Resiliência e Mudança Organizacional
Por Mônica Martins*
O cenário: uma longa jornada, em meio a uma grande mudança organizacional, a venda de uma grande empresa multinacional com mais de 15.000 colaboradores, passando a operar somente no Brasil.
As pessoas: em meio a uma nova cultura bem comunicada em mensagens e ações, transparência nas informações, há dores. Muitas dores com a perda de pessoas, por iniciativa própria ou por decisão da empresa. No turbilhão, o que é mais perceptível pelas pessoas é: o que antes era bom e desejado, hoje não cabe mais.
O resultado: após 1 ano da aquisição, o CEO empossado, numa grande “live” com uma grande parcela dos colaboradores, aberto e franco. Ele relata em como essa experiência de transformação organizacional está lenta, em como a cultura anterior está muito enraizada.
O tema aqui não é transformação cultural, mas envolve isso. No fundo, há um questionamento do CEO no porquê as pessoas não acompanham o ritmo desejado por ele e todos os investidores.
A mensagem é clara: como ter atitudes de “dor de dono” e “inconformismo”? De “senso de urgência” e “iniciativa”?
Refletindo, as pessoas são habilitadas às mudanças, mas não necessariamente estão prontas, por mais que a organização declare suas intenções. Há um fator pouco explorado em grandes processos nas organizações: para gerir uma mudança organizacional, as pessoas precisam desenvolver atitudes, que devem ser prioritariamente resilientes.
Pouco explorado ainda no mundo organizacional, o enfrentamento das grandes mudanças, passa por tomada de decisões individuais e estratégicas em como lidar com o inesperado, novas demandas e expectativas sobre performance. As organizações “deixam” a mudança pessoal por conta do próprio indivíduo, ou seja, está tudo declarado, é só a pessoa agir dentro do esperado.
Só que o resultado obtido não é o desejado pela empresa.
Para ter uma postura resiliente, há fatores muito importantes que precisam ser primeiro reconhecidos e depois treinados, sim treinados: como está a autoconfiança e o autocontrole do indivíduo? Como, o CEO cria uma rede de proteção positiva, conquistando e mantendo pessoas nesse novo cenário? Há uma postura otimista de que vai dar certo, ainda que esteja no meio da jornada? Os propósitos da nova organização estão claros e em linha com os dos indivíduos? O gestor está se comunicando com empatia?
Num processo de mudança organizacional, ou melhor, de transformação organizacional, o desafio é tratar do indivíduo, com sua singularidade, desenvolver a resiliência como abordagem na organização. Os fatores a serem desenvolvidos são os mesmos para todos os envolvidos, porém, a inteligência emocional de cada um irá adaptar-se, pois o indivíduo estará fortalecido com estratégias e tomada de decisões resilientes, que o habilitam a aplicar suas competências no novo ambiente. O desenvolver comportamentos de enfrentamento dos novos desafios impostos como parte da estratégia da mudança organizacional para que os resultados sejam eficientes para todos os envolvidos.
O cenário descrito acima é fictício, mas a arte imita a vida, então, ao encontrar o CEO, eu diria: sim, todas as estratégias estão claras, mas a preparação das pessoas não está sendo suficiente. Quão resilientes as pessoas estão?
(*) Mônica Martins é Consultora em Gestão de Mudanças e DHO e Coach em Resiliência. Psicóloga (PUC-SP), Pós-graduada em Psicologia Social e do Trabalho (Instituto Sedes Sapientae), Psicodramatista (ABPS) e formada em Coaching pela ICI e Especialista em promoção de Resiliência pela SOBRARE. Executiva de Recursos Humanos, mais de 30 anos de experiência em empresas multinacionais e nacionais.
Mônica Martins
http://sobrare.com.br/
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