Resiliência e o mundo das Metodologias Ágeis
Muito se tem discutido sobre a aplicação e utilização de Metodologias Ágeis. Apesar de terem sido pensadas originalmente para o desenvolvimento de softwares, elas são uma forma alternativa de gerenciar projetos de forma estruturada e controlada, com passos claros e constantemente – é mais fácil e rápido diagnosticar e corrigir erros que impactam na performance. Acertar e errar pequeno, para ir crescendo de maneira contínua e sustentável. O termo Metodologia Ágil engloba vários métodos, frameworks, processos e técnicas, cada um com o seu nome. Mas a proposta aqui não é discutir as várias ferramentas ou levantar as qualidades e pontos de atenção. O objetivo é relacionar a importância do uso e exercício da Resiliência com os valores em que as Metodologias Ágeis se baseiam e que tem sua premissa no Manifesto Ágil e o impacto disso em pessoas.
Quais as competências principais que o profissional necessita desenvolver para se sair bem nesse novo mundo?
Antes de responder essa pergunta vamos a um breve relato do que é o Manifesto Ágil. O documento foi criado em fevereiro de 2001, quando 17 profissionais, que já praticavam métodos ágeis como XP, DSDM, Scrum, FDD etc, se reuniram no estado norte-americano de Utah. Embora esses 17 desenvolvedores utilizassem abordagens e métodos diferentes, eles compartilhavam dos mesmos fundamentos. Em essência, eles giram ao redor de colaboração entre indivíduos, resposta rápida a mudanças e a importância de criar algo de modo simples e funcional.
Relembrando sobre Resiliência, gosto da definição que nos remete a olhar para dentro: “Resiliência é a capacidade de pensar e organizar estrategicamente as próprias verdades”. Neste contexto, esse “pensar estrategicamente” nos permite ter a habilidade de enfrentar nossas adversidades, buscando agir de forma estratégica para prosseguir diante de situações de estresse. Nos leva a ter sabedoria para se adaptar às mudanças e transformar os impactos negativos de um conflito em lições de aprendizado e amadurecimento. A resiliência se desenvolve por meio de um processo de aprendizagem e autoconhecimento. Quando passamos a nos conhecer profundamente, conseguimos reconhecer as nossas convicções e emoções e, também, os nossos talentos, habilidades e recursos internos, que nos ajudam a ser mais flexíveis. Ao desenvolver resiliência por meio do treino das competências internas, aprendemos e adquirimos um modo positivo e coerente de nos posicionar.
O mais importante aqui é explicar que a resiliência é composta por agrupamentos de crenças que vamos aprendendo ao longo da vida. São essas crenças ou verdades absolutas que determinam a forma como vamos nos comportar e, principalmente, as atitudes que vamos tomar que estão relacionadas com enfrentamentos de problemas e superação dos desafios. Esse agrupamento de crenças é chamado de Áreas Essenciais. Entendendo que são essas áreas que determinam a nossa expressão do comportamento.
Para responder de maneira eficaz ao processo das metodologias ágeis, o profissional precisa trabalhar algumas competências internas.
Então vamos lá, abaixo apresento os quatro valores que o Manifesto Ágil aborda seguido das áreas essenciais da Resiliência que, se desenvolvidas e trabalhadas, auxiliam os profissionais a exponencializarem a adaptação ao processo:
1 – INDIVÍDUOS E INTERAÇÕES mais que processos e ferramentas
Ferramentas e processos são importantes, mas é mais importante ter pessoas competentes trabalhando juntas de forma eficiente. (Scott Ambler).
A área essencial a ser trabalhada aqui é a Empatia. Essa área da Resiliência trabalha a habilidade de se comunicar com significado para outra pessoa. É a capacidade de perceber o que o outro está pensando e estabelecer um canal de comunicação espontâneo e de qualidade. Ela promove a flexibilidade para estabelecer comunicação com reciprocidade, estando de fato “presente” e ouvindo ativamente. Também favorece o compartilhar informações de modo atrativo, em demonstrar adequada autoestima e alinhar propósitos e objetivos. A resiliência também vai facilitar reconhecer esforços, erros e aceitar resultados.
2 – SOFTWARE EM FUNCIONAMENTO mais que documentação abrangente
Uma boa documentação é útil para ajudar pessoas a entenderem como o software é criado e como usá-lo, mas o ponto principal do desenvolvimento é criar o software, não a documentação. Documentação também é importante, mas que seja somente o necessário e que agregue valor (Scott Ambler)..
Sob a ótica da Resiliência, a Autoconfiança é a convicção de que você possui recursos para resolver problemas e desafios por meio das suas habilidades, capacitações e talentos. Também de que você é capaz de agir e obter resultados. A resiliência nos permite trabalhar nossa flexibilidade e adaptabilidade para administrar o senso pessoal de ser capaz de enfrentar uma dificuldade, realizar mudanças, propor soluções. Isto é, saber o que é essencial ao processo. Não se perder em informações irrelevantes.
3 – COLABORAÇÃO COM O CLIENTE mais que negociação de contratos
Um contrato é importante, mas não é um substituto para um trabalho próximo aos clientes para descobrir o que eles precisam. (Scott Ambler). Precisamos atuar em conjunto com o cliente. O que deve acontecer é colaboração, tomada de decisões em conjunto e trabalho em equipe. Fazer com que todos sejam um só em busca de um objetivo.
Conquistar e Manter Pessoas, essa área da Resiliência trabalha a habilidade de conquistar novos relacionamentos e manter vínculos sem medo. Relacionar-se com verdade e autenticidade. Aqui a Resiliência é ferramenta essencial! Ela promove a flexibilidade para agregar pessoas em torno de si e de projetos, cativar pessoas e equipes o que vai ajudar na consolidação das redes de segurança e proteção. Mas, sem dúvida, você precisará trabalhar a Empatia e Autoconfiança para embasamento neste processo.
A outra área é Análise de Contexto. Ela nos remete a avaliarmos a nossa capacidade de identificar e perceber precisamente o que está acontecendo no ambiente: as causas, as relações e as implicações dos desafios, problemas e conflitos presentes. Conseguir reconhecer o que de fato está ocorrendo na situação antes de se posicionar ou se expor.
A questão é que para conseguirmos fazer essa análise é vital não nos deixarmos envolver emocionalmente pela situação. Isto é, Autocontrole para dosar a emoção, Autoconfiança para saber que possui recursos para entender e resolver a questão, Empatia para se comunicar buscando reciprocidade. Esse conjunto sob o guarda-chuva da Análise de Contexto ajudará a identificar as pistas e evidências que estão permeando a circunstância em que você se encontra. E, sem dúvida, desenvolver uma relação de parceria com os clientes, stakeholders e pares, de forma a buscar resultado para todos.
4 – RESPONDER A MUDANÇAS mais que seguir um plano
Um plano pré-estabelecido é importante, mas não deve ser muito rígido para acomodar mudanças na tecnologia ou no ambiente, as prioridades das partes interessadas e a compreensão das pessoas sobre o problema e sua solução (Scott Ambler).
O Autocontrole refere-se à capacidade de administrar emoções. Ter equilíbrio emocional em qualquer situação. Emoção ajustada à necessidade. No Autocontrole, o princípio fundamental é a leitura dos pensamentos automáticos. Está relacionado ao significado que a pessoa atribui ao que está vivendo baseado no que construiu, foi ensinada e viveu ao longo da vida. E isso a leva a reagir da mesma forma sempre. Aí é que entra a resiliência, ela propicia a capacidade de controlar o comportamento de modo flexível. Essa flexibilidade gera tranquilidade e segurança no ambiente profissional e nas relações pessoais, promove a condição para analisar as situações e estabelecer julgamentos com a devida correção emocional, sem atropelos. E, também, favorece a prática de inovar nas propostas ao invés de simplesmente se ater às rotinas.
A outra área essencial é Otimismo com a vida que congrega crenças e convicções de que podemos mudar o futuro e as situações mesmo quando o controle não está nas nossas mãos. É não se deixar abater por dificuldades e adversidades. É olhar a vida em perspectiva. Enfrentar desafios com determinação e criatividade. Não se ater às respostas que já tem. Inovar e buscar alternativas.
Quando pensamos em Metodologias Ágeis também pensamos em competências como organização, Inteligência emocional, autogestão – independência, autorresponsabilidade, autenticidade, “acabativa” – Você é o que você entrega etc. Perceba que trabalhar a Resiliência nas áreas essenciais citadas acima o exercício diário trará, em sua dinâmica, a capacitação e promoção do desenvolvimento de todas essas competências complementares.
Assim, fica o convite para se aprofundar neste assunto pertinente e interessante para quem está em busca de novas ferramentas de desenvolvimento.
Os conceitos apresentados podem realmente agregar valor e promover aprimoramento. Mas, principalmente, trata-se de uma ferramenta essencial no enfrentamento de stress e imprescindível para a vida pessoal e profissional.
Gostou do artigo? Quer saber mais sobre Resiliência e o mundo das Metodologias Ágeis? Então entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.
(*) Nilza Bueno é Especialista e Trainer em Resiliência. Experiência de 25 anos em gestão de pessoas, execução de treinamentos técnicos, workshops e palestras. Certificação em Coaching Cognitivo em Resiliência (CCR) e Especialista em Resiliência – Sociedade Brasileira de Resiliência – SOBRARE.
Nilza Bueno
http://sobrare.com.br/
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