Certa vez, perguntei a uma senhora o que faria se ganhasse um grande prêmio na loteria. Ela então me respondeu: “Sairia do emprego, faria plástica, mudaria todo o meu guarda-roupa, me separaria do meu marido e mudaria de país”. Ao que parece, ela não gostava de quase nada do que estava vivendo.
E você, o que faria se ganhasse uma fortuna na loteria e descobrisse que tem liberdade e tempo para realizar tudo o que deseja? Continuaria na mesma atividade que exerce hoje?
Se a resposta for positiva, parabéns: você já sabe qual é a sua missão. Tem paixão pelo que faz e está expressando seus talentos singulares. Não significa que não tem de enfrentar dificuldades e superar obstáculos, mas quando finalmente atinge seus objetivos é premiado por uma grande satisfação interior, que compensa todos os sacrifícios pelos quais passou. Acontece assim com um atleta recordista. Quando ele sobe ao pódio para receber a medalha, os longos e duros meses de treinamento e concentração justificam-se plenamente e são esquecidos. Foi para isso que ele trabalhou e se dedicou.
Quem acha, ao contrário, que sua atividade profissional constitui apenas um meio de sobrevivência – pesado, árido, chato – não pode, naturalmente, gostar do que faz e sonha em fugir na primeira oportunidade, atrás da plena realização de seus talentos ou missão. A busca muitas vezes não resulta em salários mais altos, reconhecimento público e aplausos – nada disso tem importância para quem descobre a sua missão e se dedica a ela, buscando, antes de mais nada, a satisfação interior pessoal e intransferível. E exatamente por ter essas características é que o prazer não pode ser avaliado, julgado ou comparado: ele é único, como único é cada ser humano.
Muitas vezes nos tomamos como modelo e criticamos a atitude de alguém, esquecendo de considerar que o bom para mim pode ser ruim para os outros. Não temos nem mesmo a humildade de aceitar que não é possível saber qual a motivação que levou a pessoa a agir da forma como agiu. E o que é pior: em nenhum momento pensamos que ela está indo ao encontro de sua missão, do seu destino, do que fará realmente feliz.
Faz lembrar a fábula da formiguinha e da cigarra, de La Fontaine. Há pouco tempo, ouvi uma versão engraçada. Como todo mundo sabe, na história tradicional, enquanto a cigarra cantava, a formiguinha trabalhava, preparando-se para o inverno. Quando ele chegou, a cigarra não estava prevenida. Mas na versão que ouvi, quase uma piada, quando termina o outono, a cigarra passa na frente da casa da formiga, num belo carro e avisa: “Vou passar o inverno em Paris! Um empresário famoso me ouviu cantar e me convidou para eu me apresentar nas melhores casas de espetáculo da capital francesa”.
Cantar era sua natureza, seu talento, sua missão!
Não precisamos ter, necessariamente, uma única missão na vida. E antes que você diga que já é difícil descobrir uma quanto mais várias, aviso: a missão é uma consequência da descoberta de nossos talentos, e uma única vida, às vezes, é pouco para experimentar todas as competências que possuímos.
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