Como lidar com os nossos erros? O que fazer quando erramos? Se você fosse uma atleta o que faria se toda a sua preparação ficasse comprometida por um erro ocorrido exatamente no momento da sua competição?
A cidade de Toronto no Canadá, entre os dias 10 e 26 de julho, foi sede dos Jogos Pan-Americanos de 2015, um evento com aproximadamente 6 mil atletas de 41 Comitês Olímpicos das Américas para competir em 36 esportes.
Neste evento um acontecimento chamou a atenção do público devido a um erro na execução de uma prova de salto ornamental e a rápida demonstração de superação da atleta. Ingrid Oliveira, carioca de 19 anos, passou por um momento difícil em sua estreia no Pan: A atleta durante a execução do penúltimo salto, mergulhou com as costas na piscina comprometendo totalmente a performance deste salto e obtendo nota zero como resultado. Apesar de não conseguir conter o choro, demonstrou grande habilidade ao lidar com o desgaste emocional gerado pela sua falha inicial enfrentando estímulos externos (expectativa da torcida, treinadores, etc.) e internos (possível raiva, medo, frustração, vergonha, insegurança, etc.) ao retornar logo em seguida e executar o último salto de forma espetacular e com isso garantir a sua classificação para as finais.
Antes de iniciar as competições, a Ingrid postou nas redes sociais uma foto na qual ela aparece com o maiô de treino. Essa postagem recebeu muitos elogios, mas ao mesmo tempo, gerou muita polêmica devido a alguns comentários ofensivos e maldosos postados pelos usuários. Segundo a imprensa, haveria uma relação direta entre a falha na execução do salto e descontentamento da atleta com os comentários da foto. Porém, a técnica Andreia da Silva garante que o ocorrido não provocou a falha apesar de ter pedido a ela mais foco e menos foto.
As emoções relacionadas à ansiedade de fato podem alterar o desempenho na execução de uma atividade. Gould e Weinberg afirmam que quanto maior o grau de incerteza de um indivíduo em relação a um resultado ou a sentimentos e avaliações dos outros, maior o estado de ansiedade e estresse dessa pessoa. Em uma situação de grande pressão como a que a atleta Ingrid estava vivenciando, somado à incerteza do resultado, o nível de tensão e de ansiedade dela aumentou, como ela mesma declarou. Como consequência a atleta pode ter dado maior atenção para estímulos inadequados (foco nas preocupações) e alterado seu nível de atenção e concentração.
Para Gould e Weinberg, uma maneira de controlar a ansiedade é desenvolver a confiança. Coube à técnica Andreia da Silva cumprir com esse papel. Logo após a execução errada do salto, ela deu total apoio a Ingrid não enfatizando o erro, mas sim, incentivando a atleta para que ela voltasse e fizesse o seu melhor. Outra forma de controle da ansiedade é utilizar de técnicas para reestruturar-se cognitivamente, controlando ou eliminando preocupações. O Coaching é um facilitador altamente eficaz nesse processo, ao desenvolver na pessoa mudanças de comportamento através da alteração na forma de pensar. Não é uma tarefa muito fácil, mas Ingrid se recuperou rapidamente da queda do seu desempenho. John Wooden, técnico do basquete americano, com incrível marca de 88 vitórias consecutivas, fala que não podemos ficar muito preocupados com as coisas que não temos controle, pois se isso acontecer vai desfavoravelmente afetar as coisas sobre as quais temos controle. No caso da Ingrid, a falha já havia acontecido e mesmo assim ela focou no que ainda dependia dela, foi lá e deu o seu melhor no último salto.
O resultado final não foi o pódio, porém ela demonstrou que soube lidar de forma eficaz com suas emoções e sentimentos e fez a diferença, pois enfrentou os medos e a frustração de não alcançar o melhor resultado da competição, contudo alcançou a sua melhor nota em competições e obteve o sucesso. Para Wooden sucesso é a paz de espírito obtida somente através da satisfação própria em saber que você se esforçou para fazer o seu melhor, no que você é capaz. Você pode perder quando ganha e pode ganhar quando for vencido. Os aprendizados que a atleta leva na bagagem para as próximas competições, com certeza, são ganhos extraordinários e servirão de pontes para alcançar resultados ainda maiores.
Esse acontecimento nos traz diversas reflexões e uma delas é certa: os erros são fontes de aprendizados para obter o crescimento e a evolução necessários na vida. Pare e pense aonde você errou, o quê você tira de aprendizado e em que parte da história você pode agora fazer diferente. Faça a sua parte.
Grazi Paim
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