A desesperança está presente no rosto de muitos brasileiros. Procure ir ao encontro de pessoas que estão desempregadas, endividadas e que dependem exclusivamente dos serviços públicos. Políticos? A quase totalidade deles não as encontra; e por falta de humanidade, escolhe por não vê-las.
Uso transporte público. Frequento escolas de baixa renda. Convivo com famílias que diminuem as porções do que comem para que a mistura dure toda a semana; elas são dedicadas: ensinam valores aos filhos, sabem que a escola não é tão boa… Mas afirmam que ela é melhor do que a rua.
O que me causa imenso descontentamento é a arte que muitos têm de não se importar com o outro. Desde o mais rico até o mais pobre: há o olhar seletivo àquele ser humano que perdeu ou que está próximo de perder a dignidade; uma situação presente é a mínima higiene.
A cidade grande engole as relações de proximidade. Ela quase que elimina do visual tudo aquilo que a mente individual escolhe fazer. Sabemos que a releitura do capitalismo está em curso… Até lá, é preciso promover, engrandecer as ações, os gestos que revinculam o seres humanos.
Há exemplos de países sérios. Neles a política é feita por pessoas íntegras e que trazem no caráter o importar-se com o outro. Há empresas sérias: contratam e desenvolvem pessoas capazes de rever uma ideia e não julgar a pessoa que está logo à frente.
Olhemos ao dia a dia. Fique atento se há exercícios de contra-valores em maior número, quando comparados aos valores que traz desde a cozinha da sua casa. Como se sente em relação a isso? O que pode fazer de diferente para contribuir à realidade ao seu redor?
A vida dói. Há pessoas que passam fome e que sofrem as mais perversas adversidades; estas, causadas por não-humanos. Essas percepções ensinadas a uma criança farão com que a comida pega seja o suficiente e a proteção oferecida pelos pais seja aceita. Há tantos outros infortúnios!
Retomo aqui a convivência com pessoas de baixa renda. Afirmo que a quase totalidade delas, ao final de um dia duro, são capazes de agradecer o pouco que têm e que acabam por não admitir a tristeza. Fazem isto porque vivenciam integralmente momentos verdadeiros do importar-se com o outro.
Compartilho um exemplo presente nesses momentos. Já ao término de um dia de festa em uma empresa do ramo alimentício, um pai, trabalhador da linha de produção pôde levar a sua filha para conhecer o seu ofício. Ela ficou espantada por saber que ele carregava tanto peso e que devido a isto chegava tão cansado em casa.
Eles se abraçaram e caminharam de mãos dadas até o local do sorteio de prêmios aos colaboradores. Eu e o presidente acompanhamos – de longe – cada movimento que pai e filha fizeram. Já emocionado, o presidente disse a frase: “Tenho três filhos e eles nunca conheceram esta fábrica… Também não me abraçam dessa forma. Não quero mais sentir esta tristeza”.
Há muito que fazer. Cada um de nós é capaz de conhecer o que dói em si e é igualmente capaz de se colocar no lugar do outro e refletir sobre o que ele sente. A dor vai chegar… Mas ela passa. A tristeza tem que ir embora junto! Ela é pesada demais e acredite: há pessoas que estão em dificuldades capazes de nos fazer agradecer o segundo de vida que temos.
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