Neste artigo trarei uma reflexão sobre a sombra. Em um congresso do qual participei, o Prof. Roberto Scola apresentou uma visão interessante sobre este tema. Segundo ele, este é um dos arquétipos mais primitivos. Jung diz que a sombra é a cauda do dinossauro. Por quê? Ela dá equilíbrio, dá movimento, pode ser uma arma para defesa e também serve para adestrar. A sombra está louca para vir à tona. Ela é o oposto do ego e as polaridades (bom/mau, certo/errado, amor/ódio, justo/injusto, claro/escuro etc.) têm a mesma força. Em seu artigo, o Prof. Roberto Scola diz que estamos tão preocupados com um dos lados, que esquecemos do outro. A sombra está na mesma proporção do personagem escolhido para escondê-la. É importante que a incluamos, pois só quando aceitamos o que somos, com aquilo de que gostamos e não gostamos, podemos abrir espaço para a mudança.
O interessante é que a sombra é rechaçada de todas as formas, porque não gostamos dela; não a conhecemos e nem queremos conhecer, pois, afinal, isso trará à tona uma parte de nós que desejamos excluir. Mas como excluir algo que nos pertence? A sombra é nosso lado sombrio, caracterizado pelo inferior e pelas qualidades incivilizadas ou animalescas que o ego deseja esconder do outro a qualquer custo. Mostrar esse lado está fora de cogitação. Na sombra estão os desejos reprimidos e que não podem aparecer, para sobreviver. É preciso capturar, olhar e depois controlar.
Em seu artigo, e baseado nos autores Zweig e Abrams, Scola afirma que a sombra se desenvolve desde a infância e isso se inicia quando a pessoa começa a perceber os sinais do ambiente no que diz respeito à forma de agir e se comportar e que faz parte do eu ideal. Ou seja, ela aprende a ser generosa, amigável, mas, na mesma proporção, é egoísta e antipática, e isso começa na família com pais e irmãos.
Em seu artigo, Scola traz uma reflexão de Roberto Bly (apud ZWEIG; ABRAMS, 1991), que coloca que a criança com um ou dois anos de idade tem uma personalidade de 360 graus e nessa idade a energia se irradia por todo o corpo e psique. Podemos observar que uma criança correndo é energia pura. Eu observava isso em minha neta, quando tinha 2 anos. Na medida em que a criança vai crescendo, ela passa a prestar atenção a algumas frases como: “Você parece que tem bicho carpinteiro, não para quieta”. E com isso a criança vai formando, ao mesmo tempo, sua personalidade e sua sombra.
Nesse contexto, e à medida que se cresce, o consciente reprime o inconsciente e não o deixa viver e muitos entrarão em contato com essa sombra que foi construída quando encontrarem o outro.
O que o outro tem que eu também tenho e não percebo como meu? Isso acontece quando rejeito ou condeno uma atitude do outro. A tendência é negar, porque não está consciente. O indivíduo projeta seus comportamentos no outro, de forma involuntária, acreditando que não são seus.
Jung, criador da Psicologia Analítica, diz que a mente designa a personalidade total, isto é, a personalidade como um todo. Ele diz também que a mente tem três níveis que atuam uns sobre os outros: a consciência, o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo.
No que tange à consciência, são as percepções conscientes desenvolvidas pela força de quatro funções básicas: pensamento, sentimento, sensação e intuição. A consciência é onde se localiza o centro da organização consciente da mente, que é o ego, composto pelas recordações dos pensamentos e sentimentos. O inconsciente pessoal é onde estão localizadas as experiências pessoais ligadas ao passado da pessoa, desde o seu nascimento. E o inconsciente coletivo é a parte onde se situa o depósito das experiências coletivas ligadas ao passado da humanidade, em correlação com o processo evolutivo da espécie humana.
Humberto Maturana e Francisco Varella, em seu livro A árvore do conhecimento, trazem a perspectiva de que o homem é um sistema vivo com suas interligações e produto e produtor de si mesmo.
Olhar a sombra é uma forma de lidar com o que temos de mais profundo, nossa essência, e de entender como funcionamos, pensamos, agimos e nos comunicamos.
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