Os clientes do Coaching executivo e de negócios, bem como os Coaches profissionais, abordam a questão do retorno do investimento como absolutamente necessária. Mas quando se trata de aplicar um método ou modelo, poucos têm algo a sugerir de mais prático. Pois encontrei uma publicação que apresenta um caminho simples, ainda que não universal, para que se comece a pensar a respeito. O texto completo, com o título “Return on investment in executive coaching: a practical model for measuring ROI in organisations”, está em Coaching: An International Journal of Theory, Research and Practice, 2014 Vol. 7, No. 1, 417, e é da autoria de dois pesquisadores australianos: Paul Lawrence and Ann Whyte.
Conforme eles afirmam, no mundo corporativo os executivos buscam comparar potenciais investimentos e o tipo de retorno que pode ser alcançado, sendo que na área de recursos humanos uma métrica aceita determinará quais os tipos de intervenções que serão encaminhados: treinamento, mentoria, consultoria ou Coaching. O que os autores fizeram foi explorar as soluções que as organizações adotam para avaliar investimentos e se há um modelo de melhores práticas que pode surgir a partir de uma perspectiva holística.
Em sua pesquisa, Paul e Ann lançaram três perguntas: (a) É verdade que poucos são os clientes de Coaching que se dedicam a calcular o retorno de investimento?; (b) As empresas que efetivamente querem conhecer o retorno de investimento, como é que fazem?, e; (c) Os clientes de Coaching insatisfeitos com as suas abordagens atuais, o que identificam como sendo os maiores obstáculos para avaliação?
O resultado foi chamado de Clocktower Model, o qual descreve um processo linear, começando com o estabelecimento de propósito e terminando com a possível medição de retorno financeiro, quando desejado. Uma conclusão relevante, consistente com trabalhos que eu mesmo já desenvolvi para o contexto brasileiro, é de que a mensuração financeira pode ou não ser útil, sendo muito mais importante a medição dos resultados congruentes com a finalidade a que se destinava o processo. As variáveis que, segundo os autores, merecem ampla atenção na avaliação do retorno (na ordem do mais “básico da torre” para o “topo da torre”), são:
- Propósito, definido como intenção pré-determinada para Coaching, consistente com a estratégia do negócio. Estabelecer o propósito é o primeiro passo na medição de valor e a principal tarefa é a de garantir o alinhamento das partes interessadas. Não se deve confundir propósito de Coaching com as metas a serem alcançadas. Propósito é sobre como a organização e os clientes estão alinhados para a aplicação do Coaching.
- Motivação, algo bastante lógico de se incluir no modelo, é definida como o compromisso assumido pelo Coachee ao se envolver em um processo de Coaching. É fundamental determinar se o Coaching é a forma mais adequada de intervenção (planejamento de intervenção) para cada cliente em particular.
- A Metodologia de Coaching tem papel relevante na avaliação do retorno de investimento, pois está ligada ao potencial do Coach, com filosofia de treinamento, prática, experiência, abordagem e métodos. No Clocktower Model, a metodologia entra no terceiro nível, assumindo que o cliente aceitou o propósito de Coaching e avaliou se essa é a intervenção mais adequada.
- Comportamentos, definido pelos autores como qualquer aspecto funcional do cliente que pode ser observado por outros. Oitenta e três por cento dos entrevistados na pesquisa disseram que mudanças no comportamento do Coachee são parte essencial da estratégia de avaliação de resultados.
- Resultados são a consequência quantificável do processo de Coaching, ou seja, o que é considerado relevante para a consecução dos objetivos estratégicos da empresa contratante. Os resultados a que se refere o modelo são vinculados a negócios específicos e devem fornecer evidências de que têm relação com o processo de Coaching. Ou seja, nem sempre a empresa está atenta apenas na mudança comportamental do Coachee.
- Retorno financeiro está no mais alto nível do Clocktower Model, sendo definido como a fórmula explícita ou o tipo de cálculo capaz de traduzir os resultados do processo de Coaching em um valor monetário. O percentual de entrevistados pelos pesquisadores, que demonstraram aplicar algum tipo de fórmula, foi baixo.
Concluindo, os autores acreditam que a empresa contratante de um processo de Coaching precisa acompanhar (feedback) cada um dos estágios. Não funciona apenas avaliar a evolução do processo ao final. Curiosamente, as pequenas empresas ou aquelas com a gestão mais ativa de recursos humanos, mostraram mais capacidade de monitorar a eficácia do Coaching. Ainda mais, as empresas estão mais propensas a buscar evidências que o Coaching tem impacto sobre os resultados de negócios, sendo o indicador financeiro algo opcional e de importância secundária se comparado ao propósito e aos resultados estratégicos, em grande parte dos casos.
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