Esta semana ganhou as páginas dos noticiários e das redes sociais o caso da menina de 16 anos que foi estuprada por 30 homens. Um caso horroroso que mostra o lado sombrio do ser humano.
Não demorou muito para que pessoas se manifestassem contra e expressassem sua indignação com o fato, sensação mais do que razoável. Do outro lado outras tantas pessoas justificaram o ocorrido com o argumento que a garota se expôs ao risco, que mereceu, algumas chegaram, inclusive, a dizer que entraram na rede social da garota e postaram fotos dela com armas de traficantes como que querendo delegar a culpa pelo ocorrido à própria vítima.
Sobre o acesso às redes sociais da garota é praticamente impossível, pois o nome dela permanece em sigilo de justiça o que mostra como oportunistas utilizam a rede para argumentar em cima de mentiras e desavisados compartilham estas mensagens como verdadeiras.
Independentemente do ambiente ou atitude da garota é insano querer justificar algo tão revoltante com qualquer que seja o argumento. Tais comentários caracterizam a pouca valorização que estas pessoas têm pelas mulheres. Mais absurdo é ver mulheres com este discurso.
São estas atitudes que criam a cultura do estupro, ou seja, o mecanismo de aceitação e replicação de conceitos que normalizam o estupro com base em construções sociais sobre gênero e sexualidade e que banalizam, legitimam e toleram a violência sexual contra a mulher.
A situação é muito séria e a violência contra as mulheres uma triste realidade a ser combatida. Para se ter uma ideia:
- Uma Pesquisa do Instituto YouGov no Brasil foi feita com 503 mulheres de todas as regiões do Brasil. Destas 77% foram assediadas com assobios, 74% por olhares insistentes, 57% foram assediadas com comentários de cunho sexual, 50% já foram seguidas nas ruas, 44% tiveram seus corpos tocados, 39% foram xingadas, 37% disseram que homens se exibiram para elas e 8% foram estupradas em espaços públicos;
- Treze mulheres são assassinadas por dia no Brasil. Esse é o balanço dos últimos dados divulgados pelo SIM, que tomam como referência o ano de 2014. Isso significa dizer que, no ano em que o Brasil comemorava a Copa do Mundo e se exibia ao mundo como nação cordial e receptiva, 4.757 mulheres foram vítimas de mortes por agressão. Fonte: MS/SVS/CGIAE – Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM;
- Somos o quinto país em violência contra a mulher;
- A cada cinco minutos, uma mulher é agredida – isso contando apenas os casos que foram denunciados, já que muitas mulheres se escondem de vergonha, dor e medo do agressor que em 70% dos casos é o próprio parceiro.
São dados alarmantes que mostram o quão vulnerável está a mulher na sociedade. Vale ressaltar que há também a violência moral e psicológica que fere a alma e na maioria das vezes é o estopim para a agressão física.
Acredito que a melhor forma de combater o preconceito é menos julgamento, mais respeito e empatia. Conceitos e comportamentos que são criados nos primeiros anos de vida através de ensinamentos reforçados pelo exemplo de uma família que respeite o papel de cada um, uma educação que incentive a igualdade e respeito entre as pessoas.
Igualmente importante, a promoção de debates em relação ao tema e a garantia de punição aos agressores.
O caminho é longo, mas não podemos desistir de criar uma sociedade mais justa, independentemente de gênero, raça, credo, orientação sexual, identidade de gênero, condições sociais e econômicas ou qualquer outra diferença, pois na essência somos uma sociedade diversa. É preciso tomar esta consciência e aceitar o outro e a si mesmo como somos.
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