“Eu sou o homem vivo mais feliz. Eu tenho algo em mim que pode converter pobreza em riqueza, adversidade em prosperidade. Eu sou mais invulnerável que Aquiles. O azar não tem como me atingir”
(Sir Thomas Brown, 1642)
Ao procurar no Google a palavra “felicidade”, 60.900.000 são os resultados encontrados. Um número que me parece bastante expressivo para algo tão subjetivo. Fato é que as pessoas procuram e desejam felicidade, mas muito poucas parecem encontrá-la. O dicionário Aurelio define felicidade como sendo “um concurso de circunstâncias que causam ventura; estado da pessoa feliz; sorte; ventura, dita; bom êxito; a felicidade eterna: a bem-aventurança. Ja o site dicionarioinformal.com.br traz essa definição e uma opinião; “A felicidade é um sentimento passageiro. Acredito que ninguém seja completamente feliz. Existem momentos tristes e felizes. Sentimos felicidade quando esquecemos os fatos ruins. (mesmo que seja por segundos). A mesma coisa acontece com a tristeza! Só sentimos quando esquecemos todos os bons motivos para sermos felizes.”
Na minha experiência pessoal e em atendimentos de Coaching com pessoas de idades, sexo, religiões, credos, escolaridade e condição socio-econômicas diferentes, tenho desenvolvido uma percepção um tanto quanto diferente das definições que encontrei nesses dois dicionários. Minha percepção é, de certa forma, empírica e vivencial, mas tem também embasamento em estudos de neurociências e psicologia positiva que são áreas do conhecimento de extrema importância e relevância para o trabalho sério de um Coach.
Estudos de neurociências mostram que as pessoas mais felizes desenvolvem maior atividade no córtex pré-frontal esquerdo, ligado às emoções e sentimentos positivos e pessoas mais deprimidas no córtex pré-frontal direito. Uma pesquisa em Harvard, desenvolvida pelo investigador e psicólogo Dan Gilbert (em 2004), mostra que podemos “fabricar” a felicidade através de certas simulações. Em um artigo publicado em 2014, intitulado “Gratidão e Felicidade’, a neurocientista, Dra. Suzana Herculano-Houzel, aponta que: “No caso das emoções morais positivas, contudo, um achado é particularmente interessante: não importa se a causa do bom resultado é você mesmo ou outra pessoa; em ambos os casos há ativação do sistema de recompensa do cérebro, que nos deixa instantaneamente felizes e satisfeitos. Pensar em algo de bom que nos fizeram é, portanto, uma maneira tão eficaz de nos deixar felizes como fazer algo de bom a nós mesmos. A gratidão, portanto, leva à felicidade.”
A pesquisadora Barbar Friedricson da Universidade de Michigan, desenvolveu um trabalho que aponta que as emoções positivas como otimismo e alegria tem um impacto na vida do cidadão que vai muito além do bem-estar. Pessoas mais felizes são mais criativas, tolerantes, abertas a novas ideias. O psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi desenvolveu o conceito de Flow que trata da motivação intrínseca e aponta que as pessoas altamente emotivas são pessoas não só mais felizes, mas altamente independentes e não precisam ser monitoradas ou estimuladas o tempo todo.
No ano de 2009, fui diagnosticada com um quadro de Esclerose Múltipla, uma doença neurológica, crônica e autoimune que provoca lesões cerebrais e/ou medulares e pode manifestar vários sintomas desde fadiga crônica à perda de movimentos. Tive dois surtos, um em 2009 e um em 2010, que me levaram a internações e altas dosagens de corticóides. Ao ser diagnosticada e, como ja tinha minhas outras duas irmas mais novas diagnosticadas anos antes, a doença não era desconhecida e convivia com pessoas saudáveis apesar de submetidas a um tratamento que exige aplicação de medicação subcutânea para o resto da vida. Desde então, decidi que faria a escolha de ter controle sobre minha doença e num profundo exercício de autoconhecimento desenvolvi a capacidade de controlar minhas emoções negativas e, consequentemente o estresse, que é um dos gatilhos para novos surtos da doença. Desde 2010, nunca mais desenvolvi qualquer sinal da doença mesmo tendo optado por não fazer o tratamento tradicional com aplicação das injeções.
O que tenho feito para ser uma pessoa cada dia mais saudável e feliz? Em primeiro lugar, acredito que tenho uma capacidade de resiliência intrínseca e atribuo a uma herança genética de minha avó materna e meu pai. Pessoas altamente resilientes que enfrentaram desafios e dificuldades com muito otimismo e gratidão, sem se tornarem vítimas e nunca as vi reclamarem da sorte, mas sim agirem para mudar as circunstâncias desfavoráveis.
No ano de 2014, fui desafiada por um movimento de Flavia Melissa chamado “300 dias de gratidão” a registrar diariamente nas redes sociais a minha gratidão. O registro diário e no final do dia, me fez exercitar um retrospecto diário sobre todos os acontecimentos e o mais interessante foi que desenvolvi uma capacidade ainda maior de agradecer os momentos difíceis e ruins, desenvolvendo uma enorme habilidade de entender o propósito e o aprendizado de cada situação. Nestes 300 dias, vivi um divórcio litigioso difícil, a morte do meu pai, uma mudança profissional drástica, uma cirurgia de descolamento de retina e sérias dificuldades financeiras. Por todas as situações, passei com a calma e tranquilidade necessárias que me fizeram entender o quanto o controle emocional me deixava uma pessoa melhor, não só para mim mesma, mas também para todos que me cercavam. A gratidão me fez enxergar as situações e as pessoas com muito mais empatia e generosidade o que me deu uma dimensão muito menor dos meus problemas. Alem disso, desenvolvi uma rotina ainda maior e diária de meditação e oração.
A doença também me fez mudar hábitos alimentares e de vida. Fui praticante de Yoga por mais de 12 anos, mas entrei num processo de atividades físicas bem mais intenso. Para fortalecer minha musculatura, precisava intensificar as atividades na academia e além da musculação descobri um enorme prazer no Spinning e depois nas corridas de rua. Nestes últimos quase 3 anos, eliminei 17 quilos do meu peso e me sinto cada dia mais saudável e feliz. Estudos apontam que as atividades físicas intensas, principalmente que geram suor e maior esforço físico, regulam as substâncias do cérebro que geram bem-estar como a Endorfina.
Como Coach e portadora de Esclerose Múltipla, posso testemunhar que o trabalho de autoconhecimento, disciplina, gratidão, aliados à alimentação saudável e exercícios físicos devam ser a chave para a felicidade. Felicidade que é um estado de plenitude mesmo diante de situações difíceis e desafiadoras. Ser feliz não é um estado de euforia e alegria eternas, mas é a capacidade, inclusive, de viver profundamente as nossas tristezas e “lutos” com a intensidade e no momento oportuno, mas resignificando-os com a resiliência necessária que nos permite ter um olhar de entendimento dos porquês que a vida nos oferece para que sejamos pessoas cada dia melhores.
O grande aprendizado pelo qual tenho passado todos os dias de minha vida é o de que a Felicidade é uma escolha diária. Sou Múltipla porque fiz a escolha de Não Ser Esclerosada. Sou autora da minha vida e não vítima. Autora de uma história que escrevo porque o papel e a caneta estão nas minhas mãos.
Que você escolha agora e todos os dias ser Feliz!
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