Quando se fala de saúde no Brasil, é inevitável pensarmos em algumas questões como: altos investimentos, nem sempre suficientes ou bem gastos; a insatisfação com o sistema de saúde em geral, em que se pese a existência de algumas ilhas de excelência; a mediana relação médico/paciente, a desconfiança dos planos de saúde com prestadores e clientes e, já tangenciando nosso assunto, a insatisfação dos clientes. Um ambiente instável.
Neste caldeirão, sobressai-se, ainda, uma questão relevante que pode significar perda de qualidade de vida e até a morte de muitos pacientes, trazendo desgostos, perda de recursos, insatisfação pela não aderência aos tratamentos indicados. A OMS – Organização Mundial de Saúde relata que 50% dos doentes crônicos, abandonam o tratamento, e isto sem levar em consideração os não crônicos e, possivelmente, este número pode piorar. O que ocorre?
Os dados apresentados, nos levam a acreditar que o abandono de tratamentos por parte dos doentes vem se tornando uma verdadeira “dor de cabeça”, visto as consequências na saúde física e psíquica das pessoas, pelas suas repercussões como recidivas, gastos não previstos e toda uma logística reempregada.
Os pacientes, por muitas vezes, não valorizam e pouco se interessam, embora certamente tenham a informação dos benefícios do autocuidado, com práticas prevencionistas, voltadas para a qualidade de vida, bem como, no abandono. Pouco conhecem dos reais impactos pessoais na saúde, emocionais para os familiares e econômicos para a sociedade.
Nesta problemática, certamente, estão envolvidas questões de baixa tangibilidade, como autoconhecimento, autogestão da vida e, em particular, da própria saúde, baixa autoestima por motivação não esclarecida, falta de estabelecimento de um processo de confiança no profissional da saúde, quando olhamos pelo ponto de vista do cliente e/ou paciente.
Por outro lado, cabe aos profissionais de saúde, discutir e entender um pouco mais de empatia, a competência de lidar com emoções alheias e a arte de formular perguntas poderosas, tão importantes no processo de Coaching, como aquisições fundamentais na melhoria dos resultados esperados.
Quais são algumas das intervenções que o Coaching pode fazer pelas pessoas que abandonam tratamentos?
- Identificar o motivo real do abandono;
- Trabalhar compreensão do quanto impactante pode ser o descuido com a saúde, trazendo-o para a realidade, através da formalização do processo que se encontra;
- Elevar a autoestima, através da tomada de consciência e pela responsabilização;
- Identificar e/ou construir um plano de ação na busca de um objetivo. A motivação deve ser orientada para resistir, apesar dos obstáculos, baseado em esperança de sucesso em vez do medo do fracasso;
- Melhoria do autoconhecimento, com conscientização e adaptabilidade.
E com os médicos, o que ocorre?
De um modo geral, os profissionais médicos, durante a sua formação, pouco aprendem sobre alguns aspectos fundamentais que certamente ocorreriam em algum momento da sua vida profissional. Desde que, ele, mesmo com um simples consultório, será um dono de uma empresa que, além dos aspectos burocráticos, comuns aos negócios, terá funcionários e terá clientes, a quem muitos chamam de pacientes.
Uma outra possibilidade de ocorrência é um certo “isolamento” que a classe sofre pelas longas jornadas de estudos, ambientes, muitas vezes, caóticos de trabalho, trabalhos concentrados e baixo entendimento das realidades e questões pessoais/ emocionais que seus futuros clientes vivem.
Ocorre que os pacientes, com os avanços das leis sociais, da tomada de consciência, do consumidor que se apodera cada vez mais dos seus direitos, tornam-se mais clientes, menos pacientes, e cobram dos prestadores de serviços uma posição mais profissional e, ao mesmo tempo, mais cuidadosa, principalmente com relação ao trato humano, na sua mais ampla tradução. E abandonam primeiro o médico logo depois do início do tratamento.
As reclamações dos clientes ou (in)pacientes, com relação ao atendimento médico, vão desde ao não cumprimento dos horários agendados, a falta de atenção às queixas, a uma anamnese precária que podem levar a não percepção às causas subjacentes, o não estabelecimento de uma aliança e a construção da confiança, desinteresses e, muito principalmente, à falta de empatia.
A empatia baseia-se em “sentir a dor do outro”, com afastamento crítico, escolhendo que emoção acessar. Ela requer imaginação, visualização e projeção na realidade da outra pessoa. A empatia é uma compreensão imediata e subjetiva dos sentimentos ou experiências do outro. Será que os médicos resolveriam ou facilitariam muitas das questões interpessoais se adquirissem esta competência?
O abandono de tratamentos e suas consequências estão muito mais baseadas nas questões de inteligência emocional do que possamos pensar em um primeiro momento.
Quais são algumas das coisas que o Coaching pode fazer pelos profissionais de saúde para melhor estabelecerem suas relações com clientes, para que não abandonem os tratamentos?
- Desenvolver o processo empático;
- Criar um clima de confiança, entendendo que é um retorno sobre o investimento do tempo: tempo dado para escutar ativamente, valorizar as pessoas, dando especial atenção às suas ideias, estilos de vidae preocupações;
- Trabalhar com as emoções alheias, construindo alianças e gerenciando conflitos;
- Entender o porquê de explicitar ao máximo sobre o prognóstico e tratamento a ser seguido.
Enfim, caminhos existem e podem ser trilhados, por ambas as partes, essencialmente quando falamos de preservação e melhoria da qualidade de vida, do cumprimento do objetivo profissional e da busca da realização das pessoas.
Saúde, sempre!
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