Crianças obedecem. Adultos se posicionam.
Eu li ontem essa frase no post de uma psicóloga e fiquei dando voltas nisso o dia todo. Essa questão da obediência faz muito ruído na minha mente, porque percebo muita incongruência entre o que é semeado em cada indivíduo na infância e o que nos é cobrado na vida adulta.
Eu já mencionei algo sobre isso no artigo anterior, que todo nosso sistema educativo está baseado na ideia de que a criança é um vaso vazio, que precisa ser preenchido.
Nós supomos que os adultos estão dotados de conhecimento, entendimento e sabedoria e que sabem o que supostamente a criança deve aprender para ser um cidadão de bem e ter sucesso na vida. (Caberia aqui a pergunta “o que é ter sucesso na vida?”, mas vou deixá-la para um próximo artigo.) E, por isso, a criança deve obedecer o adulto (pai, mãe, professor), porque ele (o adulto) sabe o que é melhor pra ela.
Mas vamos partir do início…
Obedecer, de acordo com o dicionário, significa submeter-se à vontade de outra pessoa.
Exigir que a criança obedeça, portanto, é exigir que ela faça o que você quer e impõe, ela concordando ou não, querendo ou não, fazendo sentido ou não pra ela.
Exigindo obediência, criamos seres humanos dependentes, inseguros, que negam responsabilidade, se sujeitam ao assédio moral e com pouca iniciativa. Em termos de personagens da Biografia Humana: engaiolados, encovados, soldados rasos, balas de canhão, mordomos e outros tantos.
A cultura do “obedecer” prejudica sobremaneira a autoconfiança, as ideias próprias, o identificar o próprio desejo. Inibe a proatividade, a criatividade, gera dificuldades para assumir alguns riscos em busca do próprio querer. Até porque, fica bem desafiador identificar o próprio querer, se eu cresci com alguém sempre indicando quais eram os caminhos a seguir, qual era o “certo”, qual era o “errado” e o que eu devia fazer, pensar e sentir.
Por isso essa afirmação “Crianças obedecem. Adultos se posicionam” é tão incoerente pra mim… Porque não há posicionamento possível, consciente, salutar, genuíno e verdadeiro se eu cresci fazendo o que os outros esperavam de mim, se eu cresci anestesiando o meu querer em favor do que era “o correto” em determinado contexto, se eu cresci me afastando dia após dia do meu ser essencial.
Eu entendo que o que eu trago aqui está totalmente por fora do nosso paradigma cultural. Mas eu te convido a pensar um pouco nisso.
Uma forma de cultivarmos uma sociedade com pensamento crítico, que possa verdadeiramente posicionar-se ou indagar-se diante de determinadas questões é abandonar a ideia do “ensinar” e nos aventurarmos a acompanhar as crianças nas suas curiosidades, questionamentos e explorações.
Você está disposto(a)?
Gostou do artigo? Quer saber mais sobre essa tal obediência e os impactos na vida adulta? Então entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.
Liz Cunha
https://www.lizcunha.com.br/
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