
Um dos maiores ladrões de tempo dos executivos e profissionais, sem dúvida, é o volume de informações que circulam por mídias sociais, seduzindo as pessoas para acesso constante, irrestrito e, muitas vezes, sem preocupação com quem está ao redor. Pois bem, eis que em pleno Vale do Silício surge uma voz que tenta quebrar esse cenário. Tristan Harris hoje se dedica à difícil missão de eliminar (ou pelo menos reduzir) a dependência que as pessoas têm do uso de celulares.
Já tendo passado por várias companhias que incutiram esse vício no ambiente social, ele critica os truques dos projetistas de hardware e software para nos manter fiéis aos celulares, naquilo que somos rotulados como Face Down – posição típica das pessoas usando o celular. Ele associa técnicas de adestramento de cachorros e de viciamento em drogas àquelas adotadas pelos projetistas para nos manter ligados o tempo todo nos aplicativos. A luta atual de Harris é convencer a indústria de hardware e software para celulares a adotar uma espécie de “Juramento Hipocrático”, de forma a não viciar usuários.
Atualmente, a tendência é criar manipulação profunda, em formas cada vez mais sofisticadas. Um exemplo dessa corrida está no caso de um recurso disponível no Snapstreak, aplicativo que exibe quantos dias seguidos dois amigos estão conectados um ao outro, recompensando essa “lealdade” com um emoji. Pesquisa compartilhada com Harris por Emily Weinstein, doutoranda de Harvard, mostra que o Snapstreak está levando adolescentes a tal ponto de dependência que, antes de irem às férias, eles dão aos amigos o seu log-in de informações, pedindo para assumirem seu lugar e não suspenderem a troca de mensagens.
Harris entende que a melhor chance de ter sucesso é fazer com que os usuários se conscientizem sobre as formas com que estão sendo manipulados para, em seguida, criarem uma onda de apoio para exigirem que a tecnologia respeite a privacidade e o fluxo de informações pessoais. Embora a experiência de Harris durante seu trabalho no Google o tenha convencido de que são os usuários que devem exigir mudanças, se os engenheiros e cientistas também se mostrarem reticentes em construir produtos antiéticos, mais difícil ainda será a criação de novas e invasivas tecnologias, sejam em hardware ou software.
Há, sem dúvida, um elemento de hipocrisia presente. Empresas como Google e Facebook oferecem espaços de formação e meditação para os seus empregados, mas, por outro lado, a ênfase na atenção plena e consciência, que se estendeu muito além do mundo da tecnologia, coloca o problema sobre os usuários para exercitarem o seu foco, sem reconhecer que os dispositivos em suas mãos são projetados para matar a sua concentração. É como estimular uma pessoa a ficar saudável através do exercício para, em seguida, oferecer a escolha entre um Big Mac e um Quarteirão quando ela se sentar para uma refeição.
Estar ciente do poder sedutor do software não significa ser imune à sua influência. Harris admite já ter interrompido uma conversa quando apareceu nova mensagem de texto e ele identificou ser de um amigo. Timidamente, ele é capaz de assumir que esse é um exemplo danoso a combater e que, atualmente, ninguém tem controle sobre esse processo. O que cada um pode e deve fazer está em mudar hábitos e reagir, sempre que perceber ser vítima da manipulação muito bem engendrada pela indústria de celulares.
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