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Sigilo, Desconfiança e Poder

A ausência de uma cultura de discrição e sigilo torna os brasileiros indignos de confiança. Os brasileiros não têm cuidado com as informações que lhes são confiadas em âmbito profissional. O sigilo profissional precisa ser respeitado em todas as atividades laborais.

Muitos especialistas em ética ficaram chocados com os vazamentos de informações médicas da ex-primeira dama Marisa Letícia no Hospital Sírio-Libanês no dia 03 de fevereiro deste ano. Os médicos envolvidos agiram em desacordo com o princípio da Dignidade Humana, pré-julgaram uma paciente que não teve acesso à defesa e trouxeram sofrimento desnecessário às famílias. Eles comprometeram a confiança na relação médico-paciente, gerando problemas sociais a curto e médio prazo.

O sigilo profissional precisa ser respeitado em todas as atividades laborais. Em tempos de narcisismo, geralmente escutamos administradores se vangloriando de seu trabalho. Quando prestava assessoria ética sempre me deparava com situações onde importantes informações de mercado de uma empresa foram vazadas pela irresponsabilidade de seus colaboradores em almoços de negócio, discursos regados a álcool em happy hours, ou em fotos e textos nas redes sociais. Os brasileiros não têm cuidado com as informações que lhes são confiadas em âmbito profissional. Empresas concorrentes e jornalistas conseguem obter informações comerciais de muitas empresas com pouco esforço.

Os liberais me perguntam por que o brasileiro não confia nos empresários, no livre mercado. A resposta é óbvia: a maioria das pessoas trabalha ou tem algum conhecido próximo que trabalha nas empresas. As pessoas adoram falar dos problemas nas relações de trabalho, falcatruas na empresa, revelam intimidades de subordinados, clientes, pacientes, estudantes, etc. Tornou-se comum receber cartas, e-mails ou telefonemas de empresas de telemarketing graças ao vazamento das informações pessoais que foram confiadas a uma única empresa. A ausência de uma cultura de discrição e sigilo torna os brasileiros indignos de confiança.

O filósofo Francis Bacon é o autor de uma máxima que se tornou o lema da modernidade: “Conhecimento é poder”. Toda informação, enquanto conhecimento, é um instrumento de poder. Ela afeta diretamente pessoas, comunidades, economias, políticas e todo tipo de instituição humana. O vazamento de informações de pacientes ou clientes os tornam vulneráveis.

Manter sigilo sobre todas as informações com que trabalhamos não significa se tornar cúmplice de irregularidades, mas sustentar uma postura de respeito com o próximo. Sua empresa, seus colegas de trabalho, seus fornecedores e seus clientes apoiam posturas de silêncio e discrição.

Arthur Meucci possui bacharelado, licenciatura e mestrado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, Doutorado em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie, com especialização em Diálogos entre Filosofia, Cinema e Humanidades pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e formação em Psicanálise pelo Instituto Brasileiro de Ciência e Psicanálise. Trabalhou por dez anos com ensino e consultoria na empresa Espaço Ética e escreveu em coautoria livros best-sellers como A vida que vale a pena ser vivida (Ed. Vozes), O Executivo e o Martelo (Ed. HSM) e a coleção Miniensaios de Filosofia (Vozes). Atualmente é Professor Adjunto da Universidade Federal de Viçosa.
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