Questionar, Ousar e Confrontar
” Todos os grandes líderes têm tido um pecado característico em comum: a disposição para confrontar inequivocamente; isto é a essência da liderança.” John K. Galbraith (economista norte americano / 1908-2006)
Confrontar ancorado na verdade ou navegar através das ondas da mentira?
É muito comum nas organizações que as pessoas não se expressem com a franqueza necessária para expor suas ideias principalmente quando contrariam o “senso comum”; e isto ocorre devido ao receio da exposição e temendo causar conflitos.
Estima-se que, por temer o confronto e para não chamar atenção para si, mais de 80% dos executivos de alto escalão, escondem-se atrás das “verdades” estabelecidas; merecem estes profissionais serem chamados de executivos?
Se, executivos com posições relevantes em suas organizações, tivessem colocado suas opiniões de maneira incisiva para confrontar decisões corporativas, problemas e até grandes tragédias poderiam ser evitados. Exemplos recentes não faltam:
- Acidentes fatais envolvendo veículo Ford Explorer equipado com pneus Firestone na década de 1990;
- As mortes causadas em decorrências de falhas nos “airbags” mortais produzidos pela empresa japonesa Takata. A empresa equipou milhões de carros produzidos ao redor do mundo e decretou falência em 2018;
- As tragédias ambientais de Mariana e Brumadinho provocadas pela mineradora Vale.
Estes são apenas alguns exemplos de eventos que, certamente, teriam sido evitados. Porque, com certeza, muitos executivos nestas organizações dispunham de informações e conhecimento de fatos e suas consequências e… preferiram calar-se.
Por outro lado, aqueles que em sua vida profissional e pessoal ousaram questionar e, na maioria das vezes, confrontar para expor suas ideias, foram responsáveis por inovações que mudaram o rumo da história e da humanidade. Pode-se dizer que seriaa inimaginável viver sem as inovações das últimas décadas. Elas foram fruto de questionamento, ousadia e confrontação daqueles que decidiram sair do lugar comum e inovar. Algumas destas inovações: automação industrial, computadores pessoais, internet, redes sociais, smartphones, inteligência artificial… e muitas outras.
A atitude de nadar contra a maré é claramente perceptível nas “start ups” que ousaram desafiar o “status quo” para inovar. Muitas destas empresas que iniciaram suas atividades fruto do sonho de alguém, transformaram-se então no que chamamos de “unicórnio” ao atingirem valor de mercado superior a US$1bilhão. Por exemplo: Uber, Xiaomi, WeWork, Space X, Snapchat, Spotify. No Brasil, também, temos excelentes exemplos para citar – Nubank, Ifood, PagSeguro, Movile, 99.
Por que, então, grandes inovações não ocorrem, ou ocorrem em pequena escala, em grandes corporações?
A resposta talvez esteja no fato de que as empresas não estimulam nem encorajam seus colaboradores a desafiarem uns aos outros e a discordarem entre si; e, o pior, pesquisas têm demonstrado que mais de 80% das lideranças temendo questionar e confrontar, têm enorme receio de levantar questões polêmicas e discordantes da voz corrente pensante que predomina na organização.
O conflito pode ser desconfortável e arriscado. Mas o “conflito construtivo” pode ser a chave que abre as portas para a resolução de problemas. Colaboradores e equipes deveriam ser estimulados a ter a coragem de enfrentar a autoridade e expor suas opiniões. Este sistema de comunicação honesta traz muitos benefícios; um ambiente franco permite que todos contribuam com ideias e possam assim melhorá-las. E, quando opiniões honestas são expressas livremente, propostas inovadoras surgem e, após avaliadas, podem ser aceitas ou rejeitadas.
Entretanto, é preciso mudar o “mindset” de todos os colaboradores para que a franqueza seja predominante. Para que isto ocorra, devemos permanentemente estimulá-la através de atitudes simples. Por exemplo: oferecer o espaço para a confrontação; evitar julgamentos; estabelecer um sistema para, de alguma forma, recompensar e exaltar o comportamento de pessoas que ousem e desafiem o sistema vigente. Isto é fundamental para a sobrevivência de nossas organizações. Especialmente em um mundo em constante mudança onde o clima interno de franqueza e confrontação é o maior segredo de sucesso.
E qual o elemento essencial para estabelecer este processo de criar o ambiente questionador e confrontador que leve a uma nova forma de pensar, de ser e de agir para que inovações e grandes mudanças (mesmo que em etapas) ocorram visando as constantes transformações exigidas pelo ambiente externo?
Com toda a certeza, o comportamento das lideranças nas organizações é o ponto de partida para criar o sistema de aceitar o conflito construtivo. Uma ferramenta poderosa para pensar e discutir um problema ou situação que requer mudança. E permitir que, de forma construtiva, todos sintam-se livres para questionar a maioria sem que isto seja considerado uma “afronta à autoridade.
E líderes com este tipo de conduta fazem muita falta em nossas organizações… infelizmente. Convém lembrar-lhes a frase de Platão:
“Uma vida não questionada não merece ser vivida”.
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Walter Serer
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