Um CD que fez parte da minha infância, que me deixava entretida com as músicas; hoje faz parte da minha adolescência, quando ao escutá-lo, consigo refletir sobre o que o enredo pode nos apresentar quando nos permitimos enxergá-lo com mais atenção.
O CD infantil apresenta um vocabulário fino e de fácil compreensão. Apresenta também uma alegoria que dramatiza a verdade social implícita na história.
A história consiste em quatro animais, o Burro, o Cachorro, a Galinha e a Gata, que vão se conhecendo ao longo do caminho de uma estrada que os leva até a Cidade, todos procuram por uma vida melhor. Ao escutar a história de cada um é possível fazer uma análise histórico-social de cada personagem. E essa foi a minha.
O Burro é o retirante do Nordeste. Um boia-fria ou um carregador de carga que tem um salário tão pequeno ou inexistente que passa fome. Resolve subir em um pau de arara e foge da sua terra, levando consigo apenas o sonho de ter uma vida melhor. “Não agrada ninguém, nem nome não tem… mas quando a carcaça ameaça rachar que coices que dá”. O animal burro é um animal comum, sem nome, representa o trabalho duro e explorado, vida sofrida, sem recompensa.
O Cachorro é o capataz da fazenda latifundiária, um faz tudo que trabalha pelo prato de comida. Leal ao seu patrão. “Estou às ordens sempre sim senhor. Fidelidade à minha farda… Fidelidade à minha fome, sempre mordomo e cada vez mais cão”. O animal cachorro sempre foi um símbolo de fidelidade.
A Galinha é a mulher da zona rural. Que por falta de dinheiro tem apenas um direito e um dever. O dever de gerar e criar filhos, muitos filhos. Uma galinha bota muitos ovos. O direito de se sentir feliz e realizada ao conseguir ter muitos filhos. E quando velha, a sociedade, quase como uma bondade, a perdoa por não servi-la mais e dá a ela o descanso tão merecido, o descanso encontrado na morte. “Esta velha, te perdoa. Tu ficas na granja em forma de canja. É esse o meu troco por anos de choco”.
A Gata é a mulher da alta elite urbana. Pelo seu dinheiro e status a mulher pode agora sonhar e ter desejos, o que não é possível para a mulher na zona rural. Mas ainda há uma rígida moral, onde não se pode sair na rua de noite em busca de diversão. Deve ser uma dama, se dar o respeito e se comportar. “O meu mundo era um apartamento… me diziam a todo momento: fiquem em casa não tome vento.”
A análise continua. Aconselho ouvirem o CD.
Link original: https://www.youtube.com/embed/VpNTAMQqz4E
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