Será que a ignorância é realmente uma benção?
Gostaria de analisar esse tema sob a perspectiva da consciência de si, afinal, quando falamos em ignorância, muitos aspectos podem ser analisados.
Você pode acreditar que já está consciente de si e que não há nada que ignore, que desconheça nesse sentido.
Pode ser, pode ser que você já tenha uma boa experiência no que diz respeito à consciência profunda de quem você é.
Anos de terapia, meditação, outros recursos de desenvolvimento pessoal, reflexões aprofundadas, crises existenciais, um profundo conhecimento dos seus valores, dos seus recursos internos, dos seus padrões de comportamentos e dos gatilhos que ativam cada um desses padrões.
Enfim, talvez você já tenha uma profunda clareza da dor e da delícia de ser quem você é.
Se você se reconhece como essa pessoa, te pergunto: você se lembra de como era antes de ter esse nível de consciência sobre si? Será que você sofria mais ou menos quando não se conhecia tão bem?
Eu fiz essa pergunta a um professor de mindfulness e de ensinamentos budistas. E ele respondeu o que eu precisava ouvir naquele momento, e que no fundo já sabia.
Quando você não se conhece, sofre um acúmulo de entraves e dificuldades físicas e mentais.
Quando não desenvolvemos a consciência de si, acumulamos a ignorância e respondemos às experiências na vida, sejam elas boas ou ruins, de maneira automática, sem escolha, sem apropriação.
Muitas vezes, sem essa consciência, temos a sensação de que escolhemos, mas o reflexo de nossas escolhas na vida, vêm nos provar o contrário.
Acumulam-se pequenos erros, escolhas mal feitas, impulsividades, o modo automático de viver, estresse, pensamentos e condicionamentos destrutivos, enfim, toda gama de acúmulos que reverberam pela ignorância da consciência de si.
Multiplique tudo isso por dias, meses, anos, uma vida! E então, a resposta sobre a ignorância da consciência de si ser ou não uma benção está dada.
Há nos ensinamentos do Buda quatro nobres verdades. A primeira delas é a verdade do sofrimento. Sim, o sofrimento existe, para os conscientes de si e para os não conscientes, mas a não consciência cobra um preço muito mais alto na vida, além de nos afastar e dificultar transitar os caminhos do desenvolvimento das virtudes humanas, que acredito ser o sentido do que viemos fazer aqui neste mundo.
Conhecer a si mesmo dói. A ignorância dói muito mais.
Silvia Cavalaro
https://www.silviacavalaro.com.br/
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