Imagine a seguinte situação: Você está viajando a trabalho para um país desconhecido, pega o táxi no aeroporto e infelizmente o taxista é um profissional mal humorado que não dá a mínima para as suas perguntas a respeito do trânsito e do trajeto até o hotel. Quando para em frente ao destino, você está indignado com a falta de atenção do motorista e sai correndo do táxi. Ao chegar à recepção percebe que esqueceu o seu celular no banco do passageiro. O que acontece com você?
Para a pessoa que vivenciou essa experiência, nesse exato momento o cérebro parou, deu um “apagão”. O que ela poderia fazer num país estranho se todas as informações estavam naquele celular? Após alguns minutos de pânico total, ela conseguiu dar um “reset” no cérebro e ele voltou a funcionar e a refletir sobre quais soluções poderiam ser tomadas naquela situação.
Sozinha no quarto de hotel, a nossa personagem, colocou os pensamentos em ordem. Pouco a pouco as ideias começaram a clarear e como num lampejo tudo ficou mais calmo. Nesse momento ela precisou admitir que seus amigos tinham razão a respeito da sua enorme dependência em relação ao seu iPhone. Não do aparelho em si, claro, mas à possibilidade dele conectar ela ao mundo a também às pessoas.
A grande questão é que eu e você, estamos cada vez menos sozinhos e desconectados para dar espaço para as reflexões chegarem ou, no mínimo, desatentos quando elas surgem. “Estamos muito ocupados sendo distraídos pelos feeds e pelas atualizações para nos darmos conta do que se passa dentro da nossa cabeça”, afirma o escritor americano Nicholas Carr, autor do livro A Geração Superficial – O que a internet está fazendo com os nossos Cérebros, crítico ao fato da internet ter influenciado nossa impossibilidade atual de focar e refletir.
Segundo o autor, nós não pensamos da forma que pensávamos e já nem refletimos da maneira que refletíamos. Nesses tempos em que até a aba do Facebook pergunta o que você tem em mente, as pessoas adotaram a forma de pensar com os botões, mas do teclado. As reflexões quando ocorrem, são compartilhadas à espera de likes. E não em busca de mudanças internas. “Passamos tempo demais com muitas janelas abertas, clicando em hyperlinks, lendo as reflexões alheias nos feeds das redes sociais, que nem paramos para nos concentrar nas nossas próprias”, acredita Carr.
Agora, qual será a medida para se pensar bem? Eugênio Mussak respondeu a essa questão contando o conselho que Aristóteles deu a seu filho Nicômaco. O pensador sugere que o filho tenha “momentos de reflexão” frequentes, e que sempre se faça três perguntas essenciais: quem eu sou, quem eu gostaria de ser e quais as providências para que eu venha a ser a pessoa que gostaria de ser. “Segundo Aristóteles, todos deveríamos nos fazer essas mesmas três perguntas todos os dias, assim acompanharíamos a evolução das respostas, e teríamos mais qualidade em nossas ações.”
Dessa forma seu autoconhecimento estará sempre atualizado, assim como o seu perfil no Facebook e seu feed de notícias. Que tal parar agora, deixar seu computador ou celular de lado e perder-se nos seus próprios pensamentos e reflexões?
Uma dose diária de reflexão equivale a uma dose diária de bálsamo para nossas inquietações e ansiedades. E aí, vai encarar?
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