Aprender a equilibrar e usar de forma responsável os recursos eletrônicos se tornou uma necessidade em nossa sociedade. A era digital nos trouxe inúmeros benefícios, mas também consequências e prejuízos, gerando afastamento em nossos meios sociais. A tecnologia possui muitos usos positivos, mas, como qualquer outra coisa, precisa haver um equilíbrio em quanto tempo é gasto na utilização de eletrônicos e na forma como nos relacionamos com eles.
“Mais atividade ao ar livre e menos tela”, é o que orienta a Academia Americana de Pediatria. Muito tempo sentado promove maus hábitos alimentares e falta de exercícios físicos. Estudos demonstraram que crianças que passam mais de 2 horas por dia na frente da TV têm um vocabulário mais limitado, problemas de aprendizagem e estão mais em risco de transtorno de déficit de atenção.
Estudos também apontam que as habilidades escolares das crianças diminuem com o aumento do uso de eletrônicos. Segundo Rudimar Riesgo, chefe do Serviço de Neuropediatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, “a inteligência das crianças precisa de um alicerce, que é feito pelo aprendizado de coisas psicomotoras, como encaixar objetos, tocar em diferentes consistências, andar de pés descalços. Oferecer tecnologias muito cedo seria como construir um prédio pelo topo”.
Precisamos ajudar as crianças a desenvolverem um relacionamento saudável com a tecnologia, adquirindo um pensamento crítico e identificando o que é importante na informação. Um desenvolvimento saudável depende do encontro com o outro. Nenhuma máquina é capaz de substituir o relacionamento humano.
A psiquiatra infantil, Dra. Victoria Dunckley, em suas pesquisas, constatou que o tempo excessivo na tela estimula demais o sistema nervoso, o que pode resultar em distúrbios do sono, alterações de humor, problemas de concentração e interesses restritos fora do uso de dispositivos eletrônicos. Através de seu trabalho com crianças e adolescentes, ela descobriu que o uso excessivo de tela atua como um psicoestimulante semelhante à cafeína, anfetaminas ou cocaína.
O tempo de tela inclui assistir a programas de TV, filmes ou vídeos, jogar videogames, usar computador, tablet, celular ou qualquer aparelho com uma tela. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), é que crianças de até cinco anos de idade não devem passar mais de 60 minutos por dia em atividades passivas diante de uma tela de smartphone, computador ou TV. Já os bebês com menos de 12 meses de vida, não devem ficar tempo nenhum em frente a dispositivos eletrônicos.
O uso excessivo, afeta a forma como pensamos e nos relacionamos. Pode ainda, ocasionar o isolamento do convívio social, sedentarismo, obesidade, dificuldades motoras, problemas comportamentais e dependência, gerando agitação, inquietação e mudanças no comportamento. Já existem dados que associam o excesso de uso de eletrônicos com o aumento de doenças como ansiedade e depressão e maior risco de suicídio.
Não adianta condenar a tecnologia, mas precisamos refletir sobre o que podemos fazer. Esteja atento ao acesso a conteúdos inapropriados. Instrua-os sobre como manter um comportamento online adequado. Explique os perigos de compartilhar informações pessoais nas redes. Usado com moderação e de forma correta, alguns jogos e aplicativos trazem contribuições e preparam para o mundo digital.
Para uma utilização saudável, faça acordos com seus filhos sobre quanto tempo é razoável para assistir à TV, jogar videogame, usar o celular e navegar na internet. Seja você o seu maior exemplo de uso equilibrado. Deixe a criança, no máximo, duas horas em contato com dispositivos eletrônicos e tente ocupar o restante do tempo com livros, brincadeiras e jogos interativos.
Precisamos pensar sobre as consequências e o impacto disso tudo em nossas vidas. Refletir sobre como tudo isso está nos conduzindo para um grande vazio. Como podemos minimizar a ansiedade e a forma acelerada que estamos vivendo, resgatando a contemplação da natureza, da arte, o desenvolvimento de nossa espiritualidade e de nossos relacionamentos. É possível cultivar uma calma interior, o sentido de completude e do preenchimento existencial, através de escolhas mais conscientes.
Danielle Gomes
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