Os Perigos dos Excessos nos Fatores DISC – Fator Conformidade
Pessoas com o fator conformidade com uma intensidade acima da média da população tendem, pela perspectiva comportamental, a ser mais organizadas, detalhistas, perfeccionistas, formais e com uma maior necessidade de estar alinhadas às regras e diretrizes do ambiente no qual estão. Quando esse fator começa a ter um peso maior na maneira como alguém se comporta, podemos começar a notar sinais de maior preocupação com o que pode dar errado, consigo e com os outros, ou com o trabalho em execução. Podem se tornar superpreocupadas com erros no trabalho e exageradamente apreensivas com as pessoas com quem se relacionam, principalmente as que acreditam serem responsáveis.
As informações e os fatos são fontes de segurança para essas pessoas; em razão disso, em situações extremas, correm o risco de entrar em uma espiral sem fim no acúmulo de informações com o objetivo de minimizar riscos, críticas e erros, o que pode até inviabilizar a ação e a solução de um problema. As pessoas com alta conformidade podem criar uma dependência ainda maior à obtenção de informações, para diminuir a chance de errarem, quando, ao mesmo tempo, forem motivadas e atribuírem um forte valor ao conhecimento (fator teórico, pela metodologia de Eduard Spranger).
Seja para o fator conformidade, como para qualquer um dos fatores DISC, quando com excessos e sem que as competências emocionais de autoconsciência e autorregulação sejam bem desenvolvidas, teremos uma maior probabilidade de observarmos pessoas se comportando de maneira nociva, não só em relação àqueles à sua volta, mas principalmente consigo mesmas. Em casos extremos, a necessidade de evitar críticas pode se tornar tão acentuada, que essas pessoas podem ser vistas com um comportamento exageradamente defensivo, cortando comunicações e afastando pessoas, para se preservarem de algo que pode lhes causar muita dor – nesse caso, perceberem que estão errando.
A necessidade de querer fazer tudo de maneira absolutamente perfeita, para evitar falhas e reprovações, pode tornar essas pessoas bastante centralizadoras, com grande dificuldade para delegarem tarefas, não só para outras pessoas, mas curiosamente também para máquinas, sistemas, softwares ou outros recursos que poderiam facilitar ou até mesmo fazer o que estiverem fazendo, inclusive com menores chances de erros. Ao se comportarem de maneira centralizadora, por acharem que assim é mais seguro, o efeito pode até ser o contrário. Ficam tão preocupadas e prisioneiras do próprio pensamento, que, ao não recorrerem a outras pessoas ou recursos materiais e tecnológicos, podem aumentar as chances de erros e prejuízos, além de uma crescente e asfixiante sobrecarga, tanto na dimensão profissional como na pessoal.
Um fato que pode contribuir ainda mais para o aumento da exposição ao risco de errarem, ao não delegarem, ou não compartilharem seus problemas ou medos com outros, é que o fator conformidade é classificado como um fator técnico na teoria DISC – lembrando que a dominância e a conformidade são vistos como fatores técnicos/tarefas, enquanto que a influência e estabilidade são os fatores que facilitam o relacionamento interpessoal. Ao analisarmos isoladamente cada fator DISC, percebemos que a conformidade, dos quatro fatores, é o que mais facilita o distanciamento entre pessoas. Dessa forma, é um fator que pode complicar um pedido de ajuda, o compartilhamento de situações e o trabalho em equipe.
Ao mesmo tempo em que a insegurança em errar é uma relevante fonte de estresse e medo, principalmente para as pessoas de alta conformidade, a possível dificuldade em pedir apoio social pode intensificar as consequências negativas desse traço comportamental, quando esse fator for muito intenso e acompanhado de um fraco respaldo emocional da própria pessoa. Nessa situação, podem, ao invés de procurarem ajuda em alguém, acabar se isolando ainda mais, ouvindo apenas os próprios pensamentos, que serão enviesados pelo seu padrão comportamental predominante, nesse caso a conformidade, que pode fazer as pessoas com esse padrão comportamental buscarem e acreditarem na possibilidade de zero erro.
Essa situação de crescente preocupação em não errar, acompanhada de um aumento no isolamento social, podem ser percebidos através de alguns indícios: a dificuldade ou bloqueio em ouvir opiniões e perspectivas diferentes, a perda de oportunidades de aprender com outras pessoas, a inflexibilidade de mudar a maneira de execução do que está fazendo, a desconexão da realidade ao defender um conjunto de ideias que não possuem lugar no mundo real.
O isolamento social pode aumentar a separação dessas pessoas da realidade, ao passo que a busca excessiva por informações pode contribuir para que, dentro da mente delas, seja idealizado um mundo que pode acabar sendo incompatível com aquele no qual habitam. Essa desconexão com as pessoas à volta, e dos seus rigorosos padrões do que é certo e errado com a maneira como o mundo acontece na vida como ela é, pode contribuir para um aumento significativo do medo em viver no mundo que é, de fato, concreto.
A busca pela perfeição, até uma certa medida e em algumas situações, pode até ser almejada, necessária e admirável. Por outro lado, a expectativa e a crença de que é possível atingi-la na sua plenitude, como regra, podem ser muito perigosas, em um mundo onde a regra está muito mais em evoluirmos pelo exercício da flexibilidade em aceitarmos a impossibilidade do atingimento da perfeição, e pelo respeito e admiração às pessoas à nossa volta, perfeitamente imperfeitas. A aceitação de que é muito mais coerente e factível termos como meta pessoal e profissional a evolução, ao invés da perfeição, pode ser uma perfeita estratégia para o sucesso, em um mundo imperfeito.
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Alexandre Ribas
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