardos representaram 72% das vítimas.
Para moradores de comunidades carentes, esse retrato da violência representa uma rotina conhecida.
Penso quantas Rafaelas, quantos talentos temos nas comunidades esquecidas que poderiam representar o Brasil no esporte, música, empresas? Quantos jovens simplesmente desistem ou não têm a oportunidade de lutar e conquistar algo melhor num país que carece de políticas públicas e uma melhor distribuição de renda? Quantos jovens são aliciados para o tráfico pela ausência do estado?
Não importa se 1 ou 1 milhão, mas são jovens que representam o futuro de uma sociedade, de pessoas que têm seus sonhos tolhidos. Uma realidade latente e invisível aos olhos das autoridades que teima em mostrar a sua cara. Seria mais justo se em vez de ignorá-la fosse reconhecida e criadas mais políticas de inclusão efetivas.
Parabéns Rafaela pela conquista do seu sonho, pela conquista do Ouro Olímpico que nós brasileiros nos orgulhamos. Pela sua fé, força, dignidade que nos serve de exemplo. Pela determinação de lutar pelo que se quer mesmo diante de tantas adversidades. Que venham outros desafios e mais conquistas. Que possamos ter a mesma perseverança na luta contra o preconceito.
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