O que preciso saber para compreender as pessoas? Como é que as pessoas são? O que elas aspiram? O que as limitam?
Compreender o ser humano é o nosso maior desafio como seres humanos. É o que se propõe a filosofia, a psicologia, a psiquiatria, a sociologia, a antropologia, sob aspectos diferentes.
Sócrates já dizia: “Conhece-te a ti mesmo”. Para viver melhor, é preciso me compreender e compreender as pessoas com as quais convivo: meus filhos, meu esposo ou esposa, meus colegas de trabalho, meus chefes e subordinados.
Esta compreensão precisa ser coerente. O que isso significa? Significa, na prática, que aquilo que alguém ensina ou cobra seja coerente com aquilo que vive ou pratica. O que é que os filhos cobram dos pais? O que os subordinados cobram de seus líderes? O que os fiéis cobram de seus pastores?
Entendimento coerente das pessoas significa o quê?
Significa que eu me proponho aceitar as pessoas como elas são, entendendo que elas e eu somos parte do mesmo mundo, temos a mesma dignidade, porque fazemos parte do mesmo espaço vital, temos nossas dúvidas, nossas conquistas, nossos anseios, nossas preocupações, nossos direitos e deveres. Ninguém é mais do que ninguém. Somos diferentes, cada um expressando a seu modo a vida e seu jeito de ser. Aqui vale a regra de ouro, ditada pelos maiores mestres da humanidade: “Não faças aos outros o que não queres que te façam!”
Para buscar esta coerência de forma assertiva, estou propondo três premissas básicas que vão nos orientar nessa importante tarefa.
1ª Premissa: Felicidade como impulso básico
Preciso, acima de qualquer coisa, entender que as pessoas querem ser felizes. Querem deixar de sofrer. Querem encontrar paz e estar melhor com a Vida e as outras pessoas. Tudo que as pessoas aprenderam até aqui, tudo que fizeram até aqui – foi tudo buscando a felicidade. Sempre que se comportaram direitinho, seguindo as normas do meio em que viveram e vivem – buscavam e ainda buscam ser bem vistos, bem aceitos – para serem felizes. Sempre que se revoltavam, eram agressivos, odiavam alguém ou alguma coisa – no fundo era porque se sentiam, de alguma forma, impedidos de terem alguma coisa, de serem estimados – porque queriam ser felizes. Trabalhando, passeando ou jogando, tomando remédio ou tomando droga – queriam ser felizes, acima de tudo… Até mesmo quando assaltavam ou matavam…
Mas… No mundo do dia a dia, em que as coisas estão sempre mudando, também a felicidade é relativa, é condicionada. Se eu ganhar na loteria…. Se eu encontrar o homem (ou a mulher) certo(a) … Quando me casar… Quando tiver filhos… Quando obtiver o divórcio… Quando comprar AQUELE carrão… Quando… Se… Até que… Tomara…
As pessoas confundem sentir prazer com ser feliz. Sentir prazer é muito passageiro. Logo preciso de mais, mais, mais. E cada vez que termina, gera ansiedade e precisa buscar mais. Mas sobra sempre o sofrimento. Dinheiro, droga, sexo, carro novo, férias, MBA, o mais novo celular… Tudo passa.
Mas, existe uma Felicidade Livre, uma Felicidade não condicionada? Para ver isto, tenho que mudar minha forma de ver as coisas, mudar minha paisagem mental.
Sou realmente feliz, de uma forma completa quando consigo me conectar com a Vida como ela é! A felicidade é determinada mais pelo estado mental de serenidade, originada do afeto e da compaixão. Se estou conectado com a Vida, o amor de alguém me dá uma sensação de felicidade, o olhar de uma criança, uma paisagem, uma música… São sensações de paz e harmonia que brotam de meu interior.
Os acontecimentos externos estão sempre mudando, têm começo, meio e fim. Se me apego a eles, acabo sempre em frustração, em insatisfação, com uma sensação de perda. Mas é possível, sim, encontrar a paz interior, a alegria de viver, a felicidade de apreciar a vida em todas as suas expressões.
2ª Premissa: Cada um faz o seu melhor.
As pessoas estão sempre fazendo o melhor que podem. Desde o bebezinho que engatinha e começa a dar os primeiros passinhos e já busca com o olhar o sorriso e a aprovação dos que o cercam. Estamos sempre buscando agradar alguém ou uma organização em FE (Faixa Externa) ou a si mesmo e a seu interior em FI (Faixa Interna). O santo ou o bandido estão sempre fazendo o melhor que podem – em busca da felicidade. E para isso usam dos recursos que têm. A seu modo, estão correndo atrás da felicidade. Você é o melhor filho ou filha que pode ser, o melhor cônjuge, o melhor pai (mãe) que pode neste momento ser, o melhor funcionário, o melhor jogador, o mais inteligente que pode ser. Até mesmo o melhor político, o melhor bandido…
Mas, tudo tem seus limites e sempre se pode ir além deles. Olhando a nossa volta, vemos que tudo tem começo, meio e fim. Quando um ciclo está prestes a esgotar sua energia, ou é absorvido por outro, ou se abre para um novo ciclo, rompendo seus limites. Na verdade, sempre temos uma reserva infinita de energia para criar novos espaços. Podemos sempre nos expandir para algo novo, podemos nos renovar, nos transformar.
E, na verdade, os limites só existem em nossa mente. Nós é que os estabelecemos. A ciência e a tecnologia são a maior prova disso, pois estão sempre rompendo aquilo que parecia definitivamente estabelecido. O que era verdade científica até ontem, hoje já está superada por novas descobertas, por um novo olhar. O carro último tipo, o computador mais avançado, o mais novo smartphone…
Mas, para romper os limites, alguém teve que mudar o modo de pensar, o jeito de fazer… Temos primeiro que ter coragem de cair fora da caixinha… e isso nos dá medo! É mais fácil obedecer às normas, seguir o que já está estabelecido, reclamar ou aplaudir, “fica na sua”, “não seja bobo… não vai dar certo… isso já foi tentado e não deu em nada…” Mas, se quero mudar alguma coisa, tenho que mudar o modo de ver a coisa, ampliar o horizonte de minha visão.
3ª Premissa: Não tenho controle sobre coisas e pessoas – tenho conexões
A gente vive querendo ter tudo sob controle: os filhos, o marido ou a esposa, a equipe, a empresa, o trânsito, o carro, até mesmo o clima, a chuva, o mercado… Querer ter controle significa colocar coisas e pessoas a meu serviço. Então estudo técnicas de administração, isto é, de como controlar melhor e com mais eficiência. Mas as coisas se desgastam, apodrecem, as técnicas são superadas, as pessoas adoecem, mudam de opinião, fogem, agridem, se magoam… Os mercados oscilam, os membros das famílias brigam, se separam, os amores viram ódio, as pessoas nos enganam… As pessoas têm vontade própria, não se submetem… e quando se submetem, perdem a graça.
Mas, estar ligado às pessoas, aos outros seres, não depende de querer ou não querer. Nós já estamos de fato ligados a tudo: ao clima (chuva, frio, calor). Às pessoas na família, na empresa, nas lojas, no trânsito, à moda, aos costumes, às leis, ao idioma que falo, a minha cidade, meu estado, meu país, meu planeta…
As conexões existem, independentemente de eu gostar ou não gostar, e até mesmo de eu saber ou não saber que estão aí. De mim, na verdade, só depende a forma como me conecto, de que jeito encaro. Depende de mim se apenas quero usar dos outros e das coisas como recursos a meu serviço ou se me ponho de igual, com postura de troca, buscando compartilhar com os outros a mesma vida que é comum a todos nós. Sou eu quem decido se quero me dar bem, se quero respeitar.
Então, qual é mesmo a atitude interior que se espera de um Líder?
O que se espera é que ele esteja mentalmente aberto, centrado, atendendo as pessoas numa atitude amiga, aceitando-as como elas são, com respeito profundo por tudo aquilo que elas representam. É preciso estar atento para não deixar que os preconceitos, os modelos mentais que tenho, conscientes e inconscientes (raça, religião, profissão, classe social, jeito de se vestir, de falar, etc.) tomem a frente.
Interiormente agradeço à Vida a oportunidade de compartilhar com elas meu jeito de ser, aceitando seu jeito de ser, sem julgamentos. “Paz e Amor” foi e continua sendo o grande grito de busca das pessoas em todas as épocas – a minha busca e a das pessoas com quem convivo e troco energia. Já dizia o grande Mestre: “Não julgueis para não serdes julgados, pois na medida com que julgardes vós sereis julgados.”
Essas 3 Premissas básicas e seus complementos não são regras de bom comportamento, não são normas para dirigir nossas condutas. São princípios de sabedoria, colhidos dos grandes mestres da sabedoria, tanto do Ocidente como do Oriente, que nos permitem ter um olhar de compreensão mais amorosa sobre as pessoas e comunidades com quem convivemos. Nos permitem viver em paz com nós mesmos e com as pessoas.
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