Upload – Você gostaria de Viver Eternamente?
Pura ficção, classificada como comédia dramática, a série Upload traz algumas reflexões sobre as escolhas que estamos fazendo na vida real e as possíveis escolhas em uma pós-vida virtual. (Este artigo pode conter spoiler.)
Em meio a uma Covid que me deixou completamente prostrada por mais de dez dias, indicaram-me uma série para assistir, supostamente uma comédia, com a qual eu poderia me divertir muito e dar boas risadas: Upload. O efeito foi inverso.
Série da Amazon Prime Vídeo, Upload é sobre uma provável vida eterna. Antes de morrer você pode escolher fazer upload de sua consciência e continuar a viver eternamente em um mundo virtual. Upload, você sabe, é subir arquivos do computador ou celular, por exemplo, para um servidor online.
Pois é, o mundo virtual onde você vai viver é Lakeview, um lugar lindo, luxuoso e caríssimo – uma pós-vida reservada aos ricos que podem pagar. Qualquer luxo ou desejo é possível, desde que possa ser debitado de um cartão pré-pago. É possível até abrir a porta do suposto quarto que ocupa no “hotel”, digamos assim, e entrar em uma fazenda imensa.
Literalmente um éden virtual. Só que é chato, muito chato, porque não tem sentido, nenhum propósito, nenhum objetivo – apenas ser eterno.
Esse é o sentimento de Nathan, o herói da série, que se afunda no tédio até começar a relacionar-se com alguém do mundo real. A representante ‘viva’ do Atendimento ao Cliente da empresa que criou e administra Lakeview – chamada de Anjo. Ela coloca óculos de realidade virtual e entra no mundo dele para resolver problemas, conversar, dar apoio. Com certeza não é inspirada no atendimento aos clientes do mundo real!
O que chama a atenção, choca e encanta ao mesmo tempo, no entanto, é você ficar em dúvida sobre quem imita quem: o que vem antes, a ficção ou a realidade? A série estreou no início de 2020 e se passa em 2034, portanto apenas 15 anos no futuro.
Em termos de tecnologia, até o criador, Greg Daniels (The Office), atores e equipe, se espantam com coisas criadas no imaginário, como imprimir alimentos em uma impressora 3D, que já existem hoje. Segundo Daniels, é assustador quanto a ciência avançou e até mesmo alcançou Upload.
Ou o Metaverso que está causando furor no mercado e dizem, movimentando milhões.
Ou ainda – e isso descobri há alguns dias – ser eternizado no Metaverso através de uma versão online, usando uma inteligência artificial que cria um avatar que vai interagir (ou dar uma mentoria, quem sabe) passando todo seu legado. É o que imagina o criador da Legathum, Deibson Silva, que planeja trazer de volta personagens históricos como Albert Einsten, por exemplo, para interagir com quem quiser aprender.
O que me levou à reflexão foi justamente o contrário: como, até em um mundo virtual, as mazelas e diferenças entre seres humanos são mantidas e alimentadas. Realidade, não ficção – e aqui vejo um alerta de Daniels.
Lakeview tem um número imenso de “andares”. Quanto mais alto se está, melhor é sua vida pós morte. Nos pisos inferiores tudo é feio e limitado, até a comida (aliás, por que você precisaria de comida em uma vida digital?) e os opostos não se frequentam nem se conhecem. Lembra alguma coisa que você conhece? Ou que viva aqui, na realidade física?
Literalmente ninguém está nem aí para ninguém. Há espaço para mentiras, violência, vaidades, desonestidade e todos os vícios que nos acometem há milênios.
Nesse aspecto, Upload deixa o gênero da comédia e traz questões para reflexão.
Como quando mostra que aqui, no mundo real, há um movimento da população mais pobre para que todos possam ter acesso à eternidade virtual, através de empresas de baixo custo ou subsidiadas. Há uma cena em que uma fila imensa de consumidores de baixa renda esperam pelo lançamento da plataforma Freeyond, que vai dar acesso a todos. Lutam por seus direitos, enfim.
Ou quando mostra uma comunidade, os luditas, que luta contra os gigantes da tecnologia que destroem o planeta, e vive uma vida sobre os valores do passado – plantar, colher, cozinhar, comer. Como no mundo real, há malucos no comando, anarquistas que destroem a tecnologia com tecnologia, um bando de seguidores e outro de críticos opositores. Não se sabe bem o que querem: se uma pós vida digital universal ou apenas ser do contra e alimentar o saudosismo.
Ok. Aí você me pergunta: o que tudo isso tem a ver com a coluna aqui proposta, para discussão? Tudo, eu diria!
Nada a ver com tecnologia ou seus caminhos, aliás, por mais que às vezes nos sintamos assustados, porque é uma realidade sem volta e com certeza traz imensos benefícios. Se algumas coisas parecem loucura é porque estão sob o comando de seres humanos um tanto egóicos e desequilibrados.
Não creio que tenha sido a intenção de Greg Daniels, ao criar a série, discutir, ou mesmo só refletir, sobre as escolhas que fazemos como humanidade.
No entanto, há milhares de anos a humanidade tem repetido, sempre e sempre, os mesmos erros, ao separar ricos e pobres, dar mais a uns que a outros, fugir dos consensos, fomentar os conflitos ao invés da paz, brigar sempre por mais e mais: há sentido em querer repetir isso eternamente?
Mal conseguimos dar um sentido ou propósito a uma vida finita, ao aqui-agora. Quem dirá então viver eternamente, uma vida infinita, onde não precisaríamos de nada, mas haveríamos de querer tudo, egocêntricos que somos!
Nas palavras de Vernon Sanders, da Amazon Studios:
“O seriado continua a conectar e provocar infinitas possibilidades para o futuro da tecnologia e da humanidade”.
Possibilidades há, sim, para toda a humanidade. Mas talvez haja o medo do desconhecido que a morte representa. Precisamos aprender a conversar sobre a morte. E, quem sabe, encontrar assim caminhos mais dignos de quem somos, para a vida.
Gostou do artigo? Já assistiu à série Upload? E você quer viver eternamente? Quer saber mais sobre como de fato fazer as suas escolhas da vida real? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em falar a respeito.
Isabel C Franchon
https://www.q3agencia.com.br
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