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Sobre heróis e mitos

Shakespeare dizia que “heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências”. Com o tempo descobrimos que nossos mitos são feitos de carne e osso. E aprendemos a ser heróis de nós mesmos.

“Todo homem é um herói e um oráculo para alguém.”
(Ralph Waldo Emerson)

Todos nós cultivamos heróis. São pessoas que nossos olhos enxergam de forma diferenciada. Eles são mais corajosos, tenazes, perspicazes. Também parecem maiores, por vezes até fisicamente, posto que admirados pela tela da televisão, a foto no jornal ou a imagem cristalizada em nossas mentes. São capazes de feitos incríveis, suportam – e superam – grandes adversidades, bem como alcançam resultados extraordinários. À tradição grega, mortais divinizados por atos de nobreza.

Quando pequenos, elegemos pais, irmãos ou avós representantes dessa casta. Espelhamos muitos de nossos comportamentos e valores a partir dos exemplos por eles destilados.

Contudo, na idade adulta, embora a influência familiar de outrora permaneça impregnada em nosso íntimo, passamos a adotar outros modelos, em geral oriundos do meio social e, em especial, profissional.

Arquitetos têm como ícones Le Corbusier e Oscar Niemeyer; pintores, Vincent Van Gogh e Pablo Picasso; amantes do jazz, Sarah Vaughan e Charlie Parker; educadores, Jean Piaget e Paulo Freire. Experimente fazer esse exercício. Escolha uma carreira qualquer e, com certeza, você encontrará alguns nomes notáveis.

Como tudo na vida, a presença desses expoentes tem aspectos positivos e negativos. O lado bom é que servem como referência, parâmetro de conduta e exemplo de excelência. No entanto, há uma face ruim. Por serem tidos como semideuses, parecem denotar um padrão inatingível para pessoas normais como nós. Você olha para eles, para seus inventos, e declara: “Esplêndido! Eu gostaria de poder fazer igual…”. Diante disso, você se apequena e se constrange.

Vou lhes contar o que aprendi acerca de heróis. Quando iniciei minha carreira de escritor, visitava o texto de outros profissionais e me perguntava quando teria igual qualidade editorial. Eu os via publicar em dezenas de veículos enquanto meus singelos e esporádicos textos atingiam um restrito círculo de amigos e imaginava que não seria possível ir muito além.

Comecei também a ministrar palestras. E, assistindo às apresentações de outros colegas, chegava mesmo a envergonhar-me do trabalho que desenvolvia. Meus slides eram pobres; minha presença de palco, discreta.

Tempos depois vi meus artigos atingirem centenas de veículos em diversos países. O conteúdo tornou-se mais objetivo e prazeroso à leitura. O mesmo aconteceu com as palestras, que ganharam dinamismo e desenvoltura. Aqueles que outrora eram meus mitos passaram a dividir laudas e anfiteatro comigo. Alguns se tornaram amigos, outros me pediram conselhos. No final, mostraram-se todos, sem exceção, feitos de carne e osso.

Mas somos bichos picados pelo inseto da impermanência e não aprendemos a aproveitar o momento presente. Viajamos num trem em alta velocidade sem apreciar a paisagem. Colocamos todas as nossas fichas no vagão do futuro e não desfrutamos o trajeto. Isso tudo pode ser traduzido pela velha metáfora segundo a qual fixamos o olhar na copa da árvore, ignorando a floresta.

Por isso, aprenda a olhar não apenas para frente, mas também para trás. Observe o quanto do caminho você já percorreu. Não há combustível melhor do que saborear os frutos de sua evolução. E olhe também para os lados. Acompanhe o que seus concorrentes estão fazendo, mas não se deixe influenciar por isso. Dê atenção ao que é imperativo e ignore todo o resto. Siga as batidas do seu coração.

Shakespeare dizia que “heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências”. Somos heróis de nós mesmos. Um momento a mais de coragem. Cinco minutos a mais de perseverança. Uma pitada de autoconfiança. São esses os ingredientes que fazem a diferença.

Tom Coelho Author
Tom Coelho, com formação em Publicidade pela ESPM e Economia pela USP, tem especialização em Marketing e em Qualidade de Vida no Trabalho, além de mestrado em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente. Foi executivo, empresário, secretário geral do IQB/ INMETRO, diretor do Simb/Abrinq e VP da AAPSA. Atualmente é professor em cursos de pós-graduação, conferencista, escritor com artigos publicados em 17 países, diretor da Lyrix Desenvolvimento Humano, da Editora Flor de Liz e do NJE/CIESP, além de Conselheiro do Consocial/FIESP. autor dos livros “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e comportamento”, “Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional” e coautor de outras cinco obras.
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