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Protocolos e contrapartes!

O ser humano é capaz de criar personagens e interpretá-los de acordo com o momento ou com seus interesses. Assim somos capazes de modificar nosso comportamento de acordo com a pessoa que está diante de nós.

Olá,

Você deve estar pensando se vale a pena ler um artigo com este título. Garanto a você que vale e vale muito.

Hoje quero falar com você sobre uma das minhas crenças mais antigas e que se refere à pluralidade do ser humano.

Dizem os antropólogos e alguns bons biólogos que conheço que o ser humano possui entre os outros animais uma anomalia na estrutura cerebral que nos permite visualizar e acreditar em cenários que não existem de fato. Somos, segundo eles, os únicos seres vivos capazes de fantasiar com os elementos da vida o que nos permite contar histórias fantasiosas.

Desde o princípio da comunicação humana, nossa cultura foi passada para as novas gerações através de histórias contadas, isto aconteceu em volta da fogueira, passou para as folhas de papiro, papel, paredes e hoje existe através de posts em redes sociais. Ou você acredita em tudo que lê nos posts da sua rede social preferida?

Seja como for, esta anomalia permitiu que o ser humano fosse capaz de criar personagens e interpretá-los de acordo com o momento ou com seus interesses. Esta habilidade está em tudo o que fazemos, mas de maneia geral, fazemos mais uso dela com o intuído de atender a um desejo ancestral e primário de ser aceito em nosso grupo.

O que rege a formação de nossos personagens é a necessidade de ser aceito no grupo!

Ok, você pode estar se questionando e dizendo que não, que você não é assim e que tudo o que você faz é calcado em ser você mesmo e um monte de outras frases saídas dos livros de autoajuda com incrível similaridade com as respostas dos integrantes do Big Brother Brasil quando são questionados sobre suas estratégias de jogo.

Vou fazer um pequeno desafio sobre sua capacidade de interpretar personagens, de acordo com a sua necessidade de ser aceito. Chamo isto de síndrome da madrinha de casamento:

  • Quando você está em um casamento, cerimônia ou festa, você observa os demais para ver se está de acordo?
  • Quando é convidado para uma festa, preocupa-se com que traje deve usar?
  • Quando em um restaurante, o garçom serve o vinho, você cheira a taça sem saber o que procurar?
  • O seu comportamento em ambiente de trabalho é exatamente igual ao da sua casa?
  • Sua casa com visitas e sem visitas funciona da mesma forma?

Todas estas perguntas levam a refletir como somos capazes de modificar nosso comportamento de acordo com a contraparte, ou seja, de acordo com a pessoa que está diante de nós.

Este é um processo de defesa natural do ser humano que busca ser aceito em seus arranjos sociais em decorrência de necessidades básicas como aceitação e proteção.

Se isto é verdade, por que fomos educados para nunca usarmos máscaras e sempre sermos verdadeiros?

Minha mãe, que Deus a tenha, dizia que “quem fala a verdade, não merece castigo”. Pelo sim pelo não, eu procurava criar algumas verdades alternativas. Somente para garantir.

Hoje, com meus filhos já crescidos entendo a filosofia de atuação da dona Lina. Quando estamos lidando com crianças e adolescentes, tentar lidar com os múltiplos personagens é um desafio de altíssimo risco e, portanto, orientamos para que este processo de defesa não seja acionado. Buscamos o tempo todo conquistar a confiança e nos recusamos a acreditar que aquelas criaturas não estão sendo cem por cento sinceras.

Nenhum pai ou responsável ficaria tranquilo em saber que seu rebento ou tutelado está atuando da forma como você espera que ele atue simplesmente para atender seus desejos pessoais e não porque verdadeiramente concorda contigo. Esta é uma situação improvável.

Assim passamos anos e anos sob a tutela de pais, professores e demais elementos educadores que, nas expectativas de nos colocar no caminho correto, suprimiram nossa capacidade de interpretação e de negociação através do processo de correção de protocolos de comportamento. Mas, e sempre existe um mas, a natureza se impõe a qualquer plano e com o tempo passamos a exercer este papel mesmo que de maneira inconsciente.

Desenvolvemos uma forma de lidar com nossos professores, que difere da forma como lidamos com nossos pais, que por sua vez difere da forma como lidamos com nossos amigos de turma e assim por diante. Nosso protocolo de comportamento está diretamente relacionado com o a contraparte. Atuamos de maneira a atender expectativas e evitar conflitos.

Em alguns casos, considerados patológicos, o protocolo é desenhado para criar o conflito e com isto chamar mais atenção. Necessidade de atenção pode criar distorções de comportamento como a vitimização ou a rebeldia. Busque mais detalhes no trabalho do Sigmund.

O grande segredo que quero compartilhar com você é a capacidade que temos de provocar comportamentos esperados em outras pessoas através da execução de nossos personagens. Este é um segredo tão bem guardado que nem mesmo nosso consciente é capaz de identificá-lo.

Certamente você deve conhecer a história, ou uma de suas muitas variações, do monge que tenta salvar a cobra de um incêndio e toda vez que se aproxima a cobra tenta picá-lo. Quando indagado sobre porque insiste em salvar uma cobra que não quer ser salva ele diz que picar é da natureza dela, salvar é da minha e não vou mudar a minha em função da dela.

Aplicando este conceito às relações humanas, percebi ao longo dos anos que podemos utilizar nossos personagens para provocar comportamentos de contrapartida.  Vamos considerar um cenário simples onde a relação de um casal está se deteriorando e com o passar do tempo, eles passaram a se tratar como irmãos ou pior, como amigos que vivem juntos. Recebo muitos maridos com esta queixa.

Como fazer para que a outra pessoa volte a se comportar como membro efetivo de um casal: Trate-a como a contraparte. Se você se comportar como marido e não como amigo, automaticamente a contraparte se comportará como esposa. O contrário também é verdadeiro. Se a esposa se comporta como tal, o marido irá responder.

No ano de 2014 recebi um caso que foi emblemático. Um casal com três filhos, duas meninas e um menino, procuraram por auxilio, pois o menino era indomável, hiperativo, malcriado e uma série de queixas que apresentavam o menino como um caso perdido.

Bastaram duas sessões com o jovem que tinha perto de doze anos para perceber que havia uma falha no processo de contrapartes. Ele não se comportava como filho porque os pais nunca se comportaram como tal. Os comportamentos básicos como amor incondicional, limites e exemplo, simplesmente inexistiam.

Bastou corrigir os personagens dos pais para que o personagem do garoto aflorasse de maneira completa e aceitável. Foi um caminho difícil, mas funcionou.

O que impede a maioria das pessoas de atuar com seus personagens é a visão deturpada da obrigatoriedade. Na maioria das vezes que proponho esta técnica, recebo como defesa a frase:

“Por que sou eu que tenho de mudar?”

A resposta fica para encerrarmos com uma reflexão.

Não podemos mudar diretamente o comportamento de outras pessoas. Estes comportamentos são reflexos do nosso comportamento. Quem é inteligente emocionalmente e controla seu protocolo de comportamento, certamente será capaz de influenciar e controlar o comportamento da contraparte.

Sei que você que me acompanha é inteligente e que vai observar melhor seu comportamento.

Conte-me como usou e se funcionou.

Edson Carli

Edson Carli Author
Edson Carli é especialista em comportamento humano, com extensa formação em diferentes áreas que abrangem ciências econômicas, marketing, finanças internacionais, antropologia e teologia. Com mais de quarenta anos de vida profissional, atuou como diretor executivo em grandes empresas do Brasil e do mundo, como IBM, KPMG e Grupo Cemex. Desde 2003 está à frente do Grupo Domo Participações onde comanda diferentes negócios nas áreas de consultoria, mídia e educação. Edson ainda atua como conselheiro na gestão de capital humano para diferentes fundos de investimentos em suas investidas. Autor de sete livros, sendo dois deles best sellers internacionais: “Autogestão de Carreira – Você no comando da sua vida”, “Coaching de Carreira – Criando o melhor profissional que se pode ser”, “CARMA – Career And Relationship Management”, “Nut’s Camp – Profissão, caminhos e outras escolhas”, “Inteligência comportamental – A nova fronteira da inteligência emocional”, “Gestão de mudanças aplicada a projetos” (principal literatura sobre o tema nos MBAs do Brasil) e “Shé-Su – Para não esquecer”. Atual CEO da Academia Brasileira de Inteligência comportamental e membro do conselho de administração do Grupo DOMOPAR. No mundo acadêmico coordenou programas de pós-graduação na Universidade Mackenzie, desenvolveu metodologias de behaviorismo junto ao MIT e atuou como professor convidado nas pós-graduações da PUC-RS, FGV, Descomplica e SENAC. Atual patrono do programa de desenvolvimento de carreiras da UNG.
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