O mundo VUCA aponta para um dilema crítico que os gerentes, líderes e profissionais de todo tipo enfrentam: já que nada é mais seguro e certo, como controlar a pressão para tomar decisões rápidas, porém sólidas e efetivas? Afinal de contas, os decisores são continuamente desafiados pela coexistência de sistemas complexos, o impacto da digitalização, a dinâmica imprevisível de mercado e a enorme quantidade de informações ambíguas. Dessa forma, é vital o princípio da colaboração em todos os níveis da organização.
A partir da conceituação de mundo VUCA surgiu o conceito de Indústria 4.0 (ao que eu agreguei o conceito de Coaching 4.0). É bom lembrar, as três primeiras revoluções industriais foram o transporte e a produção mecânica no final do século XVIII, a revolução da produção em massa no final do século XIX e, depois, a revolução dos computadores nos anos 60. A Quarta Revolução Industrial ou Indústria 4.0, como é comumente conhecida, representa a combinação de sistemas ciberfísicos, a Internet das Coisas e a Internet dos Sistemas. Eis aí a premissa de fábricas inteligentes nas quais as máquinas têm conectividade pela web e, ligadas a um sistema, podem operar em toda a cadeia de produção e tomar decisões por conta própria.
Nessa quarta revolução, uma série de novas tecnologias evoluirá, combinando os mundos físico, digital e biológico. São tecnologias que terão impacto em todas as disciplinas, economias e indústrias, e inclusive desafiarão nossa visão sobre “o que significa ser humano”. A inovação tecnológica está à beira de alimentar mudanças importantes em toda a economia global, gerando benefícios e desafios, em igual medida. Para entender melhor esse ambiente, a empresa multinacional de consultoria Deloitte publicou o estudo “Paradoxo na Indústria 4.0” (Outubro/2018), o qual remete ao título de nossa postagem de hoje.
O trabalho avisa que a Quarta Revolução Industrial gera oportunidades aparentemente ilimitadas para investimentos em tecnologia e, à medida que as empresas buscam a transformação digital, elas devem considerar várias questões no processo decisório, tais como: o que transformar, onde investir os recursos e quais tecnologias podem melhor atender as necessidades estratégicas. Além disso, a verdadeira transformação digital tem implicações muito profundas aos estarem relacionadas com estratégia, modelos de negócios, organização do trabalho e, principalmente, o desenvolvimento de profissionais qualificados.
No estudo, a Deloitte procurou entender como se dão os investimentos na Indústria 4.0 para viabilizar a transformação digital, realizando pesquisa global com 361 executivos em 11 países, tendo por foco empresas de manufatura, energia, petróleo e gás, e mineração. Foram examinados “o como” e “o onde” estão sendo realizados os investimentos, os principais desafios na realização desses investimentos, e como são formadas as estratégias técnica e organizacional em torno da transformação digital. A pesquisa revelou também uma mistura de entusiasmo e planos ambiciosos para investimentos futuros, bem como uma série de desconexões entre os planos e ações das empresas, o que é preocupante, de certa forma.
Embora a transformação digital esteja tomando forma em quase todas as organizações, os paradoxos podem ser observados em torno da estratégia, da transformação da cadeia de suprimentos, da disponibilidade de pessoas qualificadas e dos direcionadores de investimento. Isso sugere que a vontade de transformação digital continua forte, mas as organizações ainda não encontraram um caminho certo que equilibre a melhoria das operações atuais com as oportunidades oferecidas por tecnologias da Indústria 4.0, quanto à inovação e transformação do modelo de negócios.
Eis então que aparecem os “paradoxos”, sendo o primeiro relacionado com a estratégia. Quase todos os entrevistados (94%) indicaram que a transformação digital é um objetivo estratégico de primeira linha para a organização. Só porque os entrevistados parecem entender sua importância estratégica, no entanto, isso não significa que eles estejam explorando completamente o campo das possibilidades estratégicas possibilitadas pela transformação digital. De fato, muito menos decisores (68%) a enxergam como um caminho para aumentar lucratividade.
O segundo paradoxo está relacionado com a cadeia de suprimentos, a qual o estudo mostrou ser uma área prioritária para os investimentos em transformação digital. No entanto, os executivos da cadeia de suprimentos que dirigem as operações cotidianas não têm sido envolvidos nos processos decisórios sobre esses investimentos. O mesmo vale para o aumento de conectividade físico-digital, aproveitando aquilo que já existe. Paradoxalmente, vamos além com a identificação de um padrão amplo para investir em tecnologias avançadas nas operações comerciais de curto prazo, ao invés de explorar oportunidades inovadoras que, verdadeiramente, gerem impacto e retorno positivo do investimento.
Porém, para aquilo que é a base de nossas postagens (Coaching 4.0), surge o paradoxo relacionado com as pessoas e os processos de desenvolvimento. De acordo com as pesquisas da Deloitte sobre a Indústria 4.0, os executivos relatam se sentir confiantes de que possuem o talento certo para apoiar as transformações digitais, mas também admitem que, para conquistar esse talento necessário, há um desafio irritante. De fato, apenas 15% dos entrevistados indicaram que precisam alterar drasticamente a composição e os conjuntos de suas habilidades. Mas, por outro lado, esses mesmos executivos apontam que encontrar, treinar e reter o talento será o principal desafio organizacional e cultural.
Resumidamente, a pesquisa sugeriu que os gestores e lideranças de empresas industriais, de petróleo e gás, de energia e serviços públicos e de mineração comecem a ganhar consciência e conhecimento dos riscos e das oportunidades que a Quarta Revolução Industrial apresenta. Ainda mais, o relatório afirma ser necessário que eles valorizem a transformação digital como forma de aproveitar esse crescimento de oportunidades. O problema é que a maior parte das pessoas, pressionadas pela desconexão interna de informação em suas empresas, “não identificam facilmente como chegar aos resultados esperados”, mesmo planejando investimentos significativos em tecnologias, no futuro.
À medida que buscam transformar as organizações em empresas interconectadas capazes de operar em uma era cada vez mais digital, onde o mundo VUCA é predominante, os gestores e lideranças precisam construir operações mais conectadas, responsivas e inteligentes para encontrar um jeito de cumprir a promessa da Indústria 4.0. Mas vamos nos animar, pois a pesquisa da Deloitte apresenta oportunidades interessantes aos coaches e mentores.
O pensamento convencional pode sugerir que as organizações mais bem-sucedidas têm implantado maciçamente tecnologias digitais, porém o mais provável é que elas tenham desenvolvido os talentos certos, primeiramente. Ficou evidenciado pela pesquisa que o retorno positivo de investimento (ROI) tem relação direta com os investimentos em qualificação de pessoas. Se ROI mais alto indica maior maturidade da transformação digital, a próxima evolução pode ser a acessibilidade ao usuário, ou seja, cada vez mais se acredita que um design melhor e mais intuitivo é o que falta para a colaboração melhor e mais amigável entre humanos e máquinas.
Como a Deloitte reforça em seu relatório, a necessidade sempre presente de talentos melhores e mais bem qualificados nunca vai desaparecer. Ao contrário, o aumento das tecnologias digitais nas empresas está alimentando uma demanda por maior acessibilidade a essas competências humanas em toda a organização. E isso será conseguido de forma ainda mais efetiva se cada nível de liderança aceitar colaborar ao invés de competir com a liderança da linha de frente. E, ao analisar suas necessidades de tecnologia digital, o decisor deve considerar três facetas do talento competente:
- Implemente a tecnologia “com” seus colaboradores e não “para” eles. As tecnologias tendem a funcionar melhor quando são definidas e efetivadas de forma colaborativa com os usuários, pois se não estiverem totalmente imersos no processo de integração digital podem reagir com ceticismo em relação aos resultados esperados;
- Priorize o design do projeto pois, quanto melhor for a interface homem-máquina, tanto mais poderá haver envolvimento dos funcionários com as tecnologias digitais. Além disso, quanto mais intuitivo for o design, menos necessidade e custo haverá para encontrar novos talentos com habilidades técnicas, e;
- Sustente o sucesso do projeto com investimento contínuo no desenvolvimento de todos os níveis profissionais. De forma encorajadora, as tendências em acessibilidade e design sugerem que as organizações devem investir em treinamento e talentos que façam as tecnologias serem mais produtivas, em vez de optar por uma mudança generalizada de pessoal e conjuntos de habilidades.
Finalizando, as organizações podem e devem usar melhor as competências de seus colaboradores, lideranças e gestores para aproveitarem todas as vantagens e recursos das tecnologias da Industria 4.0. Por seu lado, os profissionais que oferecem serviços de treinamento, consultoria, mentoria e coaching podem encontrar oportunidades de mercado ao contribuírem com a solução das dificuldades ou problemas na relação homem-máquina gerada por essa nova revolução industrial. Eis porque eu trouxe a este espaço a expressão Coaching 4.0 como exigindo necessário avanço em práticas, metodologias e instrumentos para o exercício do Coaching. Vejam o vídeo criado pelo Centre for Education Research (http://www.cee-global.com) que aborda a essência desta postagem e boa sorte ao enfrentarem os múltiplos paradoxos do mundo VUCA.
Participe da Conversa