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Violência na Política: Cadeirada não rima com Inteligência Emocional…

Entenda como o episódio da “cadeirada” expõe a violência física e verbal na política brasileira, revelando padrões de masculinidade tóxica e falta de inteligência emocional. Descubra como esses comportamentos impactam a democracia e a percepção dos eleitores.

Violência na Política: Cadeirada não rima com Inteligência Emocional...

Violência na Política: Cadeirada não rima com Inteligência Emocional…

No último dia 15 de setembro, o caso da “cadeirada” que ficou famoso e tomou os noticiários e redes sociais aconteceu durante o debate realizado pela TV Cultura com os candidatos à prefeitura da cidade de São Paulo. A cena que viralizou foi Datena arremessando uma cadeira em Pablo Marçal.

Para quem acompanhou ou assistiu as falas que antecederam a “cadeirada” e os debates anteriores, uma coisa fica muito clara: o candidato, Datena, e todos os demais vinham sendo reiteradamente agredidos com calúnias, mentiras e difamações por Marçal.

Marçal acusou Boulos de nunca ter trabalhado, de estar envolvido com drogas e chegou a provocá-lo, quase esfregando uma carteira de trabalho na cara de Boulos, que revidou com um tapa na carteira. Marçal chegou a dizer que Tabata:

“… deixou o pai morrer porque foi para Harvard”.

Contra o atual prefeito, afirmou que Nunes era usuário de cocaína. Acusou Datena de ser estuprador, passando a chamá-lo de Jack, em referência ao serial killer Jack, o Estripador. De fato, isso evidencia o baixíssimo nível a que chegaram os debates, com zero de propostas sobre a futura gestão da maior prefeitura do país.

Antes da cadeirada, Marçal disse para Datena:

“Você é um arregão (sic)… atravessou o debate num outro dia para me bater… você não é homi (sic) nem pra fazer isso.”

Nesse momento, Datena pegou a cadeira onde estava sentado e então avançou em direção a Marçal, que se protegeu com os braços.

Estou detalhando esse episódio para que você possa visualizar a cena, caso não tenha visto, e entender o papel da violência na política e como isso impacta a vida de todos os cidadãos. Especialmente, para também fazer um recorte de gênero sobre a violência.

Cadeirada não rima com inteligência emocional, mas rima com descontrolada, pirada, desgovernada, desenfreada e por aí vai.

Não por acaso, usei as palavras no feminino porque, com certeza, esses seriam os adjetivos usados para descrever uma mulher caso ela tivesse arremessado uma cadeira em alguém que vinha lhe violentando com palavras.

Aliás, o fato de uma mulher se posicionar mais firmemente, falar mais alto ou gritar já é munição suficiente para ser classificada como “louca”. Há até um termo em inglês, gaslighting, que vem de um filme com o mesmo nome, no qual o agressor cria situações para fazer com que a mulher seja reiteradamente chamada e tratada como insana, ao ponto de ela mesma começar a desconfiar da própria sanidade. Essa é uma estratégia típica de violência psicológica.

Já no caso do homem, a violência verbal está, em geral, relacionada à sua masculinidade, virilidade e “honra”. Não por acaso, Marçal chamou Datena para a briga dizendo:

“Você não é homi (sic) para fazer isso”.

Dois dias após a vergonhosa e deplorável “cadeirada” na TV Cultura, os candidatos se enfrentaram novamente em um debate na Rede TV, em que as cadeiras foram parafusadas no chão e seguranças ficaram a postos.

Pablo Marçal seguiu usando o mesmo estilo de ataques aos candidatos e Datena, em uma de suas falas, afirmou:

“Não bato em covarde duas vezes, covarde só apanha uma vez. Me arrependo desse ato, mas muitos juristas já consideraram legítima defesa da honra.”

“Não estou feliz com o que aconteceu, mas desde criança meu pai me ensinou a honrar a minha família e a mim mesmo até a morte. Eu estou disposto a fazer isso, mas também estou disposto a conversar.”

Esse caso da cadeirada serve para entendermos o quanto a violência física, para muitas pessoas, ainda é justificada por uma suposta “defesa da honra”.

Tanto é assim que uma pesquisa da Quaest, realizada após o episódio da cadeirada, revelou um aumento de 2 pontos percentuais para Datena. Ele passou de 8% para 10% nas intenções de votos. Já Marçal sofreu uma queda de 3 pontos percentuais, caindo de 23% para 20%.

Marçal, que vinha crescendo vertiginosamente desde sua aparição como candidato oficial à prefeitura de São Paulo e sendo considerado uma figura disruptiva na política, teve sua imagem fragilizada.

A virilidade é tão relevante para o homem que, pelos mesmos motivos, Marçal sofreu uma queda nas intenções de voto. Isso após aparecer numa ambulância com um aparelho de oxigênio, em decorrência do braço atingido pela cadeirada.

Ora, ele que se apresenta como o macho alfa exemplar, destemido, que enfrenta tubarões, aparecer tão enfraquecido depois de atingido por um homem idoso? Isso não corresponde à figura do herói que seus eleitores estavam projetando.

Um outro fator bastante importante de considerarmos aqui é o fato de banalizarmos e até aceitarmos as violências verbais, morais e psicológicas.

Obviamente, a violência física, conforme o código penal, é considerada a mais grave das violências e as penalidades são superiores, com encarceramento previsto em lei. Todos nós sabemos que a violência física pode levar a sérios e irreversíveis casos de lesões ou até a morte.

Entretanto, é fundamental que nós, enquanto sociedade, discutamos e deixemos de aceitar todos os outros tipos de violência. Isso inclui assédios e importunações, sejam de gênero, raça, classe social, idade e por aí vai.

Parece que, na grande maioria dos casos, em que as violências não físicas vão sendo recorrentes, toleradas e não denunciadas, acabam culminando em violência física.

É importante lembrarmos que agir por impulso e violentamente, como foi o caso de Datena, que arremessou uma cadeira em outra pessoa, é uma atitude primitiva do que os neurocientistas chamam de sequestro da amígdala cerebral.

Segundo o neurocientista, PhD e biólogo, Dr. Fabiano de Abreu Agrela:

“A terminologia sequestro da amígdala pretende identificar que temos uma estrutura antiga no nosso cérebro, a amígdala, sendo que esta é projetada para responder rapidamente a uma ameaça.”

Abreu alerta que, por exemplo:

“Quando enfrentamos uma situação que é interpretada como uma ameaça, o tálamo envia informações sensoriais tanto para a amígdala quanto para o neocórtex. Se a amígdala sentir o perigo, esta toma uma decisão muito rapidamente, em frações de segundo, para iniciar a resposta de luta ou fuga antes que o neocórtex tenha tempo de anulá-la.”

E sobre ameaças primitivas, entendamos que o homem primata estava ameaçado por animais muito mais fortes e ágeis que ele. Vivia no modo luta e fuga para sobreviver na savana e em ambientes inóspitos.

Em pleno século XXI, e vivendo numa selva de pedra como a cidade de São Paulo, era de se imaginar que esses homens, candidatos a um cargo político que precisará de estruturas intelectuais, emocionais e técnicas para governar quase 12 milhões de pessoas, não sejam sequestrados pela amígdala e sigam usando a violência.

Infelizmente, o que se vê é que a masculinidade tóxica e os ataques, sejam eles verbais ou físicos, ganham o cenário, afetam os eleitores e apagam mais uma vez as mulheres que parecem ser as únicas com inteligência emocional e dispostas a discutir e apresentar suas propostas de governo, o que fica em segundo, terceiro ou quarto plano.

Basta ver que uma figura que está na política há muito mais tempo que todos os outros candidatos, como Tabata Amaral, não chega a despontar entre os três candidatos com mais intenções de votos. Com apenas 7% das intenções de votos, Tabata também perdeu 1% depois do episódio da cadeirada. Já a outra candidata mulher aparece com 2% e permaneceu com os mesmos 2%.

Qual a importância desses episódios e análises no cenário nacional?

Eu diria bastante relevante, uma vez que São Paulo é, sem dúvida nenhuma, o exemplo e retrato do comportamento do cidadão brasileiro, seja na política ou fora dela.

Gostou do artigo?

Quer conversar mais sobre o episódio da “cadeirada” e a relação com a masculinidade tóxica? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.

Cris Ferreira
https://soucrisferreira.com.br/

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Cristiane Ferreira é Coach formada pelo IBC – Instituto Brasileiro de Coaching, Professora da Fundação Getúlio Vargas com cadeiras em Liderança, Coaching, Inteligência Emocional, Técnicas de Comunicação e Empreendedorismo, Palestrante, Empresária do setor de Educação desde 1991, Graduada em Letras pela UFMG e Pós-graduada em Linguística Aplicada pela UFMG, MBA em Gestão de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, Formada em Inglês pela University of New Mexico, EUA, Apresentadora do Programa Sou Múltipla, Fundadora da Associação das Mulheres Empreendedoras de Betim, Ex-Presidente da Câmara Estadual da Mulher Empreendedora da Federaminas (2014/2016), Destaque no Empreendedorismo feminino, recebeu vários prêmios entre eles o “Mulheres Notáveis – Troféu Maria Elvira Salles Ferreira” da ACMinas, troféu Mulher Líder, “Medalha Josefina Bento” da Câmara Municipal de Betim, “Mulher Influente” do MG Turismo e o “Mérito Legislativo do Estado de Minas Gerais”, Comenda Amiga da Cultura da Prefeitura Municipal de Betim.
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