A ansiedade, angústia e a correria que tenho acompanhado pela tevê sobre o ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio, nas últimas semanas, me chamaram a atenção. Além do empenho dos jovens, famílias inteiras se envolvem emocionalmente com a realização da prova. Aliás, não é apenas isso. Cada candidato representa um sonho, uma carreira, um futuro. Nas entrevistas escutei gente falando do sonho de fazer direito, engenharia, medicina, jornalismo e tantas outras carreiras… Esse alvoroço me fez pensar: será que essa população inscrita no Enem tem noção de que algumas profissões estão com os dias contados e eles podem dar início a um projeto obsoleto?
Como palestrante motivacional sou frequentemente convidada por universidades para dar uma injeção de ânimo nessa moçada que está se preparando para um mercado altamente exigente e inovador. Muitos deles passaram pela pressão do Enem, do vestibular e agora que ingressaram na universidade, buscam um estágio para colocar em prática o que aprendem na faculdade. Numa ocasião recente, eu me deparei com alunos da Unicamp – Universidade de Campinas – SP. Vibro com esses convites! Eles são um termômetro para a reinvenção da minha carreira e do impacto dos temas que abordo. Gente jovem, antenada com as tendências, aparentemente pronta para novas experiências. Mas, será mesmo?
Quando cheguei à universidade e vi aquela moçada bonita aguardando a minha palestra rejuvenesci! Mas a boa impressão logo deu lugar à indignação. Quando conversei com alguns grupos espalhados pelo campus, antes do início do evento, detectei que a atmosfera comum entre eles era de certo nervosismo, irritação e depressão! Uau! Aqueles caras e garotas no vigor da juventude e a vida inteira pela frente, quando tratavam sobre perspectivas de futuro, carreira e autorrealização, apresentavam muito menos vivacidade e ânimo que alguns idosos que conheci em uma casa de repouso. Cadê as mentes startups que deveriam estar ali? Tive dificuldade para encontrar e na minha busca perguntei para alguns universitários quais eram seus sonhos.
– Não sei ao certo! Mas, o que eu preciso mesmo é terminar a faculdade e dar sorte para conseguir trabalhar na área – disse uma aluna do curso de Arquitetura.
– Sinceramente, eu nem consigo pensar direito sobre isso. Estou fazendo um curso que não é bem o que eu gostaria, mas nem posso pensar na possibilidade de falar sobre isso com meus pais – falou o jovem da Engenharia Química.
– Olha, eu estou muito mal! Concorri a uma vaga para o estágio da minha vida e estou péssimo porque não consegui – revelou o carinha da Engenharia de Alimentos.
A Unicamp conta com aproximadamente 34 mil alunos matriculados em 66 cursos de graduação e 153 programas de pós-graduação. Com esse universo de possibilidades, essas são as perspectivas desses três jovens? Eles estão depressivos porque não sabem se a sorte vai pender em favor deles para ter um emprego? Ainda tem jovem fazendo uma graduação que não se identificou, para não “desperdiçar” o que cursou e não ter confronto com os pais? E, ainda o outro está deprê por que não conseguiu o estágio da vida? Afinal, em que mundo eles estão vivendo?
A perspectiva de vida do homem aumentou. O mundo científico afirma que grande parte da humanidade vai viver saudável física e intelectualmente até 120 anos. Estou me preparando para ser uma dessas pessoas e continuo fazendo estágio até hoje. Qual é a perspectiva de se ter o “estágio da vida” aos 20 se eles vão viver até os 120? A própria vida é um grande estágio! É possível transformar o meio em que vive em um celeiro de conhecimento e oportunidades empreendedoras, basta ampliar a visão e fazer voos panorâmicos.
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