Quando criança, criamos uma linha do tempo da vida em que marcamos “prazos” – prazos para terminar a escola, faculdade, casar, ter filhos, netos… Não consideramos os imprevistos – estes são indesejados, impensáveis, excluídos do pensamento infantil. Quando adultos, começamos a entender que na verdade a realidade é o contrário: a vida é repleta de imprevistos: atrasos devido ao trânsito, uma chuva no meio de uma corrida, uma traição amorosa pelo suposto amor da vida, uma paixão aos 65 anos invés dos 20, uma morte repentina. Até podemos dizer que a trajetória de viver inclui mais surpresas do que planos executados. Quantas vezes por dia precisamos nos adaptar, ajustar, adequar e mudar de acordo com acontecimentos inesperados como uma gripe, um assalto, uma gravidez, um pedido de noivado, uma viagem de negócios? Porém, parece que nunca estamos preparados para lidar com estas mudanças em nossas rotas. Mudanças trazem muitas vezes sensações de frustração, estresse, ansiedade e impotência.
Em seu livro “Opção B: Encarando a adversidade, construindo resiliência e encontrando alegria”, a alta executiva do Facebook, Sheryl Sandberg com o ajuda de Adam Grant, professor da Wharton School e PHD em psicologia, relata sua vida após a morte inesperada de seu marido e melhor amigo, Dave Goldberg, durante uma viagem em um resort paradisíaco no México. Sandberg explica através da teoria do psicólogo Martin Seligman, cujos estudos demonstram que as pessoas que conseguem lidar com as dificuldades são as que superam os três “Ps”:
- Personalização – crença de que tudo é sempre sua culpa;
- Prevalência ou contaminação – Percepção de que um acontecimento negativo prevaleça e contamine todas as áreas da vida;
- Permanência – Tendência de achar que tudo o que está acontecendo conosco vai durar para sempre.
Para combater estes pensamentos nocivos e conseguir lidar com adversidades, é muito importante:
- Assumir responsabilidade pelos erros, mas entender que não temos controle de tudo, logo não somos culpados por tudo;
- Perceber que se algo está dando errado, que é algo específico e não afetará todo resto. Você pode estar com dificuldades no trabalho, mas seus relacionamentos não irão desmoronar também;
- Tudo na vida é passageiro – coisas boas e ruins. A tristeza e ansiedade não duram para sempre, assim como a alegria e paixão. Nossas emoções e acontecimentos são efêmeros, e isso faz com que devemos aproveitar todos os minutos da vida.
Entendendo que acontecimentos inesperados irão ocorrer SEMPRE, precisamos encontrar estratégias para nos sentirmos capazes de viver a vida no Plano B, tendo como principal ferramenta o aumento da nossa resiliência. Resiliência é a capacidade de um indivíduo de lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas – choque, estresse etc. – sem entrar em surto psicológico, emocional ou físico, por encontrar soluções estratégicas para enfrentar e superar as adversidades. Estudos demonstram que resiliência pode ser desenvolvida através de relacionamentos positivos e capacidades internas e externas (Bari Walsh, The Science of Resilience, March 23, 2015) assim como cuidando da saúde, focando no positivo, buscando apoio social e não desistindo (The 5 JESSIE SHOLL, Best Ways to Build Resiliency, SEPTEMBER 2011).
Aliado à resiliência, é a autoconfiança. É necessário acreditar em si para não “quebrar” quando os ventos mudarem. Em estudo realizado pela Ohio State University demonstrou que a performance profissional é diretamente influenciada por autoconfiança (Basic and Applied Social Psychology Journal). As chances de sucesso são maiores para os indivíduos que acreditavam em si. A crença de que “sim, sou capaz de lidar com o que vier” é chave para conseguir dar a volta por cima.
E qual será a força que irá impulsionar para o crescimento diante de desafios? A resiliência servirá de escudo e a autoconfiança o chão, a base sólida, mas a nossa motivação será o motor. De acordo com a Teoria de autodeterminação (self-determination theory – SDT), umas das mais recentes, consistentes e reconhecidas teorias da motivação, explica que a maior motivação do ser humano é a autonomia. Ao mesmo tempo em que somos seres sociáveis, necessitando e desejando criar vínculos, nós desejamos ser independentes. Em momentos de adversidades, muitas vezes, prevalece a sensação de dependência – precisamos do outro para cuidar, pois nos sentimos fracos. É claro que nos primeiros dias ou até meses após uma tragédia, por exemplo, iremos e devemos buscar a rede de apoio para o acolhimento, porém aos poucos é importante começar a se erguer de forma autônoma. Assim, nos sentimos empoderados, capazes e motivados para seguir em frente.
Precisamos nos preparar, e preparar nossos clientes/pacientes/coachees, para viverem o “Plano B,” a alternativa inimaginável, o cenário indesejado. Iremos nos deparar com interrupções em nossos planos: términos de relacionamentos, que até um dia antes parecia que duraria para sempre; doenças, perda de emprego, mortes… e novos amores, interesses, trabalhos e oportunidades. Raramente os planos são executados da forma planejada. E sabe o quê? A vida tem mais sabor e cor por isso. Somos dados à oportunidade de crescer, evoluir e nos desenvolver diante de imprevistos. É uma chance de apreciar cada minuto do dia, pois nunca sabemos o que virá no próximo instante.
“Se não temos mais a Opção A, vamos fazer o melhor possível com a Opção B”.
(Sheryl Sandberg)
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