Os desafios da mulher no Brasil e no mundo!
Começo por explicar aos amigos leitores que esta postagem foi preparada no último final de semana do mês de novembro, para ter sua publicação no início de Dezembro de 2019. Ela encerrará o nosso ciclo deste ano e, por essa razão, eu quero aproveitar a oportunidade para tratar de um assunto muito importante no contexto brasileiro e mundial: os desafios da mulher no mundo contemporâneo. Aliás, eu faço esta postagem como um Especial de Final de Ano, a qual será mais longa que o normal. Porém, antes disso quero agregar aqui meus comentários quanto a dois fatos ocorridos e que não poderiam passar em branco.
A morte do apresentador Gugu Liberato (1959-2019) foi tratada, pelos meios jornalísticos, como um acidente doméstico. Ouvi muitos comentários de que a queda não ocorreria se o Gugu tivesse contratado um profissional para o serviço. Mas a questão vai bem além disso, e requer a atenção de todas as pessoas, independentemente da idade.
Conforme os especialistas, após os 60 anos há uma enorme perda de controle neuromuscular, abrindo espaço para quedas e acidentes. No Brasil, estatísticas do Ministério da Saúde mostram que redução dos reflexos, alteração de noção espacial, fraqueza muscular e dores articulares são algumas das causas de acidentes com idosos.
Atingem a cifra de 70% os casos que acontecem em casa e, aproximadamente, um terço desses leva à morte.
Porém, eis aqui outro alerta: no Brasil, cerca de quatro mil crianças de até 14 anos morrem por acidente doméstico, todos os anos. E entre as principais razões estão sufocamento, quedas, afogamento, intoxicação e queimaduras. Fica aqui o recado, ainda mais em período de festas no final de ano: vale a pena vistoriar os pontos domésticos de perigo e ter precaução para que nada de ruim aconteça no dia a dia das pessoas mais velhas e das crianças. E os adultos que tomem também suas precauções, pois é incrível como há tendência a abusarem da sorte e se exporem a riscos desnecessários.
Outro acontecimento que chamou muito a atenção do país foi a vitória do Flamengo sobre o River Plate, na disputa da Copa Libertadores, de 2019. Lembrando o fato, até quase 90 minutos o Flamengo perdia de 1 a 0 e, em dois minutos, virou o jogo e tornou-se campeão. Ainda que o tema já tenha sido abordado por muitos, e não vou gastar mais de um parágrafo nisto, tivemos ali o exemplo da penalização da soberba, pois nos minutos finais o time do River Plate deixou de fazer o jogo sério e aplicado que demonstrou o tempo todo, e seus jogadores passaram a mudar a postura para certa firula em campo. Por outro lado, sem perda de tempo e com total foco, os jogadores do Flamengo mantiveram a busca por um resultado melhor, conseguindo o seu intento. Conclusão: apropriando-me da frase do pensador alemão Max Weber (1864-1920): “O homem não alcançaria o possível se, repetidas vezes, não tivesse tentado o impossível”. Nunca desista dos sonhos!
E agora, voltemos ao objetivo central desta postagem:
OS DESAFIOS DA MULHER BRASILEIRA
Duas instituições de renome internacional se uniram para promover um estudo abrangente sobre o papel da mulher na promoção da Justiça Social, da Inclusão e da Paz. A Georgetown University’s Institute for Women, Peace and Security concentra-se no papel que as mulheres desempenham na prevenção de conflitos e na construção da paz em economias em crescimento, mesmo enfrentando ameaças globais como as mudanças climáticas e extremismo violento. O The Peace Research Institute Oslo (PRIO) realiza pesquisas sobre as condições necessárias para haver relações pacíficas entre estados, grupos e pessoas, bem como para entender os processos que criam sociedades mais unidas.
O trabalho conjunto partiu de uma tese: a inclusão, a justiça e a segurança das mulheres devem ser garantidas, sendo não só importantes para as próprias mulheres e suas famílias, como para todas as comunidades, sociedades e a economia mundial. O mundo é mais seguro, pacífico e próspero quando as mulheres recebem direitos e oportunidades plenos e iguais.
O Índice de Mulheres, Paz e Segurança (WPS) 2019-2020, criado pelos pesquisadores, mede e classifica o bem-estar das mulheres em todo o mundo e está estruturado em torno de três dimensões básicas do bem-estar feminino: inclusão (econômica, social, política); justiça (leis formais e discriminação informal); e segurança (nos níveis individual, comunitário e social).
Esta é a segunda edição, a qual agora acrescenta mais de uma dúzia de países – incluindo Líbia e Sudão do Sul – que atendem os requisitos mínimos de dados recentes e confiáveis nas três dimensões. Com isso, subiu para 167 o total de países estudados, abrangendo 98% da população mundial (apenas um país – Islândia – desempenha bem em todos os aspectos da vida das mulheres), ao que se agrega uma boa notícia: as tendências no empoderamento das mulheres estão caminhando na direção certa, em todo o mundo. Do total de pesquisados, 59 países registraram progressos significativos desde a primeira edição, enquanto apenas um país (Iêmen) passou por deterioração (ver Figura 1).
Para os 167 países classificados em 2019, as pontuações variam de 0.904 (Noruega) a 0.351 (Iêmen), onde 1 é a melhor pontuação possível e 0 é a pior (a Noruega é seguida pela Suíça, Finlândia, Dinamarca e Islândia – ver Figura 1).
Analisando por regiões do mundo, o Oriente Médio e o Norte da África apresentam um desempenho geral ruim, mostrando em grande parte níveis de violência organizada e leis discriminatórias que afetam as mulheres, muitas vezes com baixas taxas de inclusão, especialmente em empregos remunerados. Mas existem diferenças marcantes dentro das regiões e, naturalmente, os desafios da mulher são maiores em países frágeis e afetados por conflitos, especialmente na dimensão segurança.
Então a esta altura os leitores devem estar se perguntando: e o Brasil, como está nesse índice? Como ele se compara com os melhores e piores (ver Figura 2)?
Pois bem, um dos aspectos analisados é o de Direito de Família, considerado na pesquisa como um nexo crítico de justiça, inclusão e segurança para as mulheres. A pontuação da discriminação legal no WPS Index considera diretamente vários aspectos tais como: se as mulheres casadas são obrigadas a obedecer aos maridos, se eles têm permissão para gerenciar ativos e se podem iniciar um divórcio, bem como a existência de leis contra violência doméstica e leis que obrigam os empregadores a oferecer licença maternidade. No Direito da Família, como em outras esferas legais, as leis e os direitos no papel podem não ser cumpridos na prática, algo que também foi examinado na pesquisa.
Para os pesquisadores, a transição do Brasil (desde o regime militar) tem facilitado a discussão pública sobre desigualdades, comprometendo as políticas públicas com a redução da violência doméstica. Um marco é a Lei Maria da Penha, a qual penaliza o abuso doméstico, e que foi ratificada em 2015 com uma nova lei que criminaliza o feminicídio, fazendo com que o Brasil se coloque bem acima da média geral no WPS Index. No entanto, a diferença entre a classificação do Brasil sobre marco legal (58º) e sua classificação geral (98º) sugere que, embora a proteção legal seja uma parte importante da arquitetura de igualdade de gênero, um conjunto mais amplo de fatores precisa ser construído para moldar o bem-estar das mulheres brasileiras.
Quase 75% das mulheres brasileiras relatam sentirem-se inseguras ao caminhar sozinhas à noite.
As estimativas indicam que apenas 25% das mulheres sobreviventes de violência procuram as autoridades, pois assumem que a polícia é insuficiente e mal treinada. Há frequentes casos em que a própria polícia desacredita da narrativa e/ou exige que as mulheres recontem suas histórias, muitas vezes em áreas de recepção abertas e sem privacidade. Outros dados, especificamente em relação ao Brasil, chamam a atenção.
Entre os 40 países mais bem ranqueados no WPS Index, nenhum deles tem menos do que 9,5 anos (em média) de escolaridade para as mulheres com mais de 25 anos de idade. O Brasil, que como dissemos está em 98º lugar (entre 167 países) apresenta 7,8 anos de escolaridade para o mesmo perfil de público pesquisado. Entre os doze países mais bem qualificados no estudo, o percentual de mulheres acima de 25 anos que trabalham é sempre maior do que 50%, enquanto no Brasil esse índice é pouco menor (49,4%). E os nossos vizinhos se saíram melhor: Equador com 60,8%, Bolívia 62%, Chile 52%, Uruguai 54,7%, Paraguai 59,6%, Peru 71,6%, Colômbia 56,3%, Argentina 50,8%.
Mesmo em outros quesitos o Brasil fica atrás de seus vizinhos próximos. Por exemplo, quando se:
- considera o grupo de “mulheres com mais de 15 anos de idade com acesso a celular”, o Brasil não chaga à marca de 80%;
- trata de representação feminina no Parlamento, nosso país alcança meros 14%. Este índice é o menor na América do Sul, em que Argentina tem 39,4%, Uruguai 23% e Paraguai 16,8%.
Enfim, esses e outros números servem para mostrar que há muito espaço para o Brasil progredir na construção de um ambiente mais propício à mulher. Onde ela esteja presente no cotidiano, contribuindo com seu trabalho não só na economia, como também para um ambiente mais pacífico e ordeiro.
Com base nos estudos apresentados no WPS Index, o fundamental agora é que haja uma ação coletiva para aumentar a conscientização sobre as mulheres; sua importância e os vínculos entre inclusão, justiça e segurança.
Desde seu lançamento, em 2017, esses estudos se mostraram úteis em vários contextos ao trazer legitimidade para essa linha de debate. Tem sido utilizado até para suportar evidências em assuntos jurídicos, nos EUA, bem como sendo pauta em programas de rádio e televisão, mundo afora.
O WPS índex também tem servido ao trabalho de ativistas e de organizações internacionais para a causa da mulher. Além disso, foi compartilhado em reunião de manutenção da paz da ONU e apresentado na OTAN e na Organização para Segurança e Cooperação em Europa.
Finalizando, a conclusão é que o WPS Index evidencia, claramente, que promover a igualdade de gênero e o aumento da inclusão, justiça, e segurança são essenciais não apenas para o bem-estar das mulheres, mas também à segurança e na paz entre (e dos) países.
O índice reflete uma visão compartilhada de que os países são mais pacíficos e prósperos quando as mulheres recebem direitos plenos e iguais oportunidades. E se o desejo de Final de Ano sempre vem associado com mensagens de saúde e paz, agora podemos afirmar que esse desejo será melhor alcançado se todos tomarmos consciência de apoio à causa da mulher. No Brasil, particularmente, há muito trabalho a ser feito e, como diz o ditado popular… “a união entre as mulheres será a força propulsora da mudança que todos nós queremos e precisamos, voltados para a Justiça e Segurança de todos”.
Um maravilhoso Natal a todos os leitores e seus familiares, com feliz entrada em 2020. E que tenha por princípio o respeito ao próximo, a esperança e luta sempre presentes para fazer valer seus sonhos e, agora, o convite a se juntar nesta causa justa pela qual se deve lutar: a valorização da mulher em nosso cotidiano!
Mario Divo
https://www.dimensoesdesucesso.com.br
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