Hoje gostaria de explicar os reais motivos que levam as pessoas a gastarem mais do que ganham, mas para isso é preciso uma visão que vá além das questões relacionadas aos altos preços e aos salários baixos. Por isso, é preciso quebrar paradigmas.
Os motivos que levam as pessoas a consumirem mais do que deveriam começaram ainda na infância, ao observarem o comportamento dos pais quando trocavam o dinheiro que tinham por um produto ou serviço. Ali, deu-se o primeiro contato com essa prática. Mas veja alguns exemplos práticos desse processo:
- A pessoas não sabiam ler nem escrever, mas rapidamente entenderam que o dinheiro servia como uma moeda de troca para os sonhos e desejos, tais como chocolates, doces, sorvetes, figurinhas etc.
- Será, no entanto, que os pais sabiam como administrar da melhor maneira possível esse dinheiro? E mais, o que esses adultos puderam passar para as crianças sobre isso? Enfim, aprendemos a… gastar!
- No período escolar, as crianças aprendiam a ler, escrever, somar, subtrair, multiplicar e dividir. E, com isso, a trabalhar com o dinheiro, recebendo, comprando e até conferindo o troco. Entendemos como… gastar!
- Na adolescência, recebiam dinheiro dos pais/responsáveis ou de algum outro parente e o usavam para desejos imediatos, como baladas, passeios, roupas e eletrônicos, buscando sempre estar na onda do consumismo. Sentimos o prazer de…gastar!
- Na transição da adolescência para a vida adulta, antes mesmo do trabalho, continuaram recebendo a chamada mesada. Até a chegada do grande momento, que é o primeiro emprego. A partir daí, começaram a vender as horas de trabalho e a receber por elas. Boa parte das pessoas imaginava ser independente, isto é, poder ganhar o próprio dinheiro e a autonomia sobre ele. E o que fizemos com ele? Gastamos tudo!
Assim, as pessoas, ao terem os próprios ganhos, por conta dessa visão equivocada, passaram a gastar o salário e a contar com a ajuda de alguns benefícios, como o crédito (cartão de crédito, limite de cheque especial, crediários, diversos outros). Trata-se de uma substituição: o que antes era pedido aos pais agora é solicitado a uma instituição financeira, acrescido de juros.
O comportamento adquirido na infância, ao observarem a maneira como os pais lidavam com o dinheiro, faz com que, na fase adulta, elas acabem tomando-o como verdadeiro e criando um péssimo hábito de gastar além do que deveriam.
Diferentemente do que muitos acreditam, a educação financeira deve ser encarada como uma ciência humana, e não exata. Ela não se refere a cálculos e planilhas, que são excelentes ferramentas e devem ser usadas para entender quantias, mas não para lidar com o dinheiro.
O caminho ideal é inserir conceitos que eduquem financeiramente desde a infância – momento em que a descoberta se inicia – passando por toda a juventude – fase de exploração em que alguns hábitos são consolidados – até a fase adulta, quando conhecimentos adquiridos serão apresentados em forma de escolhas conscientes, promovendo, inclusive, a saúde financeira, uma das responsáveis pelas demais saúdes.
Eis um desafio: entender que a saúde financeira é tão importante quanto a saúde física ou mental, por exemplo, e que, por isso, não se pode descuidar de nenhuma delas. Infelizmente, grande parte dos adultos de hoje não teve conhecimentos necessários a respeito desse importante conteúdo durante a vida.
Gastar sem limites foi o que a maior parte das pessoas aprendeu. Para mudar esse quadro, é preciso buscar um novo jeito de fazer o dinheiro ser, de fato, algo que leve as pessoas a terem uma melhor qualidade de vida. Por isso, procurar entender que educação financeira não trata apenas de administrar dinheiro, mas sim de muitos outros aspectos, pode tornar possível vincular os sonhos aos objetivos de vida.
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