Saúde Mental e Segurança Psicológica: A importância da cultura do cuidado no ambiente de Trabalho!
Por Cristiane Ap. Dodpoka (*)
Desde março de 2020, com a emergência sanitária provocada pela Covid-19 e seus efeitos impactantes a vida de todos nós, a pauta sobre Saúde Mental que já era vista como um grave problema de Saúde Pública, entrou definitivamente para a lista de tarefas de toda grande corporação.
Questões como produtividade, eficiência e performance agora dividem atenções com temas delicados como burnout, depressão e ansiedade.
Em pesquisa realizada pela Isma-BR, constatou-se que nove em cada dez brasileiros apresentam sinais de ansiedade no trabalho. E revela que transtornos mentais são a segunda maior causa de afastamento do trabalho.
Atualmente, o Brasil apresenta a maior prevalência de depressão da América Latina. O Brasil é o mais ansioso do mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A experiência na gestão de pessoas adquirida com a pandemia, demonstrou que, para além dos cuidados de saúde e qualidade de vida, será fundamental estabelecer condições de trabalho flexíveis e garantir respeito e empatia na relação com colaboradores.
Novas tendências despontam neste horizonte como o conceito de trabalho humanizado, sistemas de monitoramento de saúde dos funcionários e a necessidade de pensar e mudar culturas organizacionais nocivas.
Cada vez mais será essencial investir em ESG (Environmental, Social and Governance) e compreender como as empresas podem influenciar positivamente a sociedade e incentivar mudanças que valorizem indivíduos, meio ambiente e ética.
Nesta esteira, as discussões sobre liderança humanizada e Segurança Psicológica ganharam destaque, percebidas como meio de promover um ambiente de trabalho saudável e produtivo, e a todo líder a partir de então, será tarefa imprescindível desenvolver a habilidade de olhar também para a saúde mental e as questões emocionais de seus times.
Segurança Psicológica e Liderança Humanizada
Lidar com emoções construtivamente no ambiente profissional é um grande desafio, a líderes e equipes, mas ignorá-las produz grande sofrimento e afeta diretamente o bem-estar pessoal.
É fundamental que líderes saibam como promover um ambiente de segurança psicológica.
Colaboradores apreciam ter canais abertos e confiáveis para falar de qualquer problema.
Líderes, por sua vez, devem notar cotidianamente o clima geral de suas equipes e agir quando necessário.
Quando isso não ocorre, frequentemente observa-se o chamado contágio emocional. Os sentimentos negativos que se espalham pelas equipes, comprometendo assim o engajamento e a produtividade.
Estudos da professora Sigal Barsade, da Wharton Business School (UPenn), concluíram que:
“Cultura emocional influencia a felicidade dos colaboradores, burnout, trabalho em equipe e até mesmo… performance financeira e absenteísmo… Emoções positivas estão… associadas a melhor performance, qualidade e serviço ao cliente – e isso é válido em todas as funções e setores e em vários níveis organizacionais. Por outro lado (com algumas exceções de curto prazo), emoções negativas como raiva, tristeza, medo e similares geralmente levam a resultados negativos, incluindo desempenho ruim e alto turnover”.
Fatores geradores de insegurança nas equipes
A seguir, uma lista dos principais pontos que podem gerar insegurança em uma equipe, a saber:
- Má gestão: Ocorre quando a equipe trabalha pressionada por resultados, com uma liderança que desconhece como os colaboradores sentem-se no ambiente de trabalho;
- Falta de liderança: Muito comum quando a gestão oferece certa autonomia as equipes, mas não se faz presente, por meio de um acompanhamento das demandas e também de feedbacks mútuos entre gestores e colaboradores;
- Há um desconhecimento das especificidades de cada pessoa, com o objetivo de oferecer apoio conforme as suas necessidades;
- Há ainda, o receio de mostrar vulnerabilidade ao seu time, o que produz desengajamento;
- Uma liderança orientada para Segurança Psicológica, ao trazer para a equipe seus anseios e desafios, observa que eles se sentem mais confiantes em também buscarem um auxílio quando encontrarem dificuldades;
- Diálogo inexistente: Ausência de comunicação assertiva, incapaz de apresentar objetivos claros, produz equipes confusas, sem diretrizes básicas de trabalho.
Atitudes promotoras de Segurança Psicológica, a saber:
- Mostre-se aberto ao feedback;
- Ofereça feedback;
- Seja mais tolerante aos erros e às diferenças;
- Entenda o impacto do ambiente nas pessoas;
- Não se puna por seus erros;
- Pratique a segurança psicológica com si mesmo;
- Não replique comportamentos hostis;
- Incentive os outros a se arriscarem.
A pesquisadora Amy Edmondson, aponta três importantes atitudes das lideranças, para incentivo às equipes no cotidiano do trabalho:
- Reconhecer o trabalho como um problema de aprendizado e não de execução. Deixar claro que há uma questão a ser resolvida, sem culpados, e que a equipe inteira é necessária para a solução do problema;
- A liderança precisa possibilitar um ambiente em que falhas são permitidas e, inclusive, reconhecer as próprias, gerando empatia e confiança para que o time se posicione, independentemente da hierarquia;
- O gestor precisa modelar a curiosidade da equipe, adotando a liderança indagativa, fazendo mais perguntas, gerando insights e desenvolvendo o pensamento, ao contrário de dar respostas prontas e irrevogáveis.
Como exposto neste artigo, cuidar da saúde mental das equipes, neste contexto de grande vulnerabilidade emocional pós-pandemia, está para além de promover programas pontuais de qualidade de vida. Isso, de fato, exige das áreas de gestão de Recursos Humanos e Segurança e Saúde do Trabalhador a construção de projetos e estratégias que possam garantir cada vez mais estrutura nos cuidados de saúde das equipes. E isso envolve pensar e reavaliar a própria cultura organizacional.
Neste quadro, a competência de um líder na gestão das questões emocionais de suas equipes tornou-se, de fato, quesito de fundamental relevância, sendo a figura dos líderes cada vez mais exigida nesta tarefa. No entanto, o exercício de liderança humanizada não é uma postura individual de um gestor ou departamento, e apenas se consolida em um ambiente organizacional de Segurança Psicológica, pertencimento e respeito.
Construir uma cultura organizacional de Segurança Psicológica é extremamente necessário na economia atual.
Além disso, é indispensável quando se pretende criar uma instituição sustentável. Uma instituição capaz de cuidar da saúde e bem-estar de seus colaboradores com competência, ética e compromisso social.
Gostou do artigo? Quer saber mais sobre como construir uma cultura organizacional de Segurança Psicológica e Saúde Mental no trabalho? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.
(*) Cristiane Ap. Dodpoka é Psicóloga Clínica. Saúde Corporativa, Programa EAP e Saúde Mental. Membro do Dep. de Psicossomática Psicanalítica do Instituto Sedes Sapientiae. Experiência em reabilitação psicossocial, e equipe APS.
Cristiane Ap. Dodpoka
CRP 06/123358
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